Capítulo 26 - Jaula

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Julie está com o nariz encostado na janela do carro, observando atentamente qualquer movimento, mesmo sabendo da invisibilidade de Félix e Martim. A captura de Daniel os deixou em choque. Foi Bia quem teve a ideia de procurar o endereço do professor. Era um chute, mas quem sabe, ele poderia estar em casa. Teriam que invadir a escola num domingo, empreitada e tanto. Parando ali perto, Alan, Bia e Julie permanecem em seus lugares, esperando os dois fantasmas com a informação.

- Martim derrubou uma lixeira, acreditam? – Félix se joga no assento da frente.

- Então, conseguiram? – Julie pula do seu lugar.

- Foi bem fácil, eu diria. – Martim se ajeita no banco. A garota não dá muita bola para as gracinhas.

- Onde é? – Félix entrega o papel em que anotara a informação para Julie.

- Tudo bem, vamos logo. – Passa o papel para Alan.

- Não, Julie, a gente vai. – Félix estava irredutível.

- Sei que vocês querem buscar o Daniel, mas é bom vocês irem para casa. – Alan acrescenta – O dia foi longo e eu prometi deixar vocês antes de uma da manhã.

- Pode ser perigoso também – Martim põe as mãos nos ombros da amiga, mostrando que aquela tarefa não seria fácil para nenhum dos envolvidos.

- E se acontecer alguma coisa com vocês? – Bia preocupa-se.

- Vamos tomar cuidado. – Félix a tranquiliza.

- Eu posso ir com eles. – Alan se voluntaria, porém, os dois fantasmas se entreolham, como se não pretendessem que isso ocorresse.

- Não, você também não. – Félix pede compreensão, Alan percebe que não adiantaria, afinal não é o momento para mais conflitos.

- Se demorarem demais, eu vou.

...

Uma casa simples, pelo menos na parte de fora. A parte interna é uma bagunça. De cômodo em cômodo procuram o amigo. O baixista fica na ponta dos pés para evitar barulhos, coisa que Félix acha uma idiotice, os sapatos de Martim nem tem solidez, significando zero estardalhaço. Para surpresa deles, quem encontram é Demétrius, numa espécie de jaula para espectros, de forma cilíndrica e com barras florescentes. E mais improvável, ele implora para ser liberto.

- Se me dissessem que encontraríamos ele assim, eu diria que seria loucura. – Félix arregala os olhos para o amigo.

Seu histórico com o contratante de almas justifica a incredulidade em suas palavras. Em outro canto, uma jaula adicional. Nesse estado Martim se pergunta o que mais poderia encontrar se aquela casa fosse maior. Bem em sua frente Débora choraminga, como quando derramaram suco de uva na sua blusa branca na festa da escola. Primeiro eles estranham, em seguida se compadecem. Ela indica qual botão a soltaria.

Sentindo formigamentos tomarem conta dos seus corpos, os dois insólitos se veem minutos depois presos na mesma jaula que o amigo pelo qual procuravam. Haviam mordido a isca. Enganado e irritado, o baixista esbraveja.

- Débora!

- Não acredito que fez isso com a gente. – Félix se sente um bobo.

- Desculpem, eu odeio ficar presa. Eu fico estressada, não tem jeito. – Aumentando seu tom de voz, chama por alguém - Já pode me tirar daqui, Doutor.

- Acho que não será possível. Sinto muito, preciso de todos. – O professor aparece, os olhando sinistramente.

- Você prometeu. – Bate os pés com força, como uma criança exigindo seu doce.

UNSEENWhere stories live. Discover now