Capítulo 02

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As Terras do Oeste eram uma vasta rede de cursos de água, poças de terra para colheitas, aldeias em afloramentos rochosos no norte ou palafitas entre os juncos ao sul e pontes de pedra arqueadas que uniam a terra.

O povo nasceu da água. Vivendo de acordo com as marés, a nascente e a vazante eram seu pulso, a própria força vital em suas veias. Um povo pacífico, grato ao irmão Sol e à Irmã Lua, onde dias de trabalho e noites de descanso eram uma bênção.

Xiao Zhan estava sentado com suas vestes brancas, as pernas cruzadas no tapete de junco, com seus longos cabelos ruivos presos para trás, concentrando-se nos sons da água sob o chão ‐ em como girava em torno dos postes sob seu palácio, em como o acalmava. Ele poderia fechar os olhos e centrar sua mente, trazendo harmonia aos seus pensamentos, preparando-o para as coisas que viriam.

Ouviram-se passos quase silenciosos do lado de fora das paredes de papel de arroz. Ele não ficou alarmado, pois só poderia ser uma de duas pessoas, e ele conhecia bem esse som. Karasu caminhava levemente na ponta dos pés da mesma maneira que uma dançarina ou um assassino experiente, buscando furtividade e graça. Enquanto Kohaku andava mais pesado, do jeito que um soldado corpulento andaria depois de perder uma partida de di.

A porta se abriu com um sussurro. Xiao Zhan nunca abriu os olhos, não se moveu um centímetro, embora sorrisse.

— Olá, Karasu.

— Estamos prontos para partir — disse ela, sentando-se no chão ao lado dele.

Xiao Zhan respirou fundo e finalmente desviou os olhos para ela. Seu uniforme branco de guarda estava impecável, seus longos cabelos negros caíam sobre seu rosto como fitas de seda, seus olhos escuros eram tão afiados quanto suas lâminas. Ela era sua amiga e confidente desde que ele conseguia se lembrar. Kohaku também. Os três eram inseparáveis, apesar do título de rei de Xiao Zhan.

Eles eram um trio improvável. Xiao Zhan tinha longos cabelos ruivos, os de Karasu eram pretos e os longos cabelos de Kohaku eram brancos. Xiao Zhan e Karasu eram semelhantes, altos e magros, ágeis e letais com facas e lâminas, enquanto Kohaku era largo e musculoso. Sua força era a força bruta, caso alguém fosse estúpido o suficiente para representar uma ameaça.

E Karasu e Kohaku estiveram ao lado de Xiao Zhan desde sempre. Eles treinaram com ele, aprenderam com ele, se prepararam com ele. Cada lição, cada aula.

Como líder das Terras do Oeste, era seu dever, e ele assumiu o controle. Ele tinha orgulho de seus ancestrais, de seu povo, e era com grande honra que ele compareceria ao Aequi Kentron em seu nome.

— E sua marca de nascença? — Karasu perguntou.

Xiao Zhan virou o pulso, sua manga caindo para revelar sua marca. Desde as últimas luas cheias, aquilo começara a irritá-lo. Ele suspeitou então que seu destino se aproximava, que as luas e o sol estavam se alinhando de uma forma que o destino não poderia ignorar. Então, dois dias antes, no dia em que o mensageiro chegara trazendo o convite, a marca de nascença de Xiao Zhan começou a queimar. E Xiao Zhan soube então, que o dia para o qual ele treinou havia chegado.

Xiao Zhan passou os dedos pela marca de nascença, sentindo o calor da queimadura. Ele mal era capaz de ignorar, mesmo com a meditação e o controle mental bem praticado. Nem mesmo enfiar o braço na água fria não
diminuía o calor.

— Ainda queima — respondeu Xiao Zhan. — Espero que fique melhor quanto mais nos aproximarmos.

A marca de nascença parecia como sempre: escura contra sua pele pálida e na forma distinta de um peixe koi. Era seu símbolo, sua marca, seu destino. Marcado pelo destino, como todos os quatro governantes dos quatro reinos. Xiao Zhan havia estudado tudo o que podia sobre os outros três, embora não houvesse muito a ser dito.

Golden Eclipse ‧ YizhanTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon