Capítulo Dois

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Victor Decker:

Levamos a moça para um lugar seguro, um refúgio escondido nas entranhas da cidade. O terror ainda queimava em seus olhos, sua angústia palpável como uma tempestade que teimava em não cessar. Meu coração apertou diante de sua aflição, pois ela havia testemunhado algo que parecia mais um devaneio fora deste mundo, algo que a minha mente também não seria capaz de compreender completamente.

A cena me fez reviver momentos sombrios de meu próprio passado, quando as fronteiras entre realidade e fantasia eram turvas e confusas.

— Ela vai se recuperar, foi apenas um choque — disse Caleb, sua voz ecoando atrás de mim. Sua expressão carregava uma mistura de preocupação e confusão. — Não entendo por que ela está tão abalada, posso perceber que ela é uma mestiça.

Virei-me na direção dele, um misto de confusão e irritação tomando conta de mim. Ele apontou sutilmente com o queixo em direção à garota, e me forcei a olhar mais atentamente. Diante dos meus olhos, o brilho mágico que a envolvia desapareceu instantaneamente, revelando feições mais delicadas e orelhas pontiagudas.

— Ela está acostumada com coisas relacionadas à magia — explicou Caleb enquanto lançava um feitiço de glamour sobre a garota, fazendo com que ela fechasse os olhos. — Já fizemos tudo o que podíamos por ela, melhor seguirmos em frente.

Eu me senti incrédulo diante de suas palavras. Não era certo deixar alguém em um estado tão vulnerável sozinho em um lugar tão sombrio.

— Precisamos esperar. Ela não pode ficar aqui sozinha — argumentei. Minha voz implorava em silêncio. — Por favor... Apenas algumas horas, até que o glamour se dissipe e ela recupere o suficiente para voltar para casa.

Caleb me encarou, mas não contestou. Em vez disso, ele concordou em fazer uma ronda pelo local e me disse que poderia tirar um breve cochilo. À medida que ele se afastava, eu me encostei no chão frio e tentei encontrar algum conforto para descansar, sabendo que não podíamos deixar a jovem desamparada.

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No sonho, mergulhei profundamente na minha nostalgia, revivendo por alguns preciosos segundos as cenas da minha antiga vida. Lá estava Zack, brincando alegremente com seus brinquedos na sala, enquanto meus pais riam e se divertiam na cozinha, preparando o almoço. Até mesmo Brian, aquele eterno idiota, estava presente. Mark e Blue também estavam lá, compartilhando risadas banais e conversando sobre assuntos triviais. Era um vislumbre reconfortante do passado.

Mas, de repente, tudo desapareceu, engolido pela escuridão que se espalhou pelo meu sonho. Uma risada sinistra ecoou de todas as direções, enviando arrepios pela minha espinha.

— Vou destruir tudo o que você amou e teve ao seu lado — a voz de Ambres ressoou, emergindo de cada sombra. — Você deve temer as minhas sombras.

Frustrado, gritei para o vazio:

— Saia dos meus sonhos! Você está morto, não me assusta mais!

Mas Ambres parecia não me ouvir, continuando com seu discurso sombrio:

— No final, só restarão as sombras do meu reinado neste mundo. Escolha entre as sombras ou pereça por causa delas. As cortes não conseguirão deter o domínio das trevas.

De repente, algo cintilou no ar. Percebi que era uma adaga, voando em minha direção. Ela se movia com uma precisão assustadora, seu alcance superior a qualquer outra arma que eu já vira. Meus olhos ficaram fixos na lâmina afiada enquanto ela girava pelo ar, vindo diretamente na minha direção.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeWhere stories live. Discover now