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TH - Thiago

Flashback

- o que você tá fazendo aí garoto? Sai de perto do meu lixo! - uma mulher gritou quando viu que eu estava revirando as sacolas

- Eu só estou com fome, me desculpa...- falei me afastando do passeio dela, ela me olhou com uma cara de nojo e fechou o portão

Senti minha barriga roncar e caminhei devagar para o outro passeio, olhei se tinha alguém olhando e toquei a sacola de lixo bem amarada, quando estava quase conseguindo abrir a sacola o portão abriu e um garoto apareceu

- Ei porque você tá fuçando no nosso lixo? - ele perguntou curioso

- Com quem você tá falando Gabriel? - uma mulher apareceu logo atrás dele e me olhou

- Com esse menino mamãe, ele tava mexendo no lixo - ele explicou olhando pra ela e apontando pra mim

- Tudo bem querido? - ela me olhou se aproximando e eu andei um pouco pra trás - Você tá com fome? - perguntou

Balancei a cabeça assentindo e ela deu um sorriso parecendo estar com dó

- Venha pra dentro querido, você pode comer o quanto quiser aqui, não precisa ter medo, o meu nome é Dayane e esse é o meu filho Gabriel - o menino acenou pra mim dando um sorriso

Tentei sorrir meio sem jeito e caminhei devagar atrás dela ainda com um pouco de medo, mas a barriga roncava mais alto que o medo

- pega na minha mão - o menino falou parando de frente pra mim

- por que? - perguntei sem entender

- é assim que os amigos se cumprimentam ué - ele falou como se fosse muito óbvio

- somos amigos? - perguntei olhando pra ele e em seguida para Dayane, que sorriu parecendo orgulhosa do filho

- Sim, a partir de hoje somos amigos - ele estendeu a mão e eu fiz o mesmo pegando na mão dele

Fim do flashback

- Mais alguma coisa meu filho? - a mulher do caixa perguntou

- Só isso dona Roberta, obrigada - sorri pra ela e peguei as sacolas saindo do mercado

Subi na moto e arrastei chegando rapidamente aonde eu queria, bati na porta dessa vez

- Oi? - a mulher apareceu me olhando - Ele não voltou ainda, eu disse que avisaria se ele voltasse - respondeu séria

- Eu sei, tem um vapor de olho por aqui, eu vim trazer isso - mostrei as sacolas, ela olhou para as minhas mãos cheias de sacolas e franziu a testa confusa

- Não sei o que você está pensando, mas eu não posso aceitar tudo isso, seu amigo já me ajudou com aquele dinheiro - ela avisou sem graça

- Eu sei o que é sentir a barriga roncar e não ter nem um grão de arroz duro pra disfarçar fome, eu morei por muito tempo nas ruas daqui do morro, já comi comida do lixo pra sobreviver, se hoje eu sou o que sou foi porque eu tive alguém pra me ajudar, sei que pode ser desconfortável no começo porque parece que estamos mendigando, mas como você disse que por sua filha faria qualquer coisa, aceite isso - estendi as sacolas - Tem o suficiente pra dois meses, mas se faltar alguma coisa você pode me procurar na boca central e eu moro a duas ruas pra baixo daqui, é uma casa amarela com um portão de ferro, número 28 - expliquei

Os olhos dela encheram de lágrimas e ela me abraçou por alguns segundos, retribui do jeito que dava pelo peso das sacolas

- Obrigada por isso garoto, você está me ajudando muito, muito obrigada mesmo! - ela falou me apertando enquanto chorava

- Vou te ajudar a guardar isso ok? - ela concordou me dando espaço para entrar

A bebê já estava acordada brincando sozinha no colchão, ela me olhou com os olhos iguais jabuticaba e deu um leve sorriso, acabei sorrindo também

Ajudei a mulher a guardar as coisas na geladeira e nos armários, ela continuou agradecendo varias e varias vezes, e eu disse que não precisava se preocupar, faria isso por qualquer um que eu conhecesse nessa situação, sei que nada nessa vida é fácil, e não tem nada pior que sentir fome, não aquela entre um intervalo entre uma refeição e outra, mas a fome onde seu estômago parece se revirar implorando por qualquer que seja a substância que você vá ingerir.

Morro do alemãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora