Doze: Difíceis decisões

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O escritório está menos iluminado do que da última vez, apenas algumas velas escassas jogam a sua luz sobre o cômodo, tornando-o sombrio. O vampiro me coloca deitada sobre um dos sofás e varre o seu olhar sobre mim, avaliando a minha situação. Ele analisa minuciosamente o meu pescoço, depois me vira de lado para olhar a minha nuca.

- Como está a dor? - Nikolay perguntou, tirando um lenço branco e macio do bolso da calça e colocando debaixo da minha nuca, para estancar o sangramento.

Eu me viro, encarando o teto.

- Péssima. - eu respondi, meio rouca. - O que vai acontecer com aquele cara?

- Por que você quer saber? Ele tentou te forçar, certo? Não é possível que você seja tão boa a ponto de se preocupar com aquele lixo. - Nikolay soou irritado.

- Eu só quero me certificar que ele tenha a morte mais horrível possível. - eu falei. Minha garganta ainda está doendo, me forçando a mais um acesso de tosse. Para mim, pessoas como aquele cara nem sequer merecem viver.

- Morte? - Nikolay arqueia uma sobrancelha. Um sorriso sádico brota em seus lábios. - Morte não chega nem perto do que eu tenho preparado para ele. Quero que ele aprecie o que a minha criatividade é capaz de fazer.

Um arrepio percorre o meu corpo. Então, essa é a outra face de Nikolay? O que eu esperava, afinal? Ele é um vampiro, eles estão acostumados a sangue e morte. Na verdade, todo o mundo sobrenatural parece estar regado a esses dois fatores.

Sua aura já não está mais como antes, parece ter diminuído, mas não se extinguido como das outras vezes que eu o vi, um claro sinal de que ele ainda está irado.

O vampiro começa a andar pelo cômodo, pelos sons, ele está mexendo nas gavetas da mesa mais ao fundo, parecendo procurar algo. Logo em seguida, eu ouço o som de algo como um armário de madeira se abrindo, mas o vampiro se volta novamente para mim de mãos vazias.

- Nada de kit de primeiros socorros? - eu brinquei, tentando forçar o meu cérebro a ignorar a dor e o peso que eu sinto no meu pescoço.

- Temo que não. Estou procurando água, na verdade. Do jeito que você está, te levar a um hospital seria o mais correto. Mas eu duvido que você gostaria que eu fizesse isso. - Nikolay sorri de lado, pela primeira vez nesse momento voltando a ser o seu antigo "eu". - E eu não acho que os humanos iriam acreditar na desculpa de que você "caiu" ou qualquer merda do tipo.

- Nikolay Delyon não saberia mentir para um simples humano? - eu arqueio as minhas sobrancelhas em espanto. - Se eu não estivesse com a garganta destroçada, acho que gargalharia feito louca disso.

Nikolay coloca as mãos nos bolsos da calça social e parece pensar por alguns segundos.

- Mentir somente pioraria as coisas. Além disso, eu não posso fugir da realidade de que você está assim por minha culpa. Sempre me orgulhei do fato de que esse lugar é neutro, livre de desavenças e de vampiros descontrolados e estúpidos, mas parece que terei que rever a lista de convidados.

O vampiro agora me olha com algo muito similar a pena. Ah! Me poupe disso!

- Pare de me olhar desse jeito! - eu ralhei, fechando os olhos, como se estivesse fugindo de algo que eu não quero ver.

- Qual jeito? - o vampiro perguntou, praticamente fingindo indiferença.

- Como se eu fosse inferior a você. - eu rebati, abrindo os olhos e encarando o vampiro. - Como se eu fosse digna de pena.

- Eu não te considero inferior a mim, muito pelo contrário. Mas você é apenas uma humana, Lisie. - Nikolay chega mais perto de mim, eu não me mexo no meu lugar, apenas encaro os seus olhos esmeraldas brilhantes. - Vocês são frágeis e cheios de fraquezas.

A Pecadora (Concluído)Where stories live. Discover now