Capítulo Doze

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Victor Decker:

Chegamos ao apartamento e encontramos Caleb sentado no sofá, com Grimalkin ao seu lado, lambendo a pata direita. Assim que o gato nos avistou, começou a nos observar como se fôssemos insetos interessantes. Olhei para ele com desconfiança.

Claro, ele parecia um enorme gato doméstico um pouco gordo, mas ainda era um feérico. Este felino poderia estar nos analisando, tentando descobrir o que desejávamos ou o que ele poderia arrancar de nós. Engoli lentamente e encontrei seu olhar misterioso e inteligente.

— Pelo amor de Deus! — Caroline exclamou, fechando a porta atrás de nós. — Digam alguma coisa, isso não é um filme de faroeste.

— Então, o que vocês querem de mim, humanos? — Grimalkin disse, e se um gato pudesse soar paternalista, ele certamente o fazia — pense no absurdo de tudo isso. Estava descansando, cuidando da minha vida, e me perguntando se deveria caçar hoje, quando esse garoto das sombras aparece e me pega à força. E então, vocês têm a audácia de me encarar como se eu fosse o culpado. — Ele cheirou o ar e me deu um olhar de desdém. — Já estou ciente de que os mortais são rudes e bárbaros, mas isso é demais.

— Pedimos desculpas por isso. — Falei, interrompendo-o. — Estávamos nos perguntando se, talvez... você pudesse nos ajudar.

Grimalkin parou de lamber a pata, mas não olhou para cima.

— E por que eu faria isso? — Ele perguntou, tecendo as palavras enquanto continuava a se limpar, sem perder o ritmo. Ele ainda não me olhava. — O que eu ganharia com isso?

— Você poderia ajudar a salvar inúmeros feéricos da morte — Falei. — Lembre-se de que você me deve um favor por eu ter salvo sua vida.

Grimalkin bocejou, mostrando caninos longos e uma língua rosa-brilhante, e finalmente olhou para mim.

— Bem, isso é verdade, uma dívida que eu ainda não paguei. — Grimalkin falou. — Aceitarei ajudar para quitar essa dívida.

Ele me encarou com um olhar fixo e, em seguida, moveu a cauda uma vez. Sem dizer uma palavra, ele se levantou, saltou graciosamente para o chão e esticou-se, arqueando sua espessa cauda sobre a coluna.

— Vou ajudar, mas quero que venham comigo. — Grimalkin falou. — Amanhã de manhã, encontrem-me no parque da cidade, o mesmo onde nos vimos da última vez.

Assenti enquanto o gato desaparecia da nossa vista.

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Naquela noite, sonhei novamente com a escuridão, mas desta vez ela não me incomodou tanto quanto nas ocasiões anteriores.

O uivo do caçador ao longe soou de forma diferente, como se estivesse ferido. Tentei ouvir com mais atenção, esforçando-me para visualizar a imagem de forma mais nítida.

Nada aconteceu com a escuridão, mas então senti alguém surgindo atrás de mim. Ambres apareceu, impecável como sempre.

— Está ficando cansativo vê-lo toda vez que adormeço — Comentei, e Ambres apenas me observou, movendo-se em minha direção através de suas sombras. Tudo mudou quando dei um passo à frente, fazendo com que sua forma se desestabilizasse.

O Rei das Sombras estava diante de mim, mas agora de costas, com inúmeros tentáculos feitos de uma névoa escura estendendo-se dos seus ombros e da coluna vertebral, assemelhando-se a asas negras.

Ambres se virou, mas não era o seu rosto, marcado por inteligência e crueldade, que me encarava. Era o meu próprio rosto, emergindo das sombras e desaparecendo.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeWhere stories live. Discover now