Amar não é pecado

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Sabe... Muita coisa na bíblia não faz sentido. Deus é contraditório eu diria, ou então a imagem que os humanos pintaram de Deus está totalmente errada.

E o que me leva a esse ponto? Vocês me perguntam. Bom... A bíblia diz que Deus é misericordioso, e ama a todos igualmente. Até sacrificou seu próprio filho como prova de amor, certo?

Mas sabe qual é o problema disso? "Deus ama o pecador e não o pecado." Faz algum sentido para vocês o amor ser um pecado? O que há de errado em amar alguém independente do gênero? E todos esses extermínios de milhares de pessoas? E as guerras? E a fome? As mortes? A desgraça? Deus mantinha seus olhos fechados para tudo isso, porém condena quem ama?

Para mim não faz sentido algum. Se existe mesmo um Deus, ele com certeza não é assim na minha visão. E se ele for, peço perdão desde já, mas ele é um filho da puta.

O motivo de eu estar tocando em um assunto tão delicado é a mãe de Pedro. Uma mulher religiosa, a famosa tia do coque da igreja hipócrita que tem em todo canto. Que só anda cheirando a leite de rosas e perfume barato.

***

-João!?- Esse era seu Zé, pai de Pedro que tinha acabado de chegar de uma viagem a trabalho.

-Tio Zé??? O senhor já chegou, que bom.- Fala João chegando na porta.

-O Peu tá morando contigo né?- Ele diz- Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava fora? O que diabos aquela mulher fez?

-A culpa não é dela Tio... Apesar dela estar errada, é tudo culpa do conservadorismo que ela vive.

-De qualquer forma, podemos conversar? Chama o Pedro. Eu preciso estar por dentro do que aconteceu enquanto estava fora.

-O PEDRO ACORDA CARALHO!!- Grita João da porta mesmo, observando Pedro sair do quarto somente de cueca.-Pelo amor de Deus Pedro. Cê esqueceu onde a gente mora? Como tu me sai só de cueca a porta está escancarada, qualquer um pode te ver... Não quero que te vejam assim, prefiro que somente eu tenha esse privilégio.

Zé estava alí parado sem entender nada, viajando nos seus próprios pensamentos.

-INFERNO!- Pedro se assusta ao ver seu pai e entra de novo no quarto para vestir algo.

João então convida o mais velho para sentar-se no sofá enquanto espera Pedro se vestir.

-Voltei papitho.-Era um apelido carinhoso que ele chamava seu Pai.

-Vamos direto ao assunto. O que diabos aconteceu quando eu estava fora? Só passou um mês.

-Um mês...-Pedro diz com uma voz cabisbaixa.- Passou tão rápido.

-Estamos namorando tio, foi isso que aconteceu.- João diz abraçando sorrateiramente a cintura de Pedro para que ele se aproximasse mais, como uma forma de proteção ou algo assim.

-Finalmente né?- Tio Zé falou pegando os dois desprevenidos.

-Perai... Oi?- Pedro pergunta confuso.

-O que é difícil de entender? Vocês estão nessa enrolação a anos, finalmente descobriram o que sentem um pelo o outro.- Ele responde com um sorriso simpático.

Pedro então sem perceber começa a chorar, as lágrimas só estavam descendo e seu peito queimava intensamente. Ele se sentia, acolhido.
João o envolve ainda mais em um abraço e o seu Zé os acompanha envolvendo os dois.

-Entendam, se vocês se amam. Nada, nem ninguém pode tirar isso estão entendendo? Não permitam nunca.- Ele se afasta do abraço e enxuga os olhos do filho.- Pode deixar que eu irei falar com sua mãe. Estamos separados mas isso não impede de eu dar um esporro naquela sem noção.

***

Era tarde, receberam uma ligação da Nay para encontrá-los em sua casa, ela tinha algo para contar.

-ENGOLE O CHORO CATARRENTO! SE VOCÊ JOGAR ESSA BOLA NA MINHA CARA DE NOVO, EU VOU FURAR ELA TODINHA E ENFIAR NA TUA GUELA!- Nay estava berrando com duas crianças de seis anos que brincavam alí na frente de sua casa, a bola tinha acertado seu rosto e quase quebrado o seu óculos.

-É sério isso?- João fala rindo da situação- porque só temos amizades com gente doida?

-Talvez porque os doidos se conhecem.- Valentina responde.

-O NAY! DEIXA OS MULEQUES EM PAZ.- Pedro grita acenando para que ela parasse e voltasse para onde estavam.

-Toma essa porcaria que tu chama de bola.- Ela devolve e volta a sentar na varanda onde seus amigos se encontravam.

-O que era a tal coisa que vocês tinham para nos contar?- João pergunta.

-É que...- Nay fala sem graça coçando a cabeça.

-Desembucha -Valentina dá um tapinha em seu ombro.

-Não têm aquele dia que vocês passaram a noite na escola?- Ela continua.

-Tem... Perai? Como assim, nós não contamos isso para ninguém.-Pedro diz.

-Essa é a questão... Meio que foi minha culpa vocês ficarem presos no banheiro.- Nay responde

-OI??-João fala- o que quer dizer com isso?.

-Meio que a porta do banheiro masculino enterrou por minha causa... Na hora da saída eu "tranquei" vocês lá.- Ela diz meio cabisbaixa.

-Por isso chamamos os dois aqui, a Nay queria se desculpar por terem tido que passar a noite inteira na escola.- Val continua.

-Desculpar? Por que? Graças as atitudes impulsivas da Nay estamos juntos... Depois daquela noite que parei para pensar no que eu realmente sentia pelo João, e por conta disso estamos juntos.- diz Pedro.

-É verdade.- João concorda dando um selinho rápido nos lábios do maior.

-Sério?? Eu fico aliviada de saber...- Nay fala.

-E a sua mãe Peu? Ela já voltou a falar com você? Tio Zé passou por aqui irritado depois de sair da casa dela.- Valentina pergunta.

-Ela... ela não voltou a falar comigo - Disse Pedro com uma voz trêmula de quase choro.

-Tá tudo bem amigo, ela vai enxergar o filho incrível que ela tem, e que não depende da sua sexualidade para ser perfeito.- Nay o consola.

-Ela disse que eu... e-eu vou para o inferno, o que eu fiz de tão errado? É pecado amar?- Pedro perguntou.

-Não e nunca será, você tá me ouvindo? Não deixe que pessoas com mentes retrógradas te falem o contrário.-Nay refuta.

-Eu te amo baby.- João fala sussurrando em seu ouvido e depois o beijando para acalmá-lo.

Brincando de Colorir 🏳️‍🌈Where stories live. Discover now