Parte 4 - Capítulo 15

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"A madame Rita contou-me que preparaste este baile", disse uma voz feminina e ríspida quando Ofélia descansava um pouco das inúmeras danças e receções de convidados. Quando Ofélia se voltou o seu coração quase saltou ao ver aquele nariz comprido e indesejado. A Rainha Mónica estava ali, mesmo em frente dela. E a falar com ela! Ofélia emudecera. A Rainha... ali, no seu baile. Mas a Rainha não se deteve com a aparente confusão de Ofélia.

A rainha olhou em redor, observando a multidão, "Ouvi dizer que é uma aia que atrai bastantes atenções...Ofélia".

Ofélia seguiu-lhe o olhar e engoliu em seco ao ver que era o príncipe Tristan quem a rainha observava com um sorriso insinuador. O som do seu nome na voz ríspida daquela mulher e o sorriso amarelo deu-lhe um arrepio.

"Não estou tão certa disso, mas gostaria de pensar que sim", disse Ofélia, sem vacilar uma palavra. Sabia que o comportamento do príncipe Tristan e a sua associação a uma simples aia devia desagradar tanto a Rainha como o príncipe Golin, mas Ofélia já tinha decidido que não teria nada mais a ver com isso e por isso não tinha nada a temer.

"É exatamente de uma aia como tu que precisamos no castelo da Meia-Noite", proferiu a Rainha desviando o olhar do seu filho de volta a Ofélia, que a encarava de olhos muito arregalados. "Isso mesmo. Já falai com a Madame Rita que concordou com a tua transferência."

Ofélia tinha perdido as palavras. Permanecia muito estática o que pareceu enervar a Rainha Mónica.

"...terás um quarto na corte, tudo o que desejares", explicou a Rainha num tom ríspido e impaciente. Não estava habituada àqueles modos pouco respeitosos de Ofélia e a última coisa que parecia querer era oferecer a Ofélia o que quer que fosse. Então porque o fazia? Ofélia esperava um sermão, uma humilhação, a sua expulsão. Antecipara o pior. Mas não aquilo. Na verdade, teria preferido qualquer uma das alternativas àquilo.

Ofélia olhou-as horrorizada. "O meu trabalho é aqui... no palácio dos Ventos Uivantes..."

"O palácio vai sobreviver sem ti, querida", respondeu a Rainha com um sorriso que provocou a Ofélia outro arrepio.

Ofélia entrou na carroça real com destino ao castelo da Meia-Noite nessa mesma noite. A sua saída foi fortemente incentivada pela Madame Rita que a dispensou imediatamente. Ofélia suspeitava que Madame Rita temesse que ela fizesse "das suas" e a Rainha Mónica recuperasse a sanidade e mudasse de ideias se Ofélia ficasse mais uma hora que fosse no palácio. Quando a madame Rita se despediu de Ofélia com um enorme sorriso, Ofélia teve a sensação de que ela estava tão orgulhosa por ter uma aia que agradava à Rainha como por ver Ofélia pelas costas.

Ofélia viu o palácio dos Ventos Uivantes a afastar-se e a música tornou-se um eco distante até que o silêncio deu voz às suas preocupações. A escuridão lá fora não ajudou a distraí-la. Ser requisitada para o castelo... para a corte pessoal da Rainha... era o sonho de qualquer aia, mas não o dela.

"A corte é um lugar repudiável porque as pessoas boas vão embora", murmurou para ela mesma, e sem se aperceber, foi na sequência desse pensamento que a imagem de um par de olhos negros e vulneráveis lhe assomou ao pensamento.

Nesse momento a carroça deu um solavanco e Ofélia olhou através da janela procurando a causa, mas não havia nada lá fora a não ser escuridão.

"Não devíamos já ter chegado?", perguntou ao cocheiro, depois de longas horas de viagem noite dentro. O homem não pareceu ouvi-la pois não lhe respondeu. No entanto, a carroça abrandou e parou subitamente. Estava tudo muto silencioso. Anormalmente silencioso. Foi então que a porta se abriu acalmando o coração subitamente acelerado de Ofélia.

Danças e Poções - CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now