Capítulo 19 (fim)

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Ofélia atravessou os portões de ouro e elevou-se da neblina das Nuvens Altas. "Golin não pode ser assim tão mau rei", disse para si mesma, engolindo em seco. Tentava convencer-se que quando tinha tomado a decisão certa.

Subiu cada um dos degraus de ouro da escadaria que a levou até ao salão. À sua volta, enormes colunatas e troncos de árvores perdiam-se nas Nuvens Altas. Ofélia susteve a respiração e olhou para cima. Através do folhedo as nuvens adensaram-se anunciando o início da noite e das Primeiras Chuvas.

Ofélia elevou o rosto para o céu e gotas de água caíram sobre ela, frias e refrescantes. O cheiro a terra molhada fê-la inspirar profundamente. "Gotas. Milhares de gotas!", sussurrou olhando em redor com um sorriso.

Ofélia sabia que em cada uma havia uma família.

O rei Golin encontrava-se no Trono de Pó Celeste, ao lado do príncipe Golin e da princesa Eileen. Golin Sorria.

O estômago de Ofélia contorceu-se.

Por aquela altura tinha imaginado que todos os presentes, nos milhares de gotas, já soubessem que não seria o verdadeiro herdeiro a assumir o trono. Golin tinha sido anunciado como futuro rei por lorde Eduardo.

"Traidor".

Os punhos de Ofélia fecharam-se com a lembrança.

A luz do luar iluminou a neblina e as gotas cintilaram. A música de uma harpa deu início à cerimónia.

"Hoje estamos aqui todos reunidos para recebermos o novo rei. O meu sucessor", anunciou a voz trovejante do rei. Apesar de pálido, emagrecido e velho, a sua voz ainda tinha o mesmo vigor e todas as gotas pararam suspensas no ar para o ouvir e o bailado ao luar foi interrompido.

"Ei, Ofélia", sussurrou uma voz vinda de trás. Ofélia voltou-se. Era o lorde Tomás. Ofélia aceitou a sua mão estendida para uma dança. Tomás passou-lhe o frasco secreto sem que ninguém o percebesse e dançaram por entre as gotas suspensas e os outros cortesãos, "o pó cor-de-rosa do Arco-íris do Reino da Cor", sussurrou-lhe o lorde.

"Todos os anos assistira às Primeiras Chuvas da minha pequena gota desejando pertencer à corte...", disse Ofélia, "agora apenas desejava estar na minha gota".

"Não há nada que possamos faze Ofélia", sussurrou lorde Gonçalo, "ainda podes voltar à tua gota".

"Não posso", sussurrou, "todos morreram. A peste levou-os a todos".

Lorde Tomás estacou. Observou Ofélia desaparecer entre a multidão incapaz de dizer o que quer que fosse.

*

"O raio do sol da madrugada, depois de uma noite de luar", a voz de Gonçalo fez Ofélia estacar. O duque aparecera entre a multidão. Estendeu-lhe o frasquinho cintilante.

"Obrigada", disse-lhe Ofélia, agarrando o frasco sem tempo a perder. O rei terminava o seu discurso e não tardaria Golin seria proclamado rei.

Ofélia ofereceu-lhe um sorriso de agradecimento e desapareceu entre a multidão como os dois frasquinhos.

"Obrigada por me teres mostrado o amanhecer. Não o teria visto se não fosses tu. Não realmente."

Ofélia já tinha desaparecido entre a multidão.

Onde está ela? Ofélia olhou em redor. A gota que procurava não devia estar longe.

Ali! Ofélia correu na direção da pequena gota, igual aos milhares de outras gotas que a circundavam, bebeu uma gota da Poção de Transporte Rápido e atravessou-a.

Danças e Poções - CONCLUÍDAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt