Capítulo Quatro

111 87 27
                                    

Victor Decker:

Victor Decker:

Engasguei com suas palavras, mas ela parecia determinada no que havia me revelado. O garoto ao meu lado lançou um olhar confuso para a menina, mas gentilmente se afastou para me dar espaço.

— Sabemos por que você veio, para encontrar a criatura que está atacando feéricos e humanos na cidade — disse a menina, seu cabelo azul oscilando enquanto ela se virava para mim. Ela alisou sua saia e depois lançou um olhar de esguelha para o menino. — Sou Pauline, e apesar de não parecer, tenho os poderes de uma oráculo.

— E eu sou apenas o irmão mais velho, Bruno. Ela me fez trazer a mesma até você. — Bruno falou, com uma expressão cética no rosto. Ele vestia uma camiseta amarela e shorts jeans. — Pauline, faça logo essa coisa estranha que você faz.

— Eu já disse que não é uma coisa estranha, consigo vislumbrar o futuro de todos, em partes. — Pauline respondeu com aspereza.

Olhei ao redor, desejando ignorar se uma briga entre irmãos estivesse prestes a acontecer diante de mim. Me afastei, indo em direção à porta, ou ao trod. A escuridão do outro lado se revelou quando a magia do Nevernever fluía para este mundo.

— Você não encontrará pistas das criaturas aqui. O dono do lugar eliminou qualquer vestígio de magia, e as criaturas provavelmente estão descansando hoje, por algum motivo. — Pauline comentou atrás de mim. — O nexo das criaturas está bloqueado de alguma forma, então não sei exatamente onde na cidade ele está, mas posso afirmar com certeza que a cidade estará segura esta noite.

— Diga-me o que precisa me contar ou por que me chamou de "não mortal" e "não imortal". — Falei, virando-me para ela e cruzando os braços.

— Você ainda não percebeu a magia fluindo por todo o seu corpo? Lembra-se de quando o Rei das Sombras o perfurou com um espinho no peito? — Pauline disse, e as imagens surgiram em minha mente.

Lembrei-me de Ambres, enfurecido, quando ele me atacou com uma adaga, criando um espinho negro em sua palma que perfurou meu peito.

Os olhos de Pauline brilharam enquanto ela me observava, e lentamente peguei suas mãos.

— O Reino das Sombras queria dominar seu corpo e alma, mas as terras das fadas trouxeram você de volta à vida com a magia das cortes. — Ela explicou enquanto uma névoa se formava ao nosso redor, e imagens surgiam.

Mostravam meu corpo caído, linhas luminosas surgindo ao meu redor, com uma esfera no centro, que pulsava com cores vermelhas e brancas, sugando a magia para dentro dela. A cena então mudou, mostrando-me acordando algum tempo depois.

— Você está destinado a ser o Anjo das Sombras, temido e desejado pelas cortes Summer e Winter, pois será capaz de dominar seus inimigos. — Pauline disse. — Seus poderes vão se expandir nos próximos dias, e você terá que permanecer na cidade.

— Por quanto tempo? — Perguntei, sentindo um arrepio no estômago, percebendo que esta missão não seria tão breve quanto imaginei.

Na verdade, parte de mim ansiava pelo fim disso, desejava voltar ao meu passado, mas algo no meu coração guardava a esperança de ver Puck novamente. Eu o amava e queria ser feliz ao seu lado; esse desejo era uma chama constante em meu coração.

— Mais alguns dias, que passarão voando. — Pauline disse, retornando ao normal, e a névoa desapareceu. — Após isso, você estará livre de sua promessa com aquela feérica. Mas... — Ela começou, mas foi interrompida por uma tosse.

— Já terminamos aqui? Sorte que o zelador do prédio nos mandou uma mensagem. — Bruno falou e me analisou. — Sua família já acredita que você está morto.

Meu coração doeu ao ouvir que minha família achava que eu estava morto.

Claro que eu não estava morto, mas era mais seguro para eles pensarem assim, pelo menos por enquanto.

— Pelo menos duas vezes nos últimos dois meses, vi notícias procurando por "Victor Decker". E até mesmo as memórias estão sendo alteradas pelo glamour dos feéricos. — Bruno disse, voltando ao assunto e se dirigindo para outra porta que levava a alguns degraus. — Acho que, no momento, você parece meio deslocado com todas as informações que coletei.

— Bruno, deixe de ser tão irritante. — Pauline disse, olhando-me com um pedido de desculpas silencioso entre nós. — Meu irmão pode ser rabugento e difícil de conversar, mas, mesmo assim, ele me ajudou a enviar a mensagem para aquela fada à qual você deve um favor.

— Então foi você? É impressionante conseguir fazer com que uma fada queira alguma coisa. — Respondi, e Pauline riu.

— Apenas assegurei que ela permanecesse alerta, uma vez que o Colar das Asas Negras o escolheu. Usei o que vi nas minhas visões. — Ela respondeu, rindo. — Melhor do que depender das notícias ou de fofocas.

Lembrei-me de que, em algum momento, seria ótimo ter meu celular para pesquisar informações sobre o que perdi nos últimos tempos e para poder ligar para meus pais e dizer que estou bem. Mesmo que meu celular provavelmente não esteja funcionando, não entendo por que ainda o guardo.

— Bem, acho que é hora de nos despedirmos — Bruno disse. — Sorte que nosso tio trabalha aqui, então foi fácil pegar a chave com ele. Victor, foi uma honra conhecê-lo.

— Idiota. — Falei, e o Colar das Asas Negras brilhou. Pauline se afastou, e em segundos, minhas enormes asas surgiram, fazendo com que Bruno fosse jogado para trás. — Desculpe.

— A magia está se ativando por

conta própria. Em breve, todos os seus poderes vão se ativar automaticamente se você não conseguir controlá-los. E você também tem a magia dos sonhos espirituais. — Pauline explicou. — Tudo começou aqui, como um presente dado por uma mulher misteriosa.

Ela parou de falar e olhou ao redor, piscando os olhos.

— Não posso revelar quem é a mulher misteriosa que lhe concedeu esse poder. Você descobrirá muito em breve. — Ela disse, soltando uma risada travessa.

Bruno se levantou, olhando-me com espanto.

*************************

— Não acredito nisso — Bruno resmungou enquanto saímos obstinadamente para o lado de fora, onde Pauline, na esquina, tentava chamar um táxi. Certamente deveria haver alguns táxis disponíveis, pelo menos, pensávamos. — Cadê um táxi nessas horas? Onde diabos todos foram parar? Só quero voltar para casa e tentar me recuperar do choque de ter sido lançado para longe como um boneco.

Olhei para Bruno e dei de ombros, decidindo ignorar sua presença por enquanto.

— Você realmente acredita que essas criaturas não vão nos atacar? — perguntei a Pauline, direcionando minha atenção inteiramente para ela.

— Elas não vão vir atrás de nós, relaxa. — Pauline respondeu com um suspiro exasperado. — Aproveita um pouco a vida mundana enquanto pode.

Olhei para ela, e Pauline acenou quando finalmente um táxi apareceu, apressando-se para entrar com meu irmão me puxando.

Mas como eu poderia fazer algo quando eu não tinha um centavo no bolso? Exausto de pensar nisso, comecei a caminhar, sentindo uma presença logo atrás de mim. Virei-me e, para minha surpresa, Caleb surgiu ao meu lado.

— Não há nada disponível na minha área — Caleb declarou com um encolher de ombros. — O que devemos fazer agora?

Nesse momento, um táxi parou ao meu lado, e Caroline surgiu pela janela.

— Ah, ainda bem que encontrei vocês — ela disse, um sorriso radiante iluminando seu rosto. — Estou entediada demais, que tal uma sessão de compras?

Caleb estava prestes a responder, mas Caroline já nos puxava para dentro do carro. Fazia tanto tempo desde a última vez que tinha andado em um carro que me senti momentaneamente tranquilo.

Olhei para Caleb, querendo compartilhar meu encontro com Bruno e Pauline, mas fechei a boca, percebendo que esse não era o momento adequado.

___________________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeWhere stories live. Discover now