Cinco: Proposta indecente

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Eu devo ter escutado errado, essa é a única explicação possível. Minha expressão com certeza denuncia o meu conflito interno, já que Nikolay se recosta casualmente em sua cadeira e tira a gravata, me lançando um olhar calmo, quase de cumplicidade.

- Não é algo tão complicado, dado os riscos que eu posso correr ao revelar informações tão sigilosas a você. Na verdade, esse é um pequeno preço a se pagar. - o vampiro declarou, tranquilamente.

- Ah, claro, você dando uma de Conde Drácula no meu pescoço, literalmente com a minha vida nas mãos, é um preço baixo! A vida alheia deve ser algo subvalorizado para vocês vampiros, mas isso não me surpreende, na verdade.

Nikolay arqueia uma sobrancelha. Por Deus, ele não tem outra expressão além dessa zombeteira?!

Bem, de certa forma, o fato de vampiros não darem a mínima para a vida humana não me surpreende, mas a proposta de Nikolay realmente me pegou de surpresa.

Candice subirá pelas paredes se souber que eu fiz um acordo desses com um vampiro e, diga-se de passagem, um vampiro que eu nem sequer conheço e parece ser pouquíssimo confiável. Não consigo nem pensar no que Daniel será capaz de fazer, se descobrir sobre esse acordo. Eu estou entre a cruz e a espada.

- Como eu disse, Srta. Yamazaki, eu não estou interessado em ter a minha moral questionada, principalmente por uma humana. Essa é a minha proposta: te dou todas as informações das quais você precisa para concluir o seu caso e pegar o assassino. Em contrapartida, eu quero acesso irrestrito e consensual ao seu sangue. Temos um acordo?

- Não precisa bancar o bonzinho para o meu lado. Eu sei que você pode facilmente tomar o meu sangue à força, então, não me venha com esse discurso de "consensual". - eu acusei. - Eu sei muito bem o que vocês vampiros são e o quão inescrupulosos podem ser.

- Ah, agente, bonzinho é a última coisa que eu sou, acredite. - a expressão do vampiro se torna perigosamente sombria por um segundo, seus olhos brilham com algo selvagem e perigoso, antes de voltarem ao normal. - Mas eu não tenho interesse em fazer ou tomar nada à força. Ser um vampiro não invalida as minhas convicções pessoais.

Ah, claro. E eu sou o maldito Papel Noel fantasiado de policial. Conta outra!

- Senhoras e senhores, temos um vampiro com princípios aqui. Venham ver esse espécime raro. - eu debochei.

- E aqui vemos uma humana que está, claramente, fugindo da minha pergunta. O que foi? Está com medo de mim? - Nikolay pergunta, sorrindo maldosamente.

- Eu não tenho medo de você, Sr. Delyon, e nem em um milhão de anos eu terei medo de alguém como você. A única questão é que, antes de aceitar esse acordo com o Diabo, eu quero ler as entrelinhas. - declarei, tentando manter a minha expressão impassível. Eu posso ver claramente a armadilha por trás desse acordo. - Por quanto tempo eu tenho que te dar o meu sangue? Sabe, nem todos aqui vivem para sempre. Se te dar o meu sangue é o pagamento pelos seus serviços, então, nada mais justo do que o pagamento terminar assim que os seus serviços também terminarem.

- Garota esperta...- o vampiro ri e me lança mais um sorriso maldoso, me fazendo estremecer. - Está feito: assim que o caso for concluído e, consequentemente, a minha utilidade a você, não será mais necessário me dar o seu sangue.

- Então, temos um acordo... Eu preciso assinar um contrato com o meu sangue ou algo do tipo? - eu caçoo, mas imediatamente me arrependo da brincadeira, ao ser confrontada pelo olhar de Nikolay.

Esse homem deve ser capaz de colocar fogo em alguém apenas com um olhar. Por mais que o calor que eu sinto no momento não tenha relação com esse tipo de fogo.

A Pecadora (Concluído)Where stories live. Discover now