Infiltração - Parte I

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14 de maio de 849 da 10° Era do mundo – Base flor de Osmanthus

Acordei meio tarde. O despertador já estava em seu alarme das oito horas. Levantei da cama meio sonolenta enquanto os flashes do que aconteceu ontem à noite me vinham a mente.

Ontem ouve uma reunião para repassar nossa infiltração. Uma equipe pequena apenas com quatro membros. Eu, Cacio, Clarys e Kaizan, o Celestial que nos recebeu aqui na base quando chegamos.

A festa de aniversário da fundação de Murien duraria o dia todo, o que significa que a segurança estaria bem rígida. Mas poderíamos nos passar desapercebidos desde que não chamemos atenção para nós. E depois que entrarmos na cidade, iremos nos misturar ao povo, e ao cair da noite agiremos.

Andei até o bainheiro que ficava em meu quarto e fui direto para o chuveiro. Depois de um bom banho quente, eu vesti meu uniforme. Uma camisa branca, uma calça de couro preta. Fui até a frente do espelho, que fiava ao lado do guarda-roupa, que por sua vez ficava em frente à cama.

Os olhos prateados quase brancos do meu reflexo me encaravam enquanto eu arrumava meu cabelo branco; acima deles meus cílios pretos e sobrancelha também preta. Arrumei a frente numa franja partida, a parte com mais cabelo para direita, e a parte com menos para esquerda passando-a por trás da orelha. Arrumei a parte de trás do meu cabelo num rabo de cavalo.

"Annie Éareph. Por favor, apresentar-se ao hangar de decolagem 19-C" — ouvi o anuncio soando pelas caixas de som espalhadas pelo corredor. Depois de um longo suspiro, olhei uma última vez para meu reflexo e soltei um leve sorriso para mim mesma. Eu então saí do quarto e fui em direção ao hangar 19-C.

O hangar 19-C ficava próximo a pista de decolagem C-3. Chegando lá, vi nave de guerra e transportadores. Nossa viagem seria realizada por uma nave de carga, ou transportadores – tanto faz como se chama.

Perto de uma nave de carga cinza, que mais parecia uma caixa, estava minha esquipe. Clarys, Cacio e Kaizan. Kaizan não estava com sua armadura, mas sim com roupas normais e sem asas – é estranho vê-lo assim.

— Finalmente decidiu aparecer! — Clarys reclamou ao me ver. — Onde esteve no durante o café da manhã?

— Acabei dormindo demais... — falei enquanto coçava a parte de trás da cabeça.

— Não tem jeito... — ela suspirou. — Você come alguma coisa em Murien. Vamos, entrem — ela disse gesticulando para entrarmos. Depois de tanta espera, finalmente está perto de começar.

——§——

Mesmo dia – Murien

Mais uma vez, e de novo repetidas vezes. Os sonhos que eu tenho com Lilith ficam mais e mais piores a medida que os dias passam. O amor – se é que posso chamar assim agora – está sendo gradualmente substituído pela raiva, dúvida e medo. Esse sonhos não podem ser apenas aleatórios. Sonhos são criados pelo seu subconsciente. Aconteceu algo entre nós no passado. Algo terrível, e eu posso sentir isso com cada fibra de mim. Ela está escondendo algo de mim, e se meus medos estiverem certos, é algo terrível.

— Você ouviu o que eu disse?! — a voz de Amélia me trouxe de volta ao presente. Nós estávamos no pátio do castelo de Murien. Hoje será a festa de aniversário da cidade. Amélia usava uma roupa comum, afinal hoje ela está de folga. Me pergunto se ela também esconde algo de mim...

— Desculpe. Eu estava distraído... o que dizia?

— Você está sempre distraído Adam! Ainda mais de uns dias para cá. Você está bem? — ela perguntou enquanto me encarava com um olhar preocupado. Será que devo contar a ela? Mas antes que eu pudesse respondê-la, o celular dela começou a tocar. — Poxa! Quem será? — ela disse enquanto pegava o celular. — Sim? — ela disse ao atender a chamada. A expressão de dúvida que ela tinha logo desapareceu, e ela ficou levemente irritada. — Desculpe Adam. Fui chamada para fazer a patrulha...

— Eu posso ir com você?

— Hã?! — ela ficou surpresa. — Por quê?

