Um: Ligações na madrugada

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O telefone toca, olho a tela do meu relógio digital na mesa de cabeceira e decido que vou chutar a bunda de quem quer que esteja me ligando - são três da manhã de uma quinta-feira, caramba!

- Me diga que o mundo está congelando e só eu não notei, Daniel! - eu atendo o telefone com um rosnado.

- Bom dia, flor do dia! - Deus me livre das pessoas animadas em plena madrugada, elas são as piores!- Precisamos de você aqui o mais rápido possível.

- Não me diga que encontraram mais um... - me levanto rapidamente da cama, bufando de descontentamento e dirigindo o meu corpo semi-acordado ao banheiro.

- Sim, Lis, temos mais um daqueles. - a voz soa sombria do outro lado da linha.

Lisie Yamazaki, agente especial do DIS (Divisão de Investigações Sobrenaturais). Esse é o meu cartão de visitas, onde quer que eu vá.

Aos vinte e oito anos, eu sou a mais nova da minha equipe, mas isso não me incomoda. Afinal, eu comecei a trabalhar no DIS por indicação do meu antigo chefe na divisão de Inteligência, onde eu iniciei a minha carreira há seis anos atrás.

Desde criança, eu sempre tive pressentimentos certeiros, raciocínio rápido e uma espécie de sexto sentido, tais habilidades apenas aumentaram conforme os anos passaram e foram as responsáveis por assegurar a minha vaga no DIS.

Por mais que, oficialmente, essa divisão nunca fosse mencionada pelas outras corporações e não aparecesse na lista de prestação de contas do Governo. A divisão fantasma, como gostam de chamá-la. Afinal, não há porque mencionar que o Governo tem uma divisão específica para cuidar de situações não usuais, desde fantasmas trancando portas e chutando a bunda de alguém quando esse se abaixa para amarrar os cadarços dos tênis, até vampiros que exageraram na quantidade de fast food humano. E mais um monte de bizarrices pelo mundo afora.

Não é por menos que o Governo tenta, a todo custo, evitar o pânico que se instauraria caso as pessoas soubessem que entre nós, vivem tantas criaturas sobrenaturais que deixariam Bram Stoker e Mary Shelley* de cabelos em pé. Bem como existem pessoas - comumente chamadas de psíquicos - que conseguem sentir a energia alheia e distinguir a aura que permeia os humanos da que emana dos seres sobrenaturais. Os psíquicos são os dignos X-men dos dias atuais. Exceto, graças aos céus, por não soltarem espinhos ou se transformarem em monstros.

* Escritores de Drácula e Frankenstein, respectivamente.

Embora eu assuma que as garras de adamantium viriam bem a calhar na minha profissão.

Três anos nessa divisão e eu já confrontei mais coisas sobrenaturais do que se tivesse assistido a todos os filmes de Atividade Paranormal, Exorcista e Drácula juntos.

Os seres sobrenaturais vivem camuflados na sua própria camada de sociedade, longe de olhares curiosos dos humanos e vivendo sob suas próprias regras. Claro, o DIS é considerado o xerife velho de cidade pequena aos olhos dos sobrenaturais, já que eles podem acabar com os humanos em um piscar de olhos, mas os humanos são muito mais numerosos, e nem sempre poder compensa a diferença numérica. Então, ambos os lados fazem o máximo para manter os seus rabos longe do caminho um do outro. E assim as coisas seguem.

Eu diria que é uma bela manhã, mas não posso ter certeza, já que não amanheceu.

Eu já estou a caminho do trabalho, as ruas vazias por conta do trânsito da madrugada - ou a falta dele -, quando a voz ecoa dentro da minha mente como em uma caverna. Eu a ignoro, afinal, esquizofrenia não é do meu feitio.

Por fora, o DIS é camuflado pelo prédio de uma simples delegacia de polícia. Porém, por dentro, principalmente no subterrâneo, é onde a mágica acontece. Até mesmo os policiais comuns que trabalham aqui não sabem da existência da Divisão de Investigações Sobrenaturais. Para eles, nós somos apenas um bando de policiais esnobes, cuja especialidade é lidar com serial killers. Bem, isso não está muito longe da verdade, para ser franca.

A Pecadora (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora