Quatro: Intimidações entre quatro paredes

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O homem me guiou até um escritório acima da pista principal da boate, no mesmo andar da área vip. O local é bem organizado, uma grande mesa de vidro com oito cadeiras ocupa o centro do escritório, enquanto há uma mesa menor para duas pessoas do lado esquerdo, com vista para a pista de dança; um pequeno móvel no canto direito ostenta uma variedade de bebidas.

O aposento é protegido por uma alta parede de vidro, que dá uma boa visão de tudo o que acontece na boate, principalmente na pista de dança; embora eu possa deduzir que os clientes não conseguem ver o que acontece do lado de dentro do escritório. Eu poderia me jogar sobre essa parede de vidro e ninguém sequer ouviria um pedido de socorro meu.

Que perspectiva reconfortante, não? Presa em um cubículo, com um cara que com certeza é um vampiro.

O estranho ocupou a cadeira estofada atrás da mesa de vidro menor e eu me sento do lado oposto, após recusar a sua oferta por uma bebida.

- Então, você é uma policial, correto? - o homem perguntou.

- Isso vai depender de quem perguntar. - respondi, mantendo minha postura reta e firme, cruzando os meus braços e arqueando uma sobrancelha.

O homem arqueou uma sobrancelha e meneou a cabeça para o lado, se esticando sobre a cadeira, que inclinou levemente para trás. Os seus olhos verdes me fitam com intensidade, me estudando.

- Vamos jogar um jogo, senhorita: eu somente respondo às suas perguntas, depois que você responder às minhas, certo? Pode não parecer, mas eu sou um homem muito cauteloso e, por outro lado, sei que você não quer sair daqui de mãos vazias. - o homem toma um gole da bebida que se serviu.

- Agente Lisie Yamazaki, Divisão de Investigações Sobrenaturais. - respondi a contragosto.

- Eu tenho uma inclinação natural a duvidar de coisas e pessoas. Você poderia me mostrar seu, hum... - o homem me lança mais um olhar carregado de luxúria, me medindo de cima a baixo. Eu ruborizo inconscientemente. - Distintivo?

Ah, isso já é além dos limites! Eu já escutei antes que eu não tenho "cara de policial", seja lá o que isso signifique, mas esse pedido parece ser apenas para me provocar. Tentando não transparecer o meu descontentamento, eu tiro o meu distintivo da bolsa de mão que tenho comigo e o mostro a ele, que apenas assentiu, parecendo satisfeito.

- Quem é você? - perguntei sem rodeios. - E por que um vampiro tem uma boate?

- O que faz você pensar que eu sou um vampiro? - o homem se inclina sobre a mesa na minha direção.

Por Deus, esse homem é estúpido? O fato de que ele é o dono da boate é algo mais do que visível! Consequentemente, é óbvio que ele é um vampiro.

- Esse lugar praticamente brilha com energia sobrenatural, embora eu só tenha conseguido entender que se trata de energia de vampiros, quando eu vi uma das clientes tomar o sangue do pescoço de um cara com canudinho. - eu respondi, irritada. - Pelo que eu vi, a especialidade da casa parece ser bloody mary*. Duvido que um simples humano teria poder suficiente para manter na linha todos os vampiros que frequentam esse lugar, então, é óbvio que você também deve ser um vampiro.

* Coquetel feito com vodka, suco de tomate, suco de limão, molho inglês tabasco e pimenta. Em tradução literal: "Maria Sangrenta".

O homem riu, uma risada baixa e terrivelmente sedutora, balançando a cabeça em sinal de divertimento e me devolvendo um olhar satisfeito.

- Você é uma psíquica, então... Ótimo, isso torna as coisas muito mais divertidas.

Só então eu entendo o que fiz. Dei, de graça, a importante informação de que eu sou uma psíquica. Merda! No final das contas, a estúpida aqui sou eu!

- Isso não é uma brincadeira, tampouco um jogo. - a irritação transparece na minha voz. - Eu te disse quem eu sou, nada mais justo do que me dizer quem é você.

- Nikolay Delyon. - o homem declarou, meneando a cabeça na minha direção. - E sim, eu sou um vampiro. Quanto à sua pergunta, sobre o por que desse lugar me pertencer, posso afirmar, categoricamente, que isso não é da sua conta. Bem como posso te avisar, de antemão, para me poupar de qualquer discurso moralista acerca do meu estabelecimento. Todos os humanos aqui estão por livre e espontânea vontade e não é permitida nenhuma morte, de qualquer forma, na minha zona.

Um arrepio passou como um raio pela minha coluna quando o homem declarou ser um vampiro, como se, de alguma forma, ele estivesse escondendo o que realmente é, e agora uma aura de energia sobrenatural parece ter tomado o lugar de todo o oxigênio do local. Eu costumo ver as auras de pessoas ou seres sobrenaturais como traços disformes de energia, ou até mesmo como animais. Entretanto, a aura sobrenatural que emana de Nikolay é parecida com uma grande onda no mar, prestes a me engolir.

Esse cara deve ser um vampiro muito antigo, somente isso para explicar como ele pôde esconder a sua aura sobrenatural de mim e Daniel.

Seus olhos continuam fixos em mim, brilhando em divertimento, mas com um "que" de desafio. Por mais que os meus pressentimentos me digam que ele é extremamente perigoso, eu tenho que lutar muito contra a sensação alarmante de perigo que é, ao mesmo tempo, incrivelmente sedutora e instigante.

Eu já ouvi falar que vampiros têm aquela energia mística de perigo incrivelmente sexy, mas os poucos vampiros que eu conheci nunca irradiavam uma energia tão poderosa como a do vampiro sentado à minha frente. É pura tensão pairando pelo ambiente como uma pesada nuvem. Se alguém me pedisse para resumir desejo, perigo, atração e tensão sexual em uma só palavra, com certeza eu usaria a palavra Nikolay.

- Não tenho interesse em discursar, muito menos para um vampiro. E também não tenho nenhuma intenção de investigar o seu respeitável estabelecimento, por enquanto. O que me interessa são as mortes de Liam Savor, Greg de Lucca e Tim Hardy. O que você sabe sobre isso?

- Preciso que você seja mais específica, chérie. Como você pode ver, eu tenho muitos clientes diferentes e conheço muitas pessoas.

Eu mostro as fotos dos três homens que foram assassinados, mas Nikolay não conhece nenhum deles particularmente bem. De volta à estaca zero.

- Como são as cenas dos crimes? - o vampiro perguntou.

- Como você pode ver, os corpos aparecem com símbolos estranhos entalhados na pele, cada corpo aparece com algum órgão faltando. As vítimas não apresentam sinais de que foram amarradas ou restringidas de alguma outra forma. Além disso, as incisões feitas parecem ter sido queimadas de alguma forma, mas não encontramos nada que bata com as marcas deixadas.

Nikolay passa a mão sobre o cavanhaque e se recosta na cadeira, parecendo pensativo.

- Mostre-me novamente a foto desse último. - o vampiro pediu e, após analisar a imagem, ele pareceu levemente preocupado. - Esse símbolo no peito dele, os outros também o tinham?

Aumento a imagem no meu celular e observo atentamente a imagem esculpida no peito da vítima: uma espécie de pássaro, semelhante a uma coruja de asas abertas, aprisionado dentro do triângulo que é formado por três estrelas, cada uma em uma extremidade da figura geométrica.

- Sim, minha equipe confirmou que as três vítimas tinham esse símbolo no peito. Você o conhece?

- Quem sabe...- o vampiro declarou, dando de ombros após alguns segundos de silêncio.

- Eu sei quando alguém mente pra mim, Sr. Delyon. - eu o ameacei.

- Engraçado...- o vampiro apoiou o queixo sobre os dedos das mãos cruzadas. - Então, temos algo em comum.

Eu já sou policial há muito tempo para entender esse tipo de postura. É hora de ativar a "policial negociadora."

- Qual o seu preço, vampiro? - eu imitei a sua postura, me inclinando sobre a mesa. - Embora eu tenha que te avisar que o meu departamento é dono de fundos muito limitados.

- Não estou interessado em dinheiro, agente. Isso eu tenho de sobra.

- Então? O que você quer? - perguntei, receosa.

- Algo muito mais simples, na verdade. - os olhos verdes me fitam com seriedade, mas Nikolay ainda sustenta um sorriso de lado. - Eu quero o seu sangue.

Não se esqueçam de votar e até a próxima <3.

A Pecadora (Concluído)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora