Capítulo Catorze

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Victor Decker:

Caleb não tinha retornado durante o dia, nem mesmo quando Caroline me arrastou para fora do prédio, onde Pauline e Bruno já nos esperavam.

— E o Caleb? Deveríamos esperar por ele? — perguntei, ansioso.

— Ele perdeu e se aparecer no apartamento, deixei um bilhete informando para onde fomos. — Caroline disse enquanto abria a porta. — Além disso, você sabe usar uma espada e tem uma para nos proteger.

— E se ele estiver longe quando os monstros aparecerem? O que faremos, você, Pauline e eu? — Bruno questionou, saindo do prédio.

— Para que serviram suas aulas de esgrima na infância, afinal? — Pauline disse, dando um tapinha animado no ombro dele. — Terá que defender as damas que estarão ao seu lado.

— Desde quando vocês se tornaram damas? — Bruno retrucou, e desta vez levou um soco no ombro das duas. — Não podem me bater, estou no volante!

— Você verá quando pararmos o carro. Vai se arrepender de ter nascido — Caroline falou, encarando-o com determinação. — Vai ver como posso ser cruel.

Desta vez, acabei rindo junto com Pauline, que procurava uma estação de rádio enquanto nos preparávamos para seguir em frente.

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Enquanto o carro passava pelas ruas, abri uma das janelas, observando o poste da rua que ganhava luz gradualmente.

— Parece que estamos indo para uma cena de filme de mistério — comentei, olhando para o céu nublado.

Através da janela, o céu estava coberto de nuvens, e pessoas envoltas em capas escuras caminhavam apressadamente pelas calçadas dos dois lados da rua, seus ombros encolhidos pelo vento frio. Minutos depois, paramos em frente a um prédio cercado por casas modestas, com vegetação se espalhando pelas paredes.

Descemos do carro e, ao passar pela porta, uma fileira de degraus apareceu magicamente diante de nós. No final dos degraus, encontramos um par de portas duplas pintadas de dourado, escancaradas para revelar um interior cheio de luzes cintilantes, dançarinos feéricos e música envolvente.

— Isso é o que eu chamo de luxo — Bruno comentou, assobiando baixinho. — Não esperava isso de fora, mas agora quero isso para mim.

— Olhem, ali está o Caleb — Pauline apontou, e me virei para vê-lo se aproximando de nós com sua expressão habitual, que sempre o fazia parecer alguém um tanto mal-humorado.

— Devo agradecer por nos esperar — disse Caleb ao chegar ao nosso lado.

— Foi apenas um gesto educado — respondeu Caroline. — Tenho certeza de que seus "amiguinhos" devem tê-lo informado sobre essa festa ou lhe dado um convite.

Caleb a encarou com um olhar mortal. Em algum lugar no fundo da minha mente, senti a magia de Ambres, como se ele estivesse se orgulhando do filho por sua atitude e vontade de destruir alguém que o estava irritando. Era estranho ver esses vestígios da magia de Ambres, mas, ao mesmo tempo, reconheci que esses pensamentos já faziam parte de mim. Caleb passou por mim, e seguimos o grupo.

O espaço estava iluminado exclusivamente por esferas mágicas, quase completamente desprovido de móveis. Janelas exibiam diferentes paisagens do mundo humano e de lugares feéricos. Luzes coloridas sustentavam um teto abobadado, e feéricos dançavam na pista, movendo-se graciosamente e com fluidez sob a luz cintilante.

— Amei este lugar! — exclamou Bruno, indo em direção ao bar.

— Bruno, não beba nada até sabermos o que é! — advertiu Pauline, correndo atrás dele.

— Ele está sendo hipnotizado pela magia e pela beleza feérica — comentou Caroline, cruzando os braços. — Será que ele vai sobreviver até o final?

Percebi que a maioria das pessoas no local pertencia à Corte de Verão, e ao contrário de nossas experiências anteriores nas cortes ou no bar de Caleb, eles estavam interagindo bastante.

— Caroline, acho que seria uma boa ideia ficar de olho neles — sugeri. — Eles não sabem o quão perigoso pode ser, e o glamour pode ser irresistível às vezes. Enquanto isso, Caleb e eu vamos procurar pelo trod deste lugar e ficar de olho nele.

— Farei isso apenas porque gosto de Pauline, mas se tiver que fazer um acordo para salvar Bruno, não vou fazer nada — Caroline respondeu com calma. — Também não faria isso por Caleb. Vocês se divirtam com a missão de vocês, enquanto eu fico de babá. Estou profundamente ofendida agora.

Caleb me puxou, e apontou para irmos em outra direção.

— Você está muito preocupado com essas pessoas, Victor. Lembre-se de que precisamos salvar a sua pele, esse é o acordo — disse Caleb.

— Paciência — respondi, tentando manter a calma. Era verdade que a paciência não era meu ponto forte, como sugeria a voz divertida que ouvi ao meu lado.

Olhei para baixo, onde um par de olhos dourados familiares me observava, sem estar ligado a nenhum corpo. Sorri ao reconhecer a presença.

— Grimalkin — murmurei, e os olhos dourados piscaram lentamente antes que o corpo de um grande gato cinza aparecesse. — O que você está fazendo aqui, Grim? Alguém tem algum assunto a resolver com você?

O gato bocejou e esticou-se, arqueando a cauda felpuda ao redor de si mesmo. Como sempre, Grimalkin foi tão metódico em sua postura, e só depois de fazer sua higiene ele se dignou a responder.

— Tenho muitos assuntos para resolver com o anfitrião desta festa — respondeu com tédio evidente em sua voz. — Ele gosta de trazer o luxo de Nevernever para este lugar. Ouvi dizer que você estava a caminho, então pensei em esperar para ver se era verdade. Pelo que vejo até agora, você é interessante.

— Grimalkin, você não é muito confiável — Caleb murmurou, puxando-me para trás dele. — Tanto você quanto aquela magnólia não trouxeram muita ajuda. Fico me perguntando qual é o seu verdadeiro propósito em ajudar o Victor.

— E eu me pergunto qual é o seu verdadeiro propósito, sombra? — Grimalkin retrucou com indiferença. — Ouvi dizer que você tem muitos negócios inacabados com algumas pessoas.

— Não se preocupe com isso — balancei a cabeça. Grimalkin era irritante e misterioso, raramente compartilhando informações, mas sempre parecendo saber muito sobre os assuntos dos outros. — De qualquer forma, é bom vê-lo, Grim. Gostaria de poder ficar e conversar um pouco, mas temos que voltar ao que viemos fazer.

Caleb me puxou, e eu vi Grimalkin nos seguir lentamente enquanto entramos em um quarto. Descendo vários degraus de escada, chegamos ao trod, uma porta branca que estava caída das dobradiças.

Caleb examinou o local e fez sinal para que eu ficasse atrás dele. Grimalkin me observava com tédio. Fechei os olhos e me concentrei nas sombras do ambiente. Não havia nada ali, mas de repente senti uma mudança no trod ao nosso redor. No momento em que dei um passo em direção ao trod e agarrei suas sombras, o chão sob meus pés se abriu. O próximo som que ouvi foi o grito de Caleb, que vinha na minha direção, e o rosnado de uma criatura que emergia das sombras.

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Até a próxima 😘

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon