Capítulo 11 - Investigação

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Reunidos na Edícula, os fantasmas ouvem o que a viva lhes diz do ocorrido na festa de aniversário.

- O Nicolas todo cheio de bolo? Não acredito que perdi essa. Sabia que deveria ter ido. – É a primeira fala do fantasma.

- Não brinca com isso Daniel! Demétrius tava lá, eu não sei o que era aquilo, mas alguma coisa ele tava fazendo.

- É um desperdício de comida – Martim encolhe os ombros.

- Gente, sério! – Félix chamou a atenção.

- Devia ter nos contado que ele já tinha ido atrás de você. – As palavras do cacheado passaram de gracejos para preocupação.

- E vocês iam fazer o que? Ser presos em alguma outra coisa? – Os três ficam cabisbaixos

- Pode não ter sido nada, sabe, eles fazem isso de amedrontar. Ninguém ali passou mal, não é? – Felix tenta esclarecer.

- Não pude verificar, sai morrendo de vergonha. Mas acho que não

- Olha, não se preocupa com isso agora. – O guitarrista pula do sofá.

- Não me preocupar? Eu já estou preocupada!

- Confia na gente. – Daniel fala chamando a atenção dos outros dois fantasmas que entendem, estala os dedos e os três somem.

- Você vão... pra onde? – A garota fala, sem ninguém para escutá-la – Ah, claro, sumir é a resposta pra tudo.

...

- É o seguinte, nós vamos atrás de informação. Saber se ele tem algum aliado ou alguma fraqueza.

- Tá falando de ter contato com o mundo espectral? – Félix coça a nuca.

- Bem, pra ser sincero, já tive contatos com outros fantasmas. – Martim dá de ombros

- Não conversa casual. É uma investigação. – O cacheado pontua.

- Mas pode rolar algo casual? – Martim levanta a sobrancelha.

- Contanto que não estrague a busca – Daniel salienta.

Pelas ruas da cidade, três fantasmas fazem seu caminho. No meio temos Daniel, em vestimentas pretas, a blusa de veludo vermelha destacada, cabelos cacheados e loiros, rosto pálido, bochechas fofas fazendo contraste com seu olhar sério e firme. Do seu lado esquerdo temos Félix, com suas calças roxas, a blusa estampada com um colete por cima, os cabelos armados de um jeito que com certeza é obra de laquê, o rosto também pálido, as sobrancelhas demonstrando seriedade, porém nada de antipatia. Do outro lado, Martim anda apressado, com o olhar naturalmente sedutor, os cabelos alinhados, a camisa prateada brilhando, se pudesse ser visto levantaria suspiros.

Uma música os acompanha, vinda de um carro estacionado:

Whether you're a brother or whether you're a mother

You're stayin' alive, stayin' alive

Feel the city breakin' and everybody shakin'

And you're stayin' alive, stayin' alive

Ah, ah, ah, ah, stayin' alive, stayin' alive

Ah, ah, ah, ah, stayin' alive *

- Eles ainda tocam essa música? – É Martim quem fala.

- É, tem coisas que são atemporais. Por exemplo, o seu cabelo. – Daniel graceja.

Os garotos chegam no point dos fantasmas: Blue Night. Acreditam que lá é onde podem conseguir o que procuram. É um tipo de boate, não é enorme, também não é pequeno. Tem um bar, mesas, um palco, uma pista de dança. É escuro, com luzes neon que variam entre verde e azul.

- Vamos no bar, esses caras ouvem muita coisa. – O cacheado fala para os garotos, sinalizando para que o sigam.

- Nós vamos querer três copos de ectoplasma. – O líder deles anuncia. O barman os atende com ar de poucos amigos. Pega três copos, enche numa torneirinha e coloca em cima do balcão, fazendo barulho.

- U-hum – Daniel pigarreia chamando a atenção do barman, olha de canto para verificar se alguém presta atenção. Se apoia no balcão, chegando perto do fantasma. – O que você sabe sobre o Demétrius?

Nessa hora, o fantasma faz uma cara de desacreditado, porém, se recompõe

- Não sei de nada. E se soubesse não contaria.

- Vai ser difícil tirar algo dele – Felix diz baixinho. Daniel se vira para os dois,

- Calma, eu só preciso de um momento. Vocês, vejam o que conseguem com os outros.

- Quero ver o que vai sair daí – Martim joga a cabeça para o lado.

Escolhendo entre as caras emburradas, tristes, alegres, os fantasmas têm um bom público para abordar. Mas antes que decidam, algo ocorre.

- Félix, Martim! – Os dois fantasmas ouviram a voz que os chamava e reconheceram de quem era. Pela cara de desgosto que fizeram, não foi a melhor das notícias

- Débora – Falaram juntos, sorrindo sem graça para a garota

- O que vocês estão fazendo aqui? Não vejo vocês, faz quanto tempo?

- Desde a escola? – Martim fala primeiro.

- Estamos só dando uma volta por aí. – Félix cruza os braços.

- Eu ouvi vocês falarem alguma coisa sobre o Demétrius? – Ela abre um sorriso sapeca.

- O que? Não. - Félix tenta desconversar.

- Ele é muito comentado. Aliás, eu sei umas coisas sobre ele. Babados. – Os meninos olham para si intrigados. Eles a instigam para saberem do que se trata.

- Bem, na verdade nunca vi ele de perto. Um amigo de uma amiga de um amigo que saía com a prima de um dos aliados antigos dele que comentou. Nós nos conhecemos num boliche de fantasmas, que aliás, é muito legal, vocês deveriam vir comigo qualquer dia desses.

- Débora! – Falam em uníssono.

- Que foi? Tá certo. Bem, dizem as línguas mortas que ele tá fraco, por isso tem aparecido tão pouco. Não pode nem desaparecer direito, o coitado. Sabe, esse negócio de tirar almas vicia e deixa os fantasmas fracos.

- É mesmo? – Martim fala olhando animado para Félix.

- Sim, os caras não dosam o que fazem. Que nem aquela menina que usava tudo com estampa de bolinha. Brega, argh.

- Então, ele está tipo, viciado em almas? – Félix conclui.

- É, não é doideira?

- E como. – Martim cruza os braços.

-Bom, falei demais. Nem deveria tá dizendo, vai que meto o cara que me falou em problemas. Foi bom ver vocês de novo. Nos encontramos por aí – A fantasma se despede sumindo por entre outros.

Os meninos percebem que conseguiram algo importante, e vendo o amigo olhando tediosamente para o barman, vão ao encontro dele para resgatá-lo.

- Daniel, precisamos te contar uma coisa. – Félix comunica o amigo num tom urgente.

- É muito importante. – Enfatiza Martim. Daniel segue os dois e por fim, desabafa.

- Ainda bem que me tiraram de lá, eu já tava ouvindo todos os problemas de morte do cara, mas sobre o Demétrius, nada.

Stayin' Alive – Bee Gees*

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