Quatorze: Questão pessoal

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- O que você quer dizer com "sumiu"? - meu coração parece ter falhado uma batida.

- Eu tentei entrar em contato com ela quando você me ligou da boate, mas ela não me atendeu, você sabe que a Candice nunca deixa de atender a uma ligação. - Daniel explicou. - Após várias tentativas, eu mandei um dos membros da divisão atrás dela, mas ele não a encontrou. Então, eu fui na casa dela, e Lis... Havia sinais de luta.

Algo dentro de mim parece ter se quebrado.

As imagens voam pela minha cabeça: a primeira vez que eu conheci a minha chefe, uma mulher à frente de uma organização de suma importância para o bem estar do mundo. Mesmo sendo responsável por um dos trabalhos mais perigosos e extenuantes que existem, Candice sempre procurou manter o bom humor e nunca se sentiu superior a ninguém. Esse é um dos motivos pelos quais todos da divisão são leais à ela.

Me lembro das suas habituais brincadeiras com a minha origem asiática, logo que eu entrei na divisão. Brincadeiras desde "você faz origami?" à "quando você irá fazer um temaki para nós?". Hoje, eu entendo que aquelas brincadeiras não tinham o intuito de me ofender e sim de me fazer sair da concha. E foi exatamente o que aconteceu, eu desenvolvi uma forte amizade com todos da equipe, principalmente com ela e Daniel. Eu sempre tive um pouco de dificuldade nos quesitos "trabalho em equipe" e "confiança", mas esses dois foram os responsáveis por me fazer evoluir e confiar na minha equipe, e principalmente neles.

Candice sempre prezou mais pelas nossas vidas e bem-estar, do que pelo sucesso das investigações, apesar de ser exaustivamente cobrada pelos superiores. Ela nunca colocou as nossas vidas na balança, nunca deu mais prioridade ao trabalho do DIS do que a nós. Sempre fez de tudo para nos proteger e continuar empenhando o papel que nos foi dado por esse trabalho tão ingrato.

E agora, esse mesmo trabalho a colocou em perigo.

E eu sou responsável por isso. O assassino só a levou por vingança à minha recusa, afinal, ele disse que eu iria me arrepender da minha escolha e essa foi a forma que ele encontrou para me punir. Mas ele não poderia estar mais errado, eu não sinto arrependimento.

Eu sinto ódio. O mais puro e intoxicante ódio.

- Lis? Você está aí? - Daniel chama, me lembrando que ele ainda está na linha.

- Eu vou encontrar a Candice, Daniel. Vou ao Millenium e farei aqueles bruxos de merda me falarem o que significa esse símbolo que eu vi e onde ela está. Nem que eu tenha que libertar o inferno em cima deles. - eu falei entredentes, tentando conter o ódio que eu sinto no momento. - E nada do que você disser vai mudar a minha decisão.

A linha fica em total silêncio por alguns segundos, fazendo com que eu me prepare psicologicamente para a avalanche de recusas e recomendações do meu parceiro, de que eu não devo me meter com aqueles bruxos.

- Lis... Acabe com aqueles malditos bruxos, caso eles não queiram nos ajudar. - Daniel encoraja, me fazendo achar estranha essa postura dele. - Eu e a equipe vamos dar um sumiço nessa cena do crime. Assim que você tiver notícias, me avise.

Eu me despeço de Daniel com a promessa de que retornarei com notícias. E eu não vou falhar nessa promessa.

- Lis, o que aconteceu? - Nikolay volta para dentro do apartamento.

O vampiro volta o seu olhar para a minha mão e só então eu percebo que a tela do celular exibe pequenas marcas de rachaduras, provenientes da força com a qual eu estou segurando o aparelho.

Eu preciso de calma nesse momento, ou mandaria tudo pelos ares. E isso não seria bom, nem um pouco bom.

Esse assassino acaba de tornar esse caso muito pessoal para mim.

A Pecadora (Concluído)Where stories live. Discover now