Parte 3 - Capítulo 11

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Ofélia vestiu o vestido de festa mais uma vez. Atou o último laço e suspirou. As pernas tremiam-lhe. O baile no castelo da Meia-Noite mal tinha começado e tudo o que queria era correr dali para fora em vez de fazer o que estava prestes a fazer.

Ofélia suspirou e colocou o seu melhor sorriso, treinado com a aia Eva numa das suas primeiras aulas na corte. Impedindo-se de pensar duas vezes sobre o que estava prestes a fazer, dirigiu-se ao duque Luís que acabara de chegar.

"Boa noite senhor, posso saber o seu nome?", perguntou, recebendo o convidado com o tom de voz profissional, acolhedor e melódico que treinara tantas vezes antes, que se tornara agora natural, fingindo não ter estudado já tudo sobre Lorde Luis que esperava desde que ali entrara, e sobre quem sabia já muito mais além do seu nome.

O jovem duque era mais bonito do que antecipara na sua preparação e os seus olhos azuis deixaram fizeram Ofélia vacilar o seu olhar ao voltarem-se na sua direção. O seu rosto sorridente provocou a Ofélia uma pontada de arrependimento precoce.

"Lorde Luís, conde de Areias Quentes", disse o convidado, "e a senhorita?"

"Ofélia. Aia no reino", disse sorrindo, esperando que o tremor na sua voz não tivesse sido notado.

"Uma dança?", perguntou lorde Luís estendendo a mão.

Um peso pareceu sair de cima de Ofélia com o convite. Naquele momento não saberia se conseguiria articular mais uma palavra que fosse, com o peso da sua consciência a esmagá-la. Mas uma dança dar-lhe-ia a oportunidade de recuperar a sua coragem. Ofélia sorriu e aceitou a mão estendida "...enquanto me conta o que o traz cá", conseguiu dizer num gemido.

Ao fim de várias danças com duques diferente e conversas de circunstância com a princesa Eileen e as aias mais novas, Ofélia sentiu os pés doerem-lhe. Observou por um momento as aspirantes a aias como se se observasse a ela mesma há um ano atrás. Apesar da inexperiência, pareciam seguras de si mesmas e Ofélia invejou-as por isso.

"Dá-me a sua mão para uma dança?"

Interrompendo o seu devaneio, Ofélia aceitou a mão de lorde Luís novamente, ainda antes de ter recuperado por completo o folgo. Sinos de vitória tocaram na sua mente, mais altos que a balada que embalava o salão, e, desta vez, nem os olhos azuis e misteriosos do seu par a fizeram vacilar. Ofélia engoliu em seco e enveredou pelo seu plano e por mais uma dança, incapaz de lhe retribuir sorriso desta vez.

Lorde Luís rodopiou Ofélia, uma e outra vez até Ofélia ver o chão girar sob os seus pés, até se esquecer onde estava e se perder numa gargalhada sem fim, como se fosse ela mesmo o vento que redopia nos campos, leve e desprovido de preocupações. Mas no momento em que a música terminou, o feitiço desapareceu, como se nunca tivesse existido. Ofélia pegou no cálice de vinho das Montanhas Lunares e bebeu mais golos do que sabia ser seguro para a clareza da mente. Mas essa era precisamente a sua intenção. Depois, escondendo o tremor das suas mãos, num gesto fatídico, deu a lorde Luís o outro cálice. O cálice onde tinha entornado o pequeno frasco com ervinhas lilases.

Ofélia sentiu uma súbita vontade de vomitar quando os lábios de lorde Luís encontrarem o licor vermelho, os seus olhos transbordando jovialidade e despreocupação. Aquele momento pareceu perlongar-se por infindáveis segundos, como se tudo ocorresse em câmara-lenta, numa espécie de borrão. Contudo, Ofélia não tinha a certeza que isso se devesse à dança ou mesmo ao vinho que bebera. Antes do chão se desfocar por completo, Ofélia viu ao longe, entre a multidão, um par de olhos familiares, franzindo-se e fixando os seus com uma incredulidade condenadora. Mas era tarde de mais para ser impedida. O coração de Ofélia deu um salto ao perceber a alhada em que se metera. Ele tinha-a visto... tinha-a visto. O príncipe Tristan tinha-a visto pôr a poção do amor no copo do duque Luís.

Danças e Poções - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now