Capítulo Quinze

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Victor Decker:

Atravessei as sombras enquanto os destroços destruíam o solo dos níveis mais baixos da caverna, causando a queda de três níveis inteiros. Finalmente, fui lançado em um chão incrivelmente espaçoso. Mesmo nas profundezas das sombras, havia momentos em que o céu se destacava e a natureza encontrava uma maneira de se manifestar. Claro, ainda estávamos muito abaixo da superfície da terra.

Se minha memória estava correta, os blocos de pedra que passamos no terceiro nível serviriam como o cenário de fundo para esta cena. Se isso continuasse, eu colidiria com o chão da caverna e enfrentaria uma morte certa. Despejei toda a magia que eu tinha em minha mão esquerda, aumentando gradualmente minha velocidade de queda. O solo se aproximava a cada momento que passava.

Então, desencadeei a maior magia que era possível para mim naquele momento. Milhares de formas de energia de magia negra colidiram violentamente com o chão, cavando um buraco incessante à medida que eu continuava a cair. O impacto de alguma forma me impediu de colidir com o chão e de encontrar meu fim.

O que aconteceu depois disso era um borrão em minhas memórias.

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Despertei assustado, constatando que estava realmente em uma caverna escura, onde a magia da Corte de Inverno dominava todo o lugar. Meu corpo brilhou, e a magia do Verão parecia acolhedora, emitindo um calor suave e reconfortante, como os raios do sol, fazendo-me desejar voltar a dormir. Era a primeira vez que experimentava o calor dessa magia, e me senti incrivelmente bem. Isso me fez perceber o quanto amava esse poder, essa diferença entre as magias do Inverno e do Verão.

Meu estômago roncou alto, lembrando-me de que estava há horas sem comer. Levantei-me e comecei a explorar o local. De repente, uma intensa sonolência me atingiu. Minhas pálpebras ficaram pesadas, e tudo o que eu queria era recliná-las e dormir, como um urso durante o inverno. Era um pensamento tentador.

No entanto, eu me controlei e afastei essa sensação, resistindo ao frio que tentava me envolver.

"Desista", sussurrou o frio em meu ouvido. "Desista, durma. Você nunca mais será machucado."

Eu invoquei a magia do Inverno e a mantive, juntamente com a do Verão, trabalhando em harmonia. A sonolência desapareceu. Foi uma surpresa e um alívio sentir meu corpo voltar ao normal, afastando a sensação do frio que ameaçava me dominar. Minha respiração voltou ao ritmo normal, e uma súbita onda de energia invadiu meu corpo e mente.

A trilha da caverna finalmente levou a uma pequena entrada sob duas árvores congeladas. Coloquei a mão na abertura e senti uma poderosa magia que parecia estar se dissipando. Forçando minha visão, percebi uma paisagem completamente congelada do outro lado.

Recuei e soube imediatamente que estava em uma caverna dentro do território Unseelie, na área da Rainha Mab.

Voltei alguns passos, examinando as sombras na caverna, em busca de qualquer pista sobre qual direção seguir. Ao longe, um uivo ecoou pela caverna, e um arrepio percorreu minha espinha.

— O caçador — murmurei.

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O uivo ecoou novamente, fazendo meu coração disparar. Tentei me controlar e virei para fugir, deixando para trás a visão da caverna com enormes cristais azuis e verdes projetando prismas quebrados de luz. Atravessei um estreito caminho, com as paredes rochosas pressionando-se em ambos os lados até que finalmente se abriram, revelando um caminho coberto de neve ladeado por diversas passagens.

O uivo ecoou novamente, assustadoramente, reverberando pelas paredes da caverna que eu havia acabado de deixar para trás. Ele estava perto. Me arrastei por uma entrada próxima, tomando cuidado para não escorregar sobre o gelo, e então me pus de pé, observando atentamente o ambiente. A caverna à minha frente era imensa, majestosa e coberta de gelo. O teto brilhava, decorado com inúmeras estalactites nítidas e cintilantes. Uma brisa suave soprou através da caverna, fazendo as estalactites tilintarem como sinos ao vento, enchendo o lugar com música.

Então, algo negro e monstruoso irrompeu da boca da caverna, aparecendo bem diante de mim.

O caçador me encarou com seu sorriso sinistro, mas algo estava visivelmente errado em relação a ele desde a última vez que o havia visto.

— Victor Decker. Finalmente voltamos a nos encontrar. — Sua voz gutural ecoou pela caverna, fazendo as estalactites tremerem acima dele, balançando perigosamente. — Você se distraiu e se separou dos seus amiguinhos, vindo parar no meu território onde eu estava à espera em meu repouso. — O lobo abaixou a cabeça, escancarando a boca e sua expressão assumiu uma aparência dolorida.

— Você foi atacado pelas criaturas, não foi? — Falei, olhando para a ferida brilhante e crescente em uma de suas patas traseiras.

Ele rosnou novamente, e eu recuei, sentindo a caverna tremer sob meus pés.

— Escute, estamos presos aqui com um monte de criaturas que se alimentam de magia, e você é uma criatura mágica. — Falei, me aproximando dele. — Será melhor sairmos daqui, confie em mim. Mas eu quero que saiba que não vou permitir que me leve até Oberon; tenho um compromisso a cumprir com Leanansidhe.

O Lobo piscou lentamente.

— Você fez um contrato? — Ele repetiu.

— Sim. — Respondi.

— Um contrato com Leanansidhe? — Ele repetiu novamente.

— Sim. — Falei, mais devagar, e ele soltou um suspiro.

O Lobo fez uma pausa, me examinando com seus intensos olhos amarelos, e uma faísca de irritação atravessou seu rosto.

— No entanto, se você fez um acordo com aquela mulher, as coisas mudam. Meu acordo com Oberon era para levá-lo. Portanto... — Ele rosnou em descontentamento, e depois relutantemente. — Eu tenho que honrar seu contrato e deixá-lo ir.

— Agradeço. — Falei e me aproximei dele. — Então podemos confiar um no outro e escapar desse lugar. Suba em mim.

Concordei, embora ainda estivesse desconfiado, e subi em suas costas. Ele começou a correr em direção a outra entrada da caverna.

— Criança, ouvi falar muito sobre o que você fará em NeverNever; você se tornou uma grande caçada. — O lobo disse, e eu agarrei seus pelos com força. — Ganhou meu respeito, embora à contragosto. Até agora, apenas dois seres haviam conseguido isso: o Rei de Ferro e a Rainha de Ferro.

— O que você ouviu sobre mim? — Perguntei.

— Que você pode destruir ou reconstruir o mundo das fadas, com a ajuda da Criança de Ferro. — O lobo falou. — No final, a escolha será sua, entre ser uma arma nas mãos das cortes ou decidir o seu próprio destino. Você é um humano renascido pelas vontades das terras das fadas, com o poder das duas cortes e habilidades superiores a qualquer ser que já tenha existido.

Apertei meus dedos ainda mais contra os pelos do enorme lobo, suas palavras aumentando minha ansiedade. Sabia que era aterrorizador ter o Rei e a Rainha do Verão, além da Rainha do Inverno, interessados em me usar como uma peça em seu jogo. Eles eram verdadeiramente loucos e insanos!

O lobo continuou a correr pela caverna, enquanto o som das criaturas perseguindo-nos não diminuía um momento sequer. Mesmo que o caçador fosse um ser antigo, ele estava visivelmente ferido e ofegante.

Fiquei alerta quando percebi que as paredes da caverna começaram a se mover por conta própria. Puxei os pelos do lobo com toda a força.

— Pare! — Gritei, mas era tarde demais. Toda a paisagem mudou abruptamente, e nós caímos na escuridão.

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Até a próxima 😘

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeWhere stories live. Discover now