Capítulo 37

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Jacob Gray

Data de óbito, 19 de Outubro de 2019, pelas 16:47. — o médico entrega os papéis para dona Sônia, ditando coisas que eu não entendo.

Obrigada. — dona Sônia agradece e caminhamos para fora do hospital.

Desde que os médicos confirmaram a morte do seu pai, Duda não disse nem um palavra, apenas chorou e me abraçou.

Me dói tanto vê-la assim e saber que não posso fazer nada para fazê-la sentir melhor. Eu mais do que ninguém entendo a sua dor, eu estava do lado do meu pai quando ele morreu, e guardo essa imagem todos os dias da minha vida.

Eu quero que o enterro seja rápido para você poder voltar a escola, minha filha. Pode ser? — dona Sônia fala, ela está tentando ser forte por sua filha e eu admiro isso.

Duda apenas consente com a cabeça enquanto paramos na paragem de táxi, chamando um,  e eu levo nossas duas malas para o porta-malas. 

Dona Sônia vai na frente e Duda se senta do meu lado com o olhar distante.

Dona Sônia dá as indicações para sua casa e o carro faz o percurso até a sua casa.

Ao chegar lá admiro tudo, é simples mas aconchegante. Os vizinhos todos olham para nós depois que descemos do carro, levo as duas malas e caminho até a entrada da casa.

Bando de fofoqueiro. — Dona Sônia diz e destranca a porta.

Entramos na casa e tudo está em ordem e impecável.

Vou preparar algo para comermos e falamos do velório depois, pode ir para seu quarto, eu arrumo todo o dia,também filha,? — dona Sônia diz para Duda que assente. — Filho, hmmm, quarto Duda, comida. — dona Sônia faz gestos engraçados e percebo que ele disse para ir ao quarto de Duda e comida deve ser que vai preparar algo para a gente comer, sorrio e consinto.

Carrego as malas e Duda me leva até seu quarto.

É bem fofinho, com paredes rosas e com borboletas estampadas, uma cama solteiro, um guarda-roupa, uma escrivaninha e uma mesinha de cabeceira.

Largo as malas ao lado do guarda-roupa e Duda se senta na cama. Me sento de frente para ela.

Por poucos minutos ficamos apenas no silêncio, olho para Duda e vejo suas lágrimas rolarem pelo seu rosto, e ela não se dá ao trabalho de limpar, eu mesmo faço, limpo todas elas e acaricio seu rosto, dando um beijo na sua testa.

— Meu pai costumava me contar histórias antes de eu dormir, todas as noites até eu fazer 15 anos, ele sempre fazia uma nova, e não importa o quanto eu ficava mais velha, eu amava ouvir. Ele trabalhava como guarda em um postinho, e mesmo voltando cansado do trabalho, ele sempre me acompanhava para escola, sempre brincava comigo e me fazia rir, íamos a igreja, a praia, a todos os lugares juntos, não suporto pensar que nunca mais o verei. Essa ideia me faz querer desaparecer. — suas lágrimas rolam mais rápido.

— Eu também me senti assim quando eu perdi meu pai, não posso te dizer para esquecer e seguir em frente, a dor é parte do processo para ficar só a saudade, seu pai te ama, ele está aqui com você agora, só que não fisicamente, ele estará sempre aqui para você. Ele te pediu para não ficar triste e disse que estava bem, Duda, ele te ama. — seguro em seu rosto. — Eu também. — então beijo ela.

Dou um beijo nela para passar toda a segurança que ele precisa nesse momento e todo o meu amor, não importa quanto o luto dela vai durar, eu estarei do seu lado.

— Também te amo. — Ela diz finalmente sorrindo.

— Agora sim, olha que sorriso lindo. — brinco com ela, a fazendo rir.

Ele conseguiu fazer você sorrir. — dona Sônia diz encostada a batente da porta segurando uma bandeja com pratos com esparguete e suco de uva. — Fiz esse esparguete para você,  Dudinha. — ela deixa a bandeja na cama e dá a cada um de nós.

Obrigada, mainha! — Duda diz sorrindo e sua mãe sorri de volta e posso perceber algumas semelhanças entre elas, mas Duda era sem dúvida uma cópia de seu pai. — Vamos orar.

Instantaneamente fecho meus olhos e Duda diz palavras que eu não entendo.

Comemos e oiço a conversa de Duda e sua mãe, conseguimos organizar o velório para daqui a dois dias.

DOIS DIAS DEPOIS

Chegou o dia do enterro, o clima aqui está bem pesado. Duda acordou bem cedo e ficou apenas sentada na cama como se não quisesse mesmo ir, mas acabou se levantando e se preparando, dona Sônia também se preparou e está com a mesma feição da Duda.

Eu vesti o terno que trouxe e amarrei meu cabelo, para parecer mais formal.

Duda está com um vestido preto rendado, de manga curta e sapatilhas pretas também. Seu cabelo está solto e muito bem penteado e seu rosto completamente lavado, sem nem um pingo de maquiagem. Caminhamos em silêncio até ao carro que nos levaria ao cemitério, chegando lá vejo poucas pessoas ao lado da capela montada para a cerimônia.

O padre faz todo aquele processo e todo falatório, o caixão é colocado na cova e lançamos as flores. O padre pede a palavra de família e amigos e Duda é a primeira a falar.

— Meu painho foi um grande homem. Sempre foi bastante trabalhador e honesto, ele me ensinou tudo da vida e me deu o melhor que conseguia. — ela funga. — Ele me ensinou a amar a Deus antes de tudo e a nunca duvidar dos seus trilhos, por mais dolorosos fossem e hoje entendo isso, estou sentindo uma dor imensa, mas sei que ele está num lugar melhor, ao lado de Deus e dos meus bisavó, ele nunca será esquecido e serei eternamente grata por tudo que ele fez, faz e fará por mim. Painho, eu sei que o senhor está me ouvindo, eu te amo muito e sei que o senhor está feliz, obrigada por tudo, você sempre me chamou de estrelinha, mas agora você se tornou numa estrela. Te amo, muito, muito mesmo. — ela diz chorando bastante e eu a abraço forte.

Depois de mais algumas palavras taparam a cova e saímos do cemitério até a casa de Duda onde as pessoas foram confortar a Duda e sua mãe.

Depois que todos foram Duda me chamou para caminhar.

Enquanto caminhavámos ela não tirou os olhos do chão. Apertei sua mão e a abracei.

— Como você está? — pergunto para ela.

— Estou bem, tenho a certeza que meu pai está melhor agora. Ele está feliz. — Ela sorri para mim. — Vou sentir saudades dele, mas ele estará sempre comigo, com a gente. — ela olha para mim e depois para o céu. — Olha. É ele, tenho a certeza — ela aponta para a  estrela mais  brilhante no céu.

— Te amo, Maria Eduarda! — digo de repente.

— Também te amo, Jacob. — ela diz e me dá um beijo.

Depois que nos afastamos, Duda me abraçou forte. Seu coração batia tão rápido que eu podia senti-lo. O meu também devia estar no mesmo ritmo. Todos os dias tenho a certeza do amor que sinto por ela, Duda é simplesmente o que eu preciso para me levantar todos os dias.

Duda é você? — oiço uma voz masculina atrás de Duda e olho para um cara ruivo que estava ao lado de uma garota também loira e olhando para Duda.

— Caio ? — Duda diz espantada.

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