Capítulo 14

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"É um bocado tarde demais para te lembrares disso, não achas? Nunca quiseste saber das tuas responsabilidades", rugiu o príncipe Golin, "porquê agora? O que andam tu e aquela aia a tramar? Nada de bom..."

"Ofélia não tem nada a ver com o meu comportamento. Além disso, o que importa a razão? Tudo o que interessa é fingir, certo? Tudo nesta corte é uma farsa", disse desinteressado, indiferente ao tom ameaçador do príncipe Golin, "...no entanto, acho que não sou muito bom nisso...", disse encolhendo os ombros, "a fingir... Não tão bom como tu".

"Isto não é uma brincadeira, Tristan. Não podes acordar um dia e decidir ser o príncipe e no dia seguinte decidir agires como uma criança mimada..."

Ofélia sentiu o seu estômago contorcer-se.

"Há apenas uma criança mimada nesta família, e certamente não sou eu. Sempre foste tu o preferido do pai. Além disso, tal como disse, fingir não me assenta tão bem como a ti, e talvez tenha tomado o gosto pela vida na corte mais do que pensava", disse Tristan encolhendo os ombros.

"Chega! Tu és o herdeiro", rugiu Golin com desdém, colocando-se em frente a Tristan, "mas nunca serás um verdadeiro rei. Não dessa forma."

"Não, nunca serei um rei. Não, se puder sair desta fantochada de corte, sairei".

"Tu és a fantochada, Tristan", atirou Golin.

"Pelo menos não finjo ser outra coisa"

"O pai nunca permitirá que saias"

"Talvez eu escape...", disse príncipe Tristan afastando-se com passos lentos e descontraídos que enfureceram ainda mais o irmão, "talvez já tenha escapado", atirou, ignorando os punhos cerrados de Golin.

O coração de Ofélia saltou uma batida. Tristan referia-se à Poção de Transporte Rápido. Era a sua saída. O seu bilhete para fugir à corte. O coração de Ofélia parou. E á corte. Não fora o Rei o Golin que o destronaram como todos pensavam. Não, fora ele próprio.

E Ofélia, Ofélia seria a responsável por permitir que o herdeiro do trono fugisse às suas obrigações na corte. O chão fugiu-lhe de baixo dos pés e sentiu uma tontura. O príncipe Tristan era mais parecido com a corte do que julgava, porque fingia tão bem como qualquer um deles, na verdade, Ofélia fora o fantoche perfeito para o seu plano. Ofélia correu para a saída, sem saber o que pensar sobre tudo aquilo. Apenas queria sair dali, afastar-se o mais possível daquele sítio, do príncipe e do seu coração galopante.

"Ofélia", duas mãos agarraram os seus ombros e o seu corpo embateu contra um abdómen firme que a obrigou a olhar para cima.

"O que fazes aqui?", perguntou-lhe o príncipe Tristan de sobrancelhas franzidas, observando-a com os olhos penetrantes e questionadores que deixavam Ofélia nervosa. Ofélia observou os músculos dos seus maxilares contraírem-se à medida que cerrava os lábios numa linha fina.

"Er... tens razão, não devia estar aqui...", disse Ofélia tentando passar através dele. "Não devia ter vindo aqui...",

"Espera", reteve-a Tristan, "Tens a poção para esta noite?"

Ofélia encarou-o, "Não. Não tenho mais poção", atirou num rugido, "Já podes parar de fingir que estás apaixonado por mim ou que há uma estúpida poção do amor. Não tenho mais poção para te dar em troca."

O príncipe Tristan vacilou o seu aperto no braço de Ofélia, tomado de surpresa por aquela confissão. Observou Ofélia com olhar confuso. Ofélia nem sequer parecia lamentar não ter a poção, na verdade, parecia bastante conformada com o fim do acordo e das suas aspirações a criadora de poções.

Danças e Poções - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora