Dezenove: Flor-de-Lis

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⚠️ Alerta de gatilho: menção a estupro e suicídio (cuidem dos seus coraçõezinhos, hein <3).

A paisagem é florida e ensolarada. Um vasto céu azul, sem nenhuma nuvem, contrasta belamente com o enorme campo de flores coloridas, a maioria em tons de rosa, roxo e azul. Iris germanica, popularmente conhecida como Flor-de-Lis.

Lily adora essa espécie de flor, principalmente pelo nome popular dela ser parecido com o meu apelido: Lis.

Falando nela, ela está exatamente no meio desse campo. Um belo vestido esvoaçante, amarelo florido até os joelhos, parece fazer par com a paisagem, assim como o chapéu de palha estilo camponesa com detalhes de girassóis. Ela adora flores, todas elas, vive dizendo que acha fantástica a forma como essas pequenas formas de vida contribuem tanto para a natureza. Na sua opinião, as flores são a melhor forma de ilustrar a sua teoria de que todos têm uma importância para esse planeta, independente do seu tamanho ou forma.

Lily é um pouco mais alta que eu, possui os mesmo traços japoneses, embora o seu cabelo seja mais escuro que o meu e caia até pouco abaixo do meio das suas costas, como uma cortina negra feito a noite. Uma franja cobrindo a testa lhe dá um ar jovial, assim como o seu rosto fino e delicado, os seus olhos são castanhos mais claros que os meus e a boca pequena, aberta em um sorriso tão grande quanto lhe é possível.

Ela acena para mim e eu vou na sua direção. O vento faz as flores se agitarem e algumas pétalas voam ao redor da mulher no centro do campo, fazendo-a parecer uma princesa da Disney, numa daquelas cenas em que elas cantam enlouquecidamente sobre o quão boa a vida é. Eu chego perto dela e ela pega a minha mão, parecendo emocionada.

- Até que enfim você chegou, Lis, eu já estava cansada de esperar! Precisamos conversar. - Lily me puxa pela mão animadamente, me fazendo andar ao seu lado.

- Conversar sobre o que? - eu perguntei sorrindo, pois a animação dela é contagiante, sempre foi.

- Sobre aquilo. - ela respondeu.

- Aquilo o que?

- Ah, Lis, você é sempre tão esquecida... - Lily para e se vira para mim, ainda sorrindo. - Precisamos conversar sobre você ter me deixado morrer.

Meu cérebro parece parar por alguns segundos, tentando processar o que a mulher acabou de dizer. A voz doce e límpida dela não combina nem um pouco com as palavras que saem da sua boca.

- O que? - eu pergunto em descrença.

- Você me deixou morrer, Lisie. - ela afirma, o sorriso nunca abandona as suas feições.

- Não, não, eu...

- Lis, você me deixou morrer. Eu morri por sua culpa. - Lily afirma mais uma vez. - Ou você não se lembra disso? Eu perdi a importância para você, não foi?

- Lily, eu... Como eu poderia esquecer? E-eu, eu sinto muito, nunca quis que nada daquilo tivesse acontecido! - eu afirmei, desesperada.

- Nunca quis? Você quis sim aquilo, Lisie! Você queria o amor dos nossos pais apenas para você! Queria que todos prestassem atenção apenas em você! - o tom de voz da mulher agora se altera, se tornando alto e acusador. O seu rosto é uma máscara fria de raiva. - A culpa de tudo o que aconteceu foi sua, você me deixou morrer!

Eu fecho os olhos e coloco as mãos sobre os ouvidos, tentando barrar a série de "você me deixou morrer" que a mulher profere sem parar. Sua voz se tornou aguda e macabra agora, como em um filme de terror.

A Pecadora (Concluído)Där berättelser lever. Upptäck nu