Capítulo 15 - A volta

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Na ativa novamente, a Insólitos retorna às suas rotinas de ensaios. Uma apresentação aqui e ali em alguma festa acontecem. Agora, com um público maior eles conseguem mais shows na Kripta.

Daniel e Julie estão numa fase de estranhamento, mas seus afazeres deixavam eles ocupados o suficiente para não lembrarem. Algumas vezes um olha para o outro quando está distraído. Não poderiam dizer o que esperavam, nem o que sentiam. Talvez fosse só uma bobagem. E haviam outros assuntos para se preocuparem.

...

Félix e Julie jogam ping pong numa mesa improvisada. Estão ali na última meia hora, depois que o pai saiu para fazer uma compras e a garota realmente estava entediada.

- Sabia que eu já ganhei um campeonato? – Félix conta.

-Serio? – Julie para por um instante, absorvendo essa novidade.

- Sim. Mas foi muita sorte, só tinham três pessoas competindo e o último cara desistiu porque ficou com dor de barriga. Fiquei em segundo lugar.- A garota tenta não rir, Félix porém cai na gargalhada e os dois riem juntos.

- A gente quase não faz nada juntos. – A garota comenta entre um movimento e outro.

- Ah, da última vez nós tivemos que levar o Jimmy pra tomar vacina. – Félix consegue pegar um lance difícil.

- Ei, eu ouvi aqueles álbuns da lynyrd skynyrd. Eu adorei I need you. – Julie não consegue pegar a bola que Félix lança. Ele vibra.

- É uma das minhas favoritas. Infelizmente nunca pude ouvir uma versão ao vivo.

- Deveria ser eletrizante ao vivo – Pensa com a raquete nas mãos.

Nesse momento Bia aparece na garagem.

- Eu achei uma coisa ontem na biblioteca da escola. Você pode me explicar? – Julie para e observa o que tem nas mãos da amiga. Não queria falar daquilo, mas não teria outro jeito. Era uma matéria do jornal da escola onde Julie e Thalita aparecem abraçadas, e no título está escrito: Melhores Amigas. A cantora puxa a amiga para o quarto, pois não queria que os garotos soubessem da história, não tem nenhum orgulho do que fez. Félix, ainda que curioso, não se mete na conversa.

- A gente continua outra hora, Félix. – Julie grita, se encaminhando para o outro cômodo com a amiga.

Era aquela velha história da garota nova na escola que quer fazer amigos. Elas eram da mesma sala na época, e como não conhecia ninguém, se submeteu às condições de Thalita. Ela deveria pegar o bem mais precioso da garota que vivia escrevendo em um caderno rosa. Mas pegar o caderno não seria fácil, teria que fazer quando não houvesse ninguém em sala, e foi o que fez. O objeto passou pelas mãos de todas as crianças, que descobriram os segredos da menina, e a caçoaram por isto. Foi então que Julie percebeu que Thalita não era uma boa pessoa. Mesmo depois de devolver, se sentiu mal com tudo que ocorreu. Tentou até fazer amizade com a garota do caderno, mas quando ela descobriu que Julie foi responsável pela sua infelicidade, se afastou dela.

- Nossa, que papelzão. Bom, agora a gente sabe que essa aura ruim da Thalita vem desde a infância.

- É, mas eu também não fui a melhor das pessoas. – A garota levanta os ombros e abaixa seu rosto.

- Pelo menos você se arrependeu. Duvido que ela tenha sentido o mesmo. E a história das amigas? – Bia semicerra os olhos.

- Uma foto tirada no corredor do colégio, quando eu ainda achava que ser amiga dela seria o máximo.

O pai de Julie bate na porta, e avisa em seguida.

- Trouxe as compras, preciso que me ajude a trazer tudo e arrumar. Ah, com a correria, esqueci de dizer, seu irmão tá vindo hoje. – Repara as horas no relógio.

-Que legal. – Mexe em sua pulseira sem prestar dar muita importância para aquela informação - Ele vai passar quanto tempo?

-Ele vai morar com a gente - Ok ela não esperava por isso, ficou olhando um tempo em silêncio para o pai, em acreditar. A mãe vai voltar com as viagens, ela sabia. Na verdade, até que demorou pra acontecer.

- O senhor joga a bomba e vai embora? Ela vai viajar de novo, não é? – Levanta correndo, alcançando seu pai antes que saia do quarto.

- É o trabalho dela, filha. Você precisa ser gentil com seu irmão, tudo bem? Ele vai precisar, apesar de não admitir que está triste.

...

Julie chama os fantasmas e amiga para um comunicado importante.

-Reunião de emergência! Meu irmão vai morar com a gente. Precisamos tomar cuidado pra vocês nãos serem descobertos. Cadê o Daniel?

- Numa daquelas voltas - Félix responde se jogando no sofá.

- Ah, sei – Julie parece um pouco sem jeito.

-Podemos dar um jeito, até hoje seu pai não sabe da gente. – Martim sorri como se tivesse feito algo extraordinário.

-Isso porque eu disse que seus pais são muito rigorosos e vocês só aparecem no horário de ensaio. Mas o Pedrinho é muito esperto.

-Não sei, aquela ideia dos peixes era absurda. – Félix levanta as sobrancelhas e arregala os olhos.

-Alô. Cheguei para ficar! Julie, mamãe disse que quer te dar um oi. – Pedrinho fala alto enquanto entra na casa com suas malas e uma mochila nas costas.

-Fala pra ela que tô ocupada. – Grita de volta

-Mas... – Ele suspira, sabia que a irmã não cederia fácil. Foi deixar suas coisas na sala e dar um último abraço na mãe. Estava triste, mas sabia da importância do trabalho da mãe. Ele já sabia que ela voltaria às viagens, mas decidiu ficar com ela o tempo que fosse. Ele mesmo insistiu para isso.

Martim e Félix veem o menino se despedir da mãe, seu semblante tristonho é visível. Félix chama Jimmy para consolá-lo. Julie, vê que o menino precisa se distrair, então, o chama para uma tarde de maratona de filmes, qualquer um que ele quisesse. Na sala, Martim, Félix, Bia, Julie e Pedrinho ficam animados, os três passam uma tarde bem agradável. Tudo bem que o garoto percebeu Bia gesticulando com o ar, e sentiu um tapa no cabelo, que ele sabia não ser a Julie porque ela estava do outro lado do sofá. Teve uma hora que ele jurou que o balde de pipoca havia se mexido sozinho.

Fora essas coisas estranhas, ele se sentiu bem acolhido.

UNSEENWhere stories live. Discover now