Capítulo 4 - Desejo

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Palloma, Beatriz e Flávio caminharam até um sofá de couro vermelho embutido na parede, com uma mesa pequena redonda na frente, também embutida, no chão. Sentaram-se e ficaram conversando por um tempo, olhando as pessoas. A morena e a loira sentaram-se exatamente no sofá de frente para o de Palloma, era o único lugar vago, e Palloma por sua vez não achou a idéia ruim. Percebeu que a morena não tirava os olhos dela.

''Mas por que?'' Palloma se perguntava.

Claro que retribuía os olhares, mesmo que os da morena não fossem maliciosos como os dela, e sim raivosos, irritantes, ignorantes, em chamas. Parecia que só por saber que Palloma existia, a morena se irritava. A raiva de Palloma já havia passado há muito tempo, mas pelo visto a da morena não.

''Mas por que? Quem foi a babaca foi ela, não eu, porra!'' perguntou-se novamente.

- Vem cá, por que aquela menina não para de te olhar, hein? Já vi que vocês se conhecem. - Beatriz perguntou desviando a atenção que Palloma estava, conversando com si mesma.

Como estava barulho, Beatriz teve que gritar, mas Palloma preferiu falar no ouvido dela, para tentar mexer, de alguma forma, com a morena.

- Fui fazer a entrevista de emprego no restaurante, quando ia saindo esbarrei nela e derrubei as coisas dela, eu apanhei as coisas que derrubei e entreguei nas mãos dela, e mesmo assim ela foi grossa comigo. Muito fresca, puta que pariu. - Palloma respondeu e Beatriz riu.

- Mas pelo jeito que ela ta te olhando, ela ta querendo hein? Hum. - riram.

- Vai que eu levo um tapa na cara?

- Tapa de amor não dói, baby.

- Mas tapa do ódio que ela ta de mim, dói, baby.

- Só ta fazendo charme.

- Será?

- To te falando guria. Ela vai se fazer de difícil, mas uma hora ela não vai resistir.

- Você acha?

- Ih, que foi Palloma? Não se garante mais não, é?

- Concordo com a Bia, ta? Não se garante mais não é? Não dá pra ser assim não hein amiga, vai ficar na seca eternamente, é? - disse o Flávio, se intrometendo na conversa.

- Oh, cala aí fresco, tu não pode falar nada não, nunca toma atitude. - Palloma respondeu irritada.

- Entre nós duas, quem faz o papel de homem aqui é você, querida! - riram. - E eu vou saindo aqui, vou pra pista, hoje eu to que to! Ninguém me segura! Adeus queridas. - disse e saiu em direção a pista de dança. Beatriz e Palloma riram.

Palloma viu que a morena levantou-se e foi em direção ao balcão onde pedia as bebidas. Olhou para Beatriz.

- Vai lá e pega essa menina de jeito! Não me decepciona. - Beatriz disse já se retirando da mesa e indo ''caçar as perseguidas'' como ela preferia chamar. A Beatriz era do tipo pegadora, Palloma não era muito diferente dela. Quando colocava alguma coisa na cabeça era difícil, quase impossível alguém tirar. Não desistia nunca, insistia até conseguir o que queria. E no momento o que queria era pegar aquela morena.

Saiu de onde estava e foi em direção ao balcão onde a morena estava encostada, de frente para a pista de dança, segurando um copo grande verde lotado de bebida. A morena viu quem era que se aproximava, virou-se de costas, sentando em um banquinho. Palloma não deixou se desanimar por isso. Chegou no balcão, parou ao lado dela, mas nem sequer olhou-a. Sabia que quando não dava muita bola, a mulher iria querê-la. Sempre foi assim, por que com ela iria ser diferente, não é mesmo? Riu por dentro. Palloma chamou o barman.

- Me vê aí um copão de vodka misturado com fanta laranja, por favor. - pediu.

- É pra já. - o barman respondeu e virou-se de costas para preparar o pedido.

Palloma olhou para morena, que continuava a fitar o espelho que refletia as pessoas dançando na pista, embutido na parede por trás do balcão. Olhou-a de cima a baixo lentamente, comendo-a com os olhos, seus olhos refletiam desejo e estava queimando de excitação, fazendo a morena perceber e se mexer um pouco no banco um tanto quanto incomodada. O que Palloma realmente desejava que acontecesse. Mal sabia Palloma que a morena gostou. A mesma mordeu os lábios involuntariamente.

Palloma sorriu. Aproximou-se da morena, fazendo-as ficarem à uma distância de poucos centímetros, as peles dos braços quase roçando. Palloma a olhou atentamente, e ficou assim por breves segundos até a morena falar:

- O que é que você quer hein? Fica me olhando assim por quê? Perdeu alguma coisa na minha cara? Não, sério. Pode me falar. Não basta ter me irritado no restaurante, quer me irritar aqui também?

- Oi. - ignorando totalmente o jeito grosseiro que ela tinha falado, Palloma falou calmamente olhando a morena de uma forma tão calma que a mesma se esqueceu de fazer o papel de durona com ela.

- Oi. - Palloma sorriu.

- Nunca imaginei que gente como você fosse freqüentar lugares assim.

- Por quê?

- Ah, você é tão patricinha.

- Eu? Patricinha? Ah, faça-me o favor né. Eu não sou patricinha.

- Bom... Não sabia que você freqüentava esses lugares, não sabia que você... Curtia isso. Nunca imaginei.

- Acho que é porque você não me conhece, não é, garota? Nós nos vimos uma única vez, pelo amor de Deus!

- Cara, por que tu é assim?

- Assim como?

- Deixa de ser grossa!

- Eu sou como eu quiser!

- Depois diz que não é patricinha, metida. - Palloma pegou o copo de vodka e saiu em direção a pista quando sentiu uma mão puxando seu ombro, fazendo-a virar e ficar de frente para a morena.

Palloma ficou olhando-a esperando algum tipo de gritinho histérico, ou um tapa. Típico de patricinhas como ela, chata, abusadinha, mimada. Se tinha algo que Palloma odiava, era isso! A morena estava de frente para ela sem falar nada, encarando-a, não com um ar de irritação, mas com outro que, Palloma não conseguia decifrar, ninguém conseguiria decifrar. Era um olhar diferente. Completamente indecifrável, e meio que... O único que brilhava como estrela.

- E então... Vai ficar calada, plantada que nem coqueiro sem falar nada, ô mimadinha? - Palloma perguntou sarcasticamente olhando-a seriamente.

Branca Como A NeveWhere stories live. Discover now