Capítulo 3 - A Melhor Amiga

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Narrador

Julie e os fantasmas se dão muito bem, passando muito tempo tocando várias músicas, descobrindo seus gostos musicais em comum, e claro aqueles que não eram compatíveis. A descoberta dessa nova amizade fez Julie ficar um tanto alheia a outros assuntos da sua vida. Entre eles, sua amiga Bia.

Bia é fascinada pelos vários tipos de arte: escultura, desenho, pintura, desenho e claro, música. Desde que havia sido aberta uma vaga de uma espécie de estágio numa das galerias mais conhecidas da cidade - administrada pela Cindy Dias, grande artista-, ela ficou animada. Preparou seu portfólio e suas referências. Decidiu não contar para Julie, só quando tivesse a boa notícia.

Certo dia, porém, estava decidida a contar, era quase certo que conseguiria, afinal, confiava no seu taco.

- Julie...

- Eu não acredito que esqueci de fazer esse trabalho idiota! O que eu fiz ficou uma porcaria, pouco tempo. Espero não ficar mal nesse bimestre. Você fez não, é?

- Sim, há mais de uma semana. Eu te falei pra fazer logo, e também te disse do prazo. Você tá muito distraída.

- Eu tô ocupada, sabe, ensaiando pro festival.

- Não adianta muito pegar esses pontos e sair mal no resto, sabia?

- Você incentivou a me inscrever, não lembra? Preciso estar bem pro dia.

- Claro – Bia suspira, impaciente. Sua amiga não percebe. – Aliás, Julie...

- Caramba, eu tenho que ir logo, papai vai me matar se eu não der comida pros peixes e pro Jimmy. – Saiu correndo.

- Sem problema, eu posso continuar falando sozinha – Sabendo que a amiga não ouviria mais nada.

...

Bia em casa organizava seu armário.

- Caramba, tem muita coisa que não serve mais. E como foi que eu deixei tanto papel se acumular nessas gavetas? – Cruzou os braços observando cada canto do seu móvel. Após um minuto de silêncio, seu telefone toca. Ela se joga em cima da cama para pegá-lo e atende.

- Alô? Sim, é ela. Eu consegui? Mesmo? – Coloca a mão no microfone do celular e dá um grito mudo, seguido de um pulo. – Sim, posso começar essa semana! Ok, até quarta!

É, a garota conseguiu. Seu taco era dos bons.

- Agora, preciso ver uma roupa para começar. Será que tenho que ser mais formal? Alguém vai ficar muito ocupada.

...

Beatriz chega na frente galeria. É tão linda, a arquitetura faz uma bela apresentação, mas ela sabe que o melhor está no interior. Abre a porta devagar, apreciando a vista. São dois andares. Vê nas paredes vários quadros, algumas estantes com esculturas, gosta da escada na lateral esquerda que faz uma curva, as luminárias nos cantos, o lustre no meio. As outras salas estão mais dentro, está louca para ter acesso a tudo.

- Olá, querida. – Saúda uma mulher de uns quarenta e poucos anos. Cabelos castanhos, com algumas mechas brancas na têmpora direita. Usa óculos e usa um vestido floral.

- Dona Cindy, meu nome é Bia. Sou sua nova estagiária.

- Pode me chamar de Cindy. Eu adorei o seu trabalho. – A garota fica feliz ao ouvir essas palavras.

- Eu sou grande admiradora do seu.

- Acredito que vamos nos dar muito bem. Venha, temos muito que conversar – As duas sentam no sofá perto da janela de vidro e iniciam trabalho.

...

É a hora dos ensaios habituais da tarde na casa da Julie. Bia queria pegar de volta uma bota que emprestou para a amiga. Na porta da casa, antes de tocar a campainha, ouve um som vindo dos fundos. Depois de se perguntar o que seria aquilo, alerta que chegou.

- Melhor atender, pode ser importante – Sugere Félix, ao ouvir a campainha.

Ao atender a porta, Julie é surpreendida com a pergunta de Bia.

- Tá certo, o que você tá fazendo?

- Ah, cantando, ora.

- Hum, e tocando baixo, guitarra e bateria ao mesmo tempo?

- Sou multi-instrumentista? – Julie dá um sorriso sem graça.

- Sério mesmo? Olha eu tô cansada disso! Você fica guardando segredos, não presta atenção em nada. Tô sendo amiga por duas. Me conta, quem são eles?

- São fantasmas? – Julie tenta se explicar.

- De novo essa história, meu deus! Quando decidir olhar pra algo além do seu umbigo, nós voltamos a nos falar.

- Bia!

- Ah, eu agora sou estagiária da Cindy Dias, não é legal? Eu te contaria mais, mas acho que você não liga!

- Não é verdade – Sua voz era lamentosa.

- Leva minha bota amanhã na aula, se não te atrapalhar! – Bia deu as costas, caminhando a passos irritados.

...

- Estamos te esperando – Daniel se apoia no batente da porta, olhando pra Julie na escada. Ela está com Jimmy nas pernas, fazendo carinho.

- Que tipo de amiga eu sou? Fiquei tão imersa nos meus assuntos. – Olha para Jimmy com tristeza. O guitarrista se compadeceu.

- Julie, vou te dizer uma coisa. Talvez a única verdade que eu saiba. Amigos brigam, grandes amigos fazem as pazes.

- O que eu faço? Ela não acredita em mim.

- Mostre a banda.

...

- Eu só tô aqui porque quero levar minha bota hoje. – Beatriz disse logo que Julie abriu a porta, depois de várias mensagens da amiga dizendo que precisava falar com ela.

- Vou te mostrar uma coisa – Foi puxando a amiga até a edícula.

- Incrível, vejo vários fantasmas – Fala debochando ao entrar no cômodo, aparentemente vazio.

- Senta aí – Orienta a garota, se acomodando ao seu lado em seguida. Uma guitarra aparece solando, como se alguém invisível a tocasse. Um baixo e uma bateria também surgem. Bia fica boquiaberta ao olhar para o cenário à sua frente. Julie se diverte. Então, os meninos se tornam visíveis. Julie pega um microfone, e vai junto deles.

- Bia, tem uma coisa que eu escrevi, bem, faz um tempinho já. Os meninos tinham uma melodia e como acharam legal decidiram usar a letra. Essa música é pra você.

O sol não é o mesmo sol

Sei lá tudo ficou assim

Tão sem cor

Nem o calor do sol é

Aquele que eu e você

Sentíamos em nós

Quem foi que parou de falar

Quem foi que já falou demais

Ou foi só um jeito de sentir saudade

A música termina, Julie e Bia se abraçam.

- Sinto muito por não ter sido a melhor das amigas. Eu fico feliz, não sabe o quanto, por você conseguir o estágio. Ah, aqui. Sua bota – Julie entrega o objeto para amiga e todos ali sorriem.

...

Alguém observa a casa de Julie

UNSEENWhere stories live. Discover now