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Oiii andei meio sumida aqui né? Quem é vivo sempre aparece.

Pronto para verem as boiolices desse capítulo?

Vamos lá

***

Um luto pendura por um longo período. As etapas são; negação, compreensão, e por fim aceitação.

É difícil aceitar que quem você ama dissipou-se ao pó, que foi enterrado a sete palmos e você nunca mais terá novamente os momentos vividos.

João odiava seu pai.

Ele era um alcoólatra, e batia em sua mãe quando estava embriagado, ou seja, sempre.

Acontece que quem tem dependência emocional, um psicólogico frágil, é manipulável. Quando a cruz pesou tanto que você fica pensando "Deus tá pesado demais, acho que não irei aguentar" , é difícil não entrar em luto.

Afinal é sangue de seu sangue. É seu pai.

João era um adolescente frágil, que sofrera tanto em ver sua mãe sendo agredida fisiologicamente e psicologicamente.

João tinha traumas, traumas estes que foram causados por quem deveria ter lhe apoiado, dado-lhe carinho e atenção, ao invés de arrancar de si choros e lamentações.

Ele estava tão quebrado que desejou morrer da forma mais rápida que achou possível, João não queria mais sentir aquela angústia em seu peito novamente, aquele aperto que lhe doía a alma, as palavras ditas pelo sujeito que corroíam sua mente incansavelmente e sem pausas. Queria apenas estocar aquela ferida que nunca cicatrizava e infeccionada onde saiam todo tipo de secreção. Doía, puta merda doía para caralho!

Até que ele apareceu.

Não é como se João ficou curado psicologicamente assim que bateu seu olho sobre Pedro, não era isso. Demorou, mas Pedro conquistara seu coração de uma forma tão quente e acolhedora proporcionando a João sensações nunca sentidas antes. Borboletas em seu estômago íam a loucura, a forma na qual ficava sem graça com a aproximidade de ambos. Era paixão, amor, o amor mais puritano já visto e que João deliciou-se na sensação de senti-lo por completo.

Pedro tinha um jeito apenas seu de expressar-se, de sorrir, somente ele tinha aquele olhar tão profundo quanto a galáxia, tão misterioso quanto um buraco negro, o jeito que seu rosto parecia ter sido pintado pelos deuses. Cada traço tão perfeito... Único.

Mas o que mais cativou a João foi nada mais nada menos que sua bunda farta. Que porra! Como ele amava maltratar aquele local com palmadas!

Só por brincadeira sabe... Brincadeira de amigos héteros.

Era o que falava para si mesmo em uma tentativa patética de consolar seu lado homofóbico ainda enraizado.

"Eu não sou gay" dizia ele quando pegava-se secando o maior sem pudor algum, com uma sede devassa de tê-lo para si. Algo nele o cativava, só não sabia o que.

"PORRA! EU SOU HÉTERO!"

Embora Carla sempre o advertisse do quão errado era aquela sua atitude, ele acabava não dando ouvidos. "Filho amar não é pecado, muito menos errado!" Falava a mais velha.
O problema é que João se odiava, odiava sentir aquilo, e o problema não era ele. O que impedia de se entregar a alguém do mesmo sexo, era lembranças...

Lembranças de seu pai o abusando quando pequeno.

Tudo melhorou depois de uma conversa com sua mãe, que o expulsou de casa assim que soube. O fato é que ela conseguia aguentar as agressões que sofria, mas nunca, jamais suportaria ver seu filho sofrendo o mesmo. E por mais que temesse por sua vida e pelo do menor, ela optou pela denuncia a polícia por abuso em domicílio e agressão física.

O pai de João foi condenado a dez anos na prisão, e quando saira, depois de ter feito juras de morte a ambos, ele foi morto atropelado por um carro, enquanto atravessava a rodovia embriagado.

A notícia realmente foi um choque. Mas ao mesmo tempo um alívio.

E Pedro juntamente com suas amigas e sua mãe ajudaram-no a superar tal fase complicada em sua vida.

***

-Filho!- Chamava a voz macia e aveludada de Carla entrando em casa eufórica e com um sorriso doce em sua face.- Tenho algo para te contar.

-Lá vem...- Falou João se jogando acomodado no sofá cama que tinha sob a sala esperando sua mãe começar a falar.- bora mamãe, joga a fofoca na roda!

-Então... Eu tô namorando!- Fez um gesto tímido coçando a nuca totalmente corada e sem jeito com a frase.

-AI! MEU! DEUS! QUE BOM!- Levantou em um pulo e abraçou sua mãe em puro êxtase e felicidade, tudo que ele queria era ver novamente ela voltando a sorrir daquela forma.- Quem é o sortudo?

-Sortuda...-Disse quase em um murmúrio com medo da reação de seu filho com aquela palavra.

-Sor-rtudA?- Desgarrou do abraço apenas para fitar a mulher com uma expressão confusa e olhos levementes arregalados.

-Sim filho...- Responde firmemente.- sortuda, no feminino. É uma mulher! E eu estou apaixonada.

João apenas a encarava perdido, mas logo soltando um sorriso frouxo e simpático que esbanjava confiança e compreensão, respeito e aceitação.- Tomara que ela seja uma mulher incrível, você só merece o melhor mamãe.- envolveu-a no abraço novamente, dessa vez mais apertado.

Ele pode ouvir um suspiro aliviada da maior e soluços de pura felicidade. Ela chorava, mas era de alegria.

-Eu te amo mãe!-Sussurrou- e tenho orgulho do quão forte a senhora é!

Semanas depois recebeu a notícia de que Valentina e Naieli, suas duas melhores amigas, estavam namorando.

Foi um choque, não só para João, mas para Pedro também. Sim eles já desconfiavam que algo estava estranha com as duas nos últimos tempos, porém nunca imaginaram que foi por isso.

Ele ficou tão feliz pelas duas.

Mas tinha um problema ainda. João não tinha chegado na fase de auto-aceitação, e tinha nojo de si. Nojo por não conseguir se expressar o tanto que queria, medo de dizer o quanto queria Pedro como seu.

Medo de nunca superar as lembranças que lhe cercava.

Mas principalmente medo de seu pai, que lhe atormentava em pesadelos constantes.

A faísca que corria pelas veias de João, o desejo que o menor tinha por Pedro, o amor que sentira. Tudo isso acabou por lhe dando coragem de começar a se aceitar.

Ver sua mãe tão bem com sua nova namorada também fora uma delas.

João agora acreditava somente em uma coisa;

Ainda que eu caminhar pelo vale das sombras da morte, tu ó Pedro será meu caminho de luz.
Ainda que eu me debulhe em lágrimas uma noite inteira, e lamentar pelos meu passado, você mãe será meu porto de consolo, e debaixo de suas asas estarei seguro.

Eu, João os amo, hoje, e sempre.

Obrigado!

Brincando de Colorir 🏳️‍🌈Where stories live. Discover now