— Quero sair um pouco da aqui... — falei enquanto coçava a parte de trás da cabeça. E eu preciso mesmo sair um pouco, mesmo que seja apenas para acompanha-la na patrulha. Eu ainda não vi Lilith hoje, e quero que continue assim. — E-Eu não posso?

— C-Claro! Vamos então.

— Não vai vestir a armadura? — perguntei após vê-la sem a armadura. Ela usava uma túnica branca e uma calça de couro marrom, além de sua espada presa em seu cinto.

— É apenas uma patrulha, ela não será necessária! Vamos logo antes que me deem outra ordem — ela disse enquanto se levantava do banco que estávamos. Apenas assenti a segui para fora do castelo.

——§——

— Então é assim que Murien está atualmente... — falei depois de passar pelos portões e ver que a cidade continuava funcionando tranquilamente como se nenhuma guerra estivesse acontecendo.

— Não é hora de ficar impressionada Annie! — Clarys reclamou. — Vamos fazer o reconhecimento da cidade e nos encontrar naquela estalagem às 16 horas — ela disse enquanto apontava para estalagem perto de onde estávamos.

Todos acenaram balançando as cabeças e começamos a andar pelas ruas agitadas de Murien. Não se via um único elfo andando nas ruas, apenas humanos. Por isso tive que usar uma túnica com capuz.

Todos da equipe havia trocado de roupa – algo óbvio de se fazer numa missão de infiltração como essa. Entramos em Thelari pelo sul, mais especificamente polo deserto de Warny. Viemos o resto do caminho com um carro que trouxemos na nave.

Depois de andar por um tempo juntos, decidimos nos dividir em duplas. Eu acabei tendo que ir com o Cacio, que aparentava estar muito tenso.

— Você pode relaxar? Está me deixando nervosa também! — reclamei enquanto andava ao lado dele. Cacio usava uma camisa preta e uma calça azul escura.

— Não posso controlar... e se formos pegos?

— Ninguém aqui nos conhece, então sossega e relaxa! — ele assentiu e continuou a andar ao meu lado.

Seguimos pela rua principal, que é cheia de lojas, estalagens e lanchonetes. De repende, um garoto esbarrou em mim. Nos chocamos em sentidos opostos, e ele deixou cair uma caixa. Ele usava uma camisa azul com alguns detalhes em azul escuro e uma calça preta. — Oh! Desculpe por isso — falei enquanto abaixava para ajuda-lo a pegar os itens que caíram da caixa. Em alguns chips de transmissão, muito usados em comunicadores de longa distancia. Meus olhos então se encontraram com os dele por um momento. Cabelos e olhos negros, um rosto jovem, de um garoto de pouco mais de vinte anos. No momento que nossos olhares se encontraram, ele me encarou com espanto e surpresa cravados nos olhos. — Você está bem? — perguntei a ele, que continuava a me encarar.

— A-Ah, sim. Sim! — ele disse depois de me encarar por mais um tempo. Será que ele se apaixonou por mim, ou algo do tipo? — Foi culpa minha... — ele disse dirigindo seu olhar para Cacio. O garoto parecia analisar Cacio. Sim tenho certeza que ele se apaixonou. — Obrigado pela ajuda — ela disse sorrindo gentilmente depois que terminamos de colocar os chips de transmissão de volta na caixa.

Nos levantamos enquanto seus olhos alternavam entre mim e Cacio. Ao lado dele estava uma garota com mais ou menos minha altura, ela estava com uma cara feia de quem não gosta de esperar. Ela usava uma túnica branca e uma calça de couro marrom. Cabelo preto bem curto, rosto fino, olhos verdes. Pele branca que contrasta muito bem com seu cabelo escuro. Uma espada pendia no cinto ao lado esquerdo de seu corpo.

Me curvei levemente para o garoto, que fez o mesmo. Nós então voltamos a seguir nosso caminho como se nada tivesse acontecido. Acabei olhando para trás para ver o garoto uma última vez, e ao fazer isso, o vi fazendo o mesmo. Não pude deixar de corar levemente e me virar para frente novamente.

——§——

— Ei Adam... Aquela garota... você a conhece? — Amélia perguntou com uma sobrancelha erguida.

— Sim... ela é uma... velha amiga.

As Crônicas de Zesrhirya: GuerraWhere stories live. Discover now