Dez: Gato e Rato

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O corredor em que eu me encontro é largo o suficiente para que três pessoas andem ao meu lado, água pinga através dos vãos das paredes de pedra, empoçando o chão e fazendo com que o som dos meus passos ecoe como os de um elefante. De alguma forma, eu sei que não há fim para esse corredor mas, mesmo sabendo disso, eu me obrigo a continuar andando. O frio é congelante, parecendo atravessar os meus ossos e me fazendo tremer da cabeça aos pés.

Depois de andar por sabe-se lá quanto tempo, eu chego a uma câmara. Há uma bifurcação de três túneis mais ao fundo, que devem ser as saídas desse lugar mas, por alguma razão, eu não quero sair, eu quero ficar aqui. Eu sou praticamente compelida à essa vontade de permanecer aqui.

A câmara deve ter cerca de sete metros de altura, seu teto é abobadado e nenhuma luz entra, a única luz do local é proveniente de uma pequena fogueira no centro do lugar. Eu olho atentamente para as paredes de pedra, depois para os túneis e, por fim, para o teto abobadado, me perguntando o por que de estar aqui e o que eu deveria, supostamente, fazer.

Subitamente, um vento forte, vindo da extremidade oposta do túnel que está às minhas costas, sopra violentamente. Eu me abraço, tentando evitar que essa nova onda de frio atinja os meus ossos, meus cabelos voam sem parar por sobre o meu rosto, dificultando a minha visão e me obrigando a fechar os olhos momentaneamente. Tão subitamente como começou, o vento se esvai, eu olho novamente para a câmara, mas nada parece ter mudado muito, exceto as brasas da pequena fogueira, que estão praticamente minguando.

Mais um vento forte sopra, praticamente mexendo as paredes de pedra e apagando de uma vez a fogueira que está no centro da câmara.

Escuridão, completa e aterrorizante escuridão.

Eu encaro o breu pelo que parece ser uma eternidade, sentindo o frio e a incerteza do que vai acontecer consumir as entranhas do meu ser.

Sem aviso, a fogueira se acende novamente, mas as suas chamas não são mais vermelho-alaranjadas. Elas são verdes e brilhantes como neon.

Atrás da fogueira, sentada em uma cadeira simples de madeira, há uma estranha figura vestida com uma longa túnica preta e capuz da mesma cor, não deixando o seu rosto, pés ou mãos à mostra.

A figura parece ter o seu olhar fixo em mim, embora eu não possa dizer isso com certeza, já que eu não consigo ter um único vislumbre do seu rosto. O frio parece aumentar enquanto essa figura olha na minha direção por longos minutos, a roupa leve e o cardigã branco que eu uso não conseguem armazenar o calor do meu corpo, que treme incessantemente. Minha respiração produz pequenas nuvens brancas de vapor no ar.

Por um minuto, eu me sinto tentada a chegar perto da fogueira tão convidativa, mesmo com essas estranhas chamas verdes, mas isso - o que quer que seja sentado nessa cadeira - é sinistro demais, parecendo tomar toda a minha coragem e imobilizar o meu corpo.

A figura não parece se mexer um milímetro sequer, como uma estátua. Na verdade, eu até imagino que seja, de fato, uma estátua, já que nem as suas vestes tremeluzem com o vento que escapa dos vãos das paredes.

- Pare de procurar pelo assassino, Lisie Yamazaki. - a voz retumba dentro da câmara. É grave e caracteristicamente masculina.

Meu corpo imediatamente se arrepia, como se um sentimento ruim tivesse se apoderado de mim. Um mau presságio.

- Por que? - eu inquiri automaticamente.

Anos de interrogatórios e buscas incessantes por assassinos me provaram que a melhor defesa é o ataque.

A Pecadora (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora