Capítulo Vinte(final)

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Victor Decker:

Hoje o dia estava especialmente bonito para mim. O sol brilhava no céu, o ar não tinha o mesmo frio cortante, e Caleb não saiu do quarto quando Caroline me puxou para fazer alguma coisa.

Caminhar pelas ruas movimentadas, observando as lojas com suas vitrines repletas de objetos tentadores, era uma experiência quase surreal. Para Caroline, essa cidade era um playground interminável, cheio de oportunidades para explorar, comprar e se divertir. Ela não precisava controlar seu ritmo ou saborear as coisas aos poucos para prolongar a novidade. Era um lugar que poderia devorar todos os dias e nunca se cansar. Era um lugar para relaxar e, ao mesmo tempo, sair com os amigos.

Talvez tenha sido por isso que eu não tinha notado aquela loja antes. Ela estava afastada da calçada principal, no final de um curto lance de escadas, quase escondida pelas fachadas desbotadas das construções vizinhas. As cores já desvanecidas ao longo do tempo para tons acinzentados, embora o nome da loja ainda fosse legível em branco.

— Por que estamos vindo aqui? — Perguntei a Caroline.

— Você precisa comprar algumas roupas novas, não pode voltar para sua casa com essa vestimenta. — Caroline respondeu, empurrando a porta da loja. — Além disso, há alguns feéricos que estão gratos pelo que você fez pelas criaturas.

— Como eles souberam disso? — Perguntei, franzindo o cenho.

— Quando você matou a criatura, tirei uma foto e a enviei assim que cheguei em casa. — Caroline explicou. — Usei um pouco de magia para enviar para cada feérico que conheço. Muitos deles querem até te dar presentes em agradecimento por salvar algumas vidas e evitar mais mortes.

— Isso é realmente gentil da parte deles. — Falei, impressionado, enquanto ela batia palmas empolgada.

— Também fiquei surpresa. Acredita que existe a possibilidade de eu querer uma mochila nova? — Caroline disse e olhei em sua direção. — Joguei fora aquela última que você tinha antes que eu me esquecesse!

Abri a bolsa dela e, para minha surpresa, ela me entregou uma caixinha contendo um celular. Meu queixo quase caiu de espanto.

— Quanto dinheiro você tem? — Perguntei, atônito. — Por que comprou um celular para mim?

— Seu celular anterior não estava quebrado, e este é para manter contato comigo. — Caroline disse, sorrindo. — Já salvei meu número, o da Pauline e o do Bruno nele.

— Quanto dinheiro você tem, afinal? — Insisti.

— Bastante, na verdade. Minha família materna é a mais rica da minha antiga cidade. — Caroline respondeu, estendendo o celular para mim. — Você vai ter que aceitar, não vou aceitar um não como resposta.

— Isso é demais, você cuidou de mim, me deu um lugar para ficar e comida nas últimas semanas. — Falei, ainda surpreso, tentando recusar sua generosidade.

— Aceite, este é meu último presente até nos vermos novamente. — Ela disse, abraçando-me com força. — Minha infelicidade teve pelo menos um aspecto positivo: me apresentou a verdadeiros amigos, aqueles que me permitiram mostrar todos os meus defeitos e qualidades.

— Estou feliz por ter conhecido uma amiga como você. — Falei sinceramente. — Caroline, você é a melhor pessoa que já conheci em toda a minha vida. As pessoas entram e saem de nossas vidas, mas os amigos entram e ficam. — Peguei o celular. — Prometo que sempre vou mandar mensagens para não perdermos o contato.

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Entramos e logo percebi que era uma livraria antiga, um sebo empoeirado a julgar pelo nome e pelas vitrines abarrotadas de lombadas empilhadas. Pensei que já havia explorado todos os sebos da cidade, mas este era completamente diferente. Vagueamos por entre as estantes abarrotadas de livros empoeirados, explorando cada cantinho do lugar.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora