Capítulo 03

834 176 13
                                    

O Aequi Kentron era um espetáculo a ser visto, uma imagem de paz e ordem. A cidadela em si era tão antiga quanto o tempo, rica em história e tradição, construída muito antes da Grande Guerra. Os tijolos de arenito eram feitos à mão, já gastos, mas ainda imaculados. Havia vasos de árvores, vinhas e flores ao longo da entrada. O pôr-do-sol pintava as paredes altas e o sorriso de Soko. Yibo riu dos olhos brilhantes com espanto de seu amigo.
 
O castelo-ilha com fosso foi construído de arenito com quatro pontes que se ligavam a cada terra como ventrículos a um coração. As paredes de arenito tinham como decoração merlon, canhoneiras e ameias ornamentais. Havia bandeiras e flâmulas para cada terra: preto para as Terras do Norte, branco para as Terras do Oeste, verde para as Terras do Leste e vermelho para as Terras do Sul.
 
Se os Grandes Reinos eram uma grande massa de quatro partes iguais, o Aequi Kentron era o alvo.
 
Yibo não tinha ido ao Aequi Kentron por muitos anos, embora não tivesse mudado nada. Enquanto ele e Soko cavalgavam sobre a Ponte das Terras do Norte e para Aequi Kentron, eles estavam oficialmente fora de seu país e em terreno neutro.
 
Um sino badalando anunciou sua chegada e três guardas vieram ao seu encontro. Cada um usava a rosa dos ventos estampada no peito e uma capa amarela; um segurava uma campainha, outro recuou com a cabeça baixa, o terceiro avançou para cumprimentá-los.

— Bem-vindo, Rei das Terras do Norte. Sua presença é uma honra concedida a nós.

Yibo balançou a perna e desceu do cavalo, e Soko fez o mesmo. O terceiro guarda pegou os cavalos e o primeiro acenou com a mão para as grandes portas de madeira.
 
— Para seus aposentos, se você quiser. Depois de tal viagem, banhos e suprimentos foram preparados antes de sua chegada. Por aqui, para a ala norte. Os homens trarão seus pertences.
 
A própria jornada de sete dias tinha sido revigorante se Yibo fosse ser honesto. Sim, seu traseiro apreciaria passar um tempo sem encostar em uma sela, mas ver seu país - as cadeias de montanhas de picos íngremes e neve que davam lugar a colinas antes de se achatar em planícies relvadas; as aldeias, os habitantes da cidade acenando e aplaudindo de alegria ao ver seu rei - era algo que Yibo guardaria em suas memórias para sempre.
 
Passar sete dias e sete noites com Soko era como nos velhos tempos. Na adolescência, eles passavam as noites sob as estrelas, longe dos luxos do castelo, à caça de comida e acendendo fogueiras. Eles também tiveram que praticar pontaria e habilidades de sobrevivência, mas era isso que tornava tudo ainda mais divertido.
 
Eles passaram as duas primeiras noites em pousadas no caminho para o Aequi Kentron, precisando de um banho quente e de uma cama quente. Só um tolo desejando a morte cruzaria as montanhas no inverno e dormiria ao ar livre. Assim, embora as pousadas tivessem fornecido calor e abrigo e enchido suas barrigas com comida quente, também forneciam muitos vinhos de amora, que, por sua vez, forneciam dores de cabeça para o passeio matinal. Mas, à medida que se aproximavam de seu destino e saíam das montanhas, acharam o clima um pouco mais tolerante e optaram por um acampamento improvisado, escondido da estrada.
 
Yibo poderia dizer, sem dúvida, que foi uma das melhores semanas de sua vida. Ele pôde ignorar seu título e ser ele mesmo. Não um rei, nem alguém nascido para a grandeza, nem alguém escolhido pelo destino. Apenas um homem com seu melhor amigo, cavalgando pelo campo.
 
Mas agora eles estavam aqui, onde o destino o esperava, e ele não pôde deixar de se sentir um pouco melancólico.
 
— O quarto não é do seu agrado, meu senhor? — perguntou o guarda.
 
Ele os conduziu ao longo de um labirinto de corredores bem iluminados até a ala norte, subindo as escadas até seus aposentos bastante grandes. Eles estavam em uma sala comum com cadeiras de leitura em uma extremidade e uma mesa com pratos de carnes e frutas, duas câmaras de cama separadas, e um banheiro completo com uma banheira fumegante, como prometido. Isso o lembrou de casa.
 
— Eu gosto — respondeu Yibo, abrindo um sorriso educado. — Diga-me, os outros chegaram?
 
— Apenas um outro. — o guarda respondeu educadamente, sem oferecer nenhuma outra informação.
 
— Você sabe de meus compromissos? — Yibo foi adiante. — É esperado que eu encontre o Cônsul hoje?
 
O guarda baixou a cabeça.
 
— Haverá uma festa esta noite, para homenagear todos os estimados convidados. Ao pôr do sol, um convite formal será entregue com os detalhes, e um mensageiro virá para acompanhá-lo ao grande salão.

Golden Eclipse ‧ YizhanWhere stories live. Discover now