Capítulo Dezesseis

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Victor Decker:

Caímos no túnel abaixo de onde estávamos e a escuridão desapareceu quando tudo foi iluminado pela luz que criei. As chamas pareciam flutuar no ar, refletindo das superfícies das paredes que se assemelhavam a centenas de espelhos revestindo o corredor de ambos os lados. Observando minha própria imagem, dei uma pausa, ligeiramente surpreso ao notar as mudanças. O pálido reflexo me encarava de volta com severidade, roupas maltrapilhas adornando minhas extremidades, meus olhos tinham traços de exaustão e minha aparência oscilava entre a de um jovem humano e a de um feérico. Mal conseguia me reconhecer, mas talvez isso fosse algo positivo.

Como o lobo havia mencionado e como Pauline havia demonstrado, NeverNever estava me transformando. O sangue feérico em minhas veias, tão antigo quanto o tempo, estava sendo refinado com a transformação do meu antigo eu.

O caçador continuou avançando pelo corredor. A esfera vacilante lançava luzes estranhas nos espelhos opostos, criando intermináveis fileiras de chamas que se estendiam até onde os olhos podiam ver.

— A magia de Mab que selou o lado humano ainda está presente neste lugar — disse o caçador. — Ela está alterando tudo ao nosso redor à medida que enfraquece, reescrevendo toda a estrutura da caverna. Devemos permanecer atentos a qualquer mudança em nosso entorno.

— Eu sei, mas acho que isso pode nos matar — comentei, e ele não respondeu.

— Um caçador deve estar preparado para enfrentar desafios em todas as caçadas — disse o lobo, como se lembrando do seu propósito.

Senti-me nauseado só de pensar em tudo isso. No entanto, se meus poderes estavam crescendo e amadurecendo, poderiam ser a chave para resolver os problemas que enfrentávamos. Eu era, de certa forma, um mestre das sombras, com habilidades não reconhecidas pelas outras cortes, o que era uma vantagem. No entanto, eu estava embarcando em uma jornada incerta, e o otimismo excessivo talvez não fosse adequado.

Para confirmar o que estava surgindo em minha mente, eu precisava concluir nossa missão neste lugar e determinar qual seria o meu papel nisso tudo.

Apesar da falta de luz, a visibilidade era razoável na penumbra. Olhei ao redor, inquieto, quando o ambiente começou a mudar novamente. Mantive minha compostura e minha mão irradiou a aura da Corte de Inverno. Não podia permitir que este lugar nos confundisse e nos fizesse nos perder para sempre. Nós éramos capazes, afinal, as criaturas sabiam como navegar por esse lugar, e ele também estava se revelando para nós. A mudança ocorreu mais uma vez, e uma trilha se manifestou diante de mim.

— Olhem, são pegadas! — exclamei, apontando para as marcas de patas das criaturas no chão.

— Ah! — O lobo exclamou, surpreso. — São pegadas de várias criaturas! Elas certamente estiveram por aqui. Bom trabalho, garoto, ao controlar essa magia.

Sorri e o segui enquanto ele continuava a avançar.

Não importa como eu olhe para isso, não sou mais o adolescente que vivia com sua família e se preocupava apenas com notas escolares. Em outras palavras, este é um mundo completamente diferente daquele que eu conhecia, e não importa o quão positivamente eu encare essa situação, eu definitivamente não seria reconhecido pelas pessoas do meu passado.

O importante é que não há garantia de que não haja outros monstros além das criaturas que encontramos até agora.

Continuamos a seguir a trilha das pegadas, adentrando cada vez mais nas entranhas daquela caverna misteriosa. Enquanto caminhávamos, o lobo permanecia ao meu lado, mantendo-se atento a qualquer movimento ou mudança no ambiente ao nosso redor. O corredor parecia interminável, e a iluminação das chamas refletidas nas superfícies espelhadas das paredes criava uma atmosfera surreal.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeWhere stories live. Discover now