Capítulo Sete

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Victor Decker:

O dia já havia começado mal, e eu mal podia imaginar que poderia piorar. As ruas estavam repletas de pessoas e feéricos em um tumulto caótico. Nunca tinha visto uma aglomeração tão intensa de humanos e feéricos, todos em meio a murmúrios sobre os ataques das criaturas e suas vítimas. Carrinhos de verdureiros ambulantes carregados de frutas e legumes competiam por espaço com feéricos transportando cestas rasas cheias de objetos de proteção, entrando e saindo do local que Pauline havia indicado para nos encontrarmos.

A maioria estava freneticamente tentando vender esses objetos de proteção contra os misteriosos ataques. Alguns paravam no meio do caminho para comprar esses objetos, enquanto outros os rejeitavam como uma farsa. O tumulto se misturava ao já caótico som dos vendedores de sorvete, clamando: "Sua proteção por um centavo", enquanto feéricos retrucavam e suas auras emanavam.

Fiquei me perguntando como as pessoas que viviam ali conseguiam enxergar as ilusões que os feéricos colocavam em seus corpos. Alguns poderiam estar sendo sinceros em sua vontade de ajudar e se proteger, enquanto outros poderiam estar usando maldições e encantamentos em pessoas desavisadas.

Finalmente, encontramos Pauline ao lado de um conjunto de árvores. Ela usava calças jeans e uma camiseta verde, e acenou na nossa direção enquanto nos aproximávamos.

— Até que enfim — Pauline disse com alívio. — Elas não me deixam entrar até que uma fada ou mestiça esteja comigo.

— Então você nos trouxe aqui só por isso? — Caroline perguntou, ignorando completamente a presença de Bruno. — Eu gosto dessa garota.

— Onde está o seu irmão? — perguntei, e Pauline apontou para um grupo que estava conversando, rindo e bebendo. — Irmãos mais velhos sempre dão o exemplo de como se comportar.

— Você não é um irmão mais velho? — Ambas perguntaram, rindo uma da outra.

— Sou uma exceção. — Retruquei e depois acrescentei, pensativo. — Bem, eu era.

Um silêncio constrangedor se instalou entre nós. Pauline me olhou com pena.

— Eu esqueci — falei, balançando a cabeça. — Por que viemos até aqui?

— Bem, eu quero mostrar uma coisa. — Pauline falou e adentrou entre as árvores, seguimos atrás dela. — Quando os monstros atacavam, alguns feéricos ou mestiços traziam as vítimas para cá. As dríades podem ajudar na recuperação, mas ontem à noite recebi uma mensagem de que as vítimas estão piorando. Elas só vão conversar mais abertamente se tiver alguém com magia feérica ao meu lado. — Ela olhou para mim. — Não que você não se encaixe nesse perfil.

Paramos e esperamos. Duas figuras surgiram do tronco de uma árvore, materializando-se à nossa frente. Eram duas mulheres magras, com cabelos verdes-musgo e pele de mogno polido. Seus olhos negros profundos nos observavam enquanto as dríades se aproximavam. Um cheiro de terra fresca e casca de árvore envolveu o ar.

Pauline inclinou a cabeça em sinal de respeito, enquanto eu estava mais preocupado em captar todos os movimentos.

— Sabemos por que vocês vieram. — Uma das dríades falou, sua voz como um suspiro de vento entre as folhas, e ela me encarou. — A brisa trouxe sussurros sobre você, notícias das terras distantes. — Ela se virou para as meninas. — Como a jovem oráculo previu, só podemos compartilhar essa informação com uma feérica, mesmo que seja uma meio-sangue.

— O que vocês querem dizer? — Caroline perguntou.

— Cada vítima que sobreviveu está piorando a cada dia. Podemos ter curado seus corpos, mas suas mentes estão se deteriorando, assim como nossa magia. — A segunda dríade falou. — Mas os ventos sussurram que há uma maneira de salvá-los. — Ela considerou com seus olhos negros implacáveis. — Estávamos esperando por você, criança do mundo dos sonhos.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora