Capitulo 21

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Havia algo prazeroso no modo como ela se encaixava na curva de seu braço, a cabeça aninhada entre o bíceps e o ombro. O cabelo loiro comprido estava espalhado por sua pele, as mechas fazendo cócegas em seu peito quando ela se movia. Eles passaram o resto da noite conversando, até nenhum dos dois ter mais energia para falar. Na cama, fizeram amor de um jeito doce — bem diferente da transa que ele imaginou e muito mais prazeroso também.

Um raio de luar encontrou seu caminho através de uma abertura nas cortinas, dando um brilho pálido à parede pintada de cinza em frente à cama. Bateu no vidro que cobria as molduras que ele havia fixado com prego e, por um momento, ele olhou para as cenas em preto e branco, se lembrando de onde estava quando tirou aquelas fotos.

Manila foi o primeiro lugar que visitou após sair da cidade, pegando um voo de Washington para Seul e depois para a movimentada cidade nas Filipinas. Era chamada de Pérola do Oriente por boas razões. Foi a dualidade de Manila que o atingiu assim que ele chegou. A extrema pobreza misturada com a riqueza ostensiva, de uma forma que ele nunca havia encontrado nos Estados Unidos. E, no entanto, não havia inveja em relação a ele, como era de se esperar, nem o tipo de animosidade que tal divisão provocaria no Ocidente. Em vez disso, encontrou um grupo de pessoas que amavam a vida, festejavam intensamente e o receberam de braços abertos. Ele passou seus dias tirando fotos, perambulando por Intramuros, a antiga cidade murada, montando o tripé e esperando até que a luz estivesse perfeita. E à noite se encontrava com amigos, ia a restaurantes, dançava com garotas sensuais que pareciam muito dispostas a passar um tempo com um cara bonito.

Foi lá também que vendeu suas primeiras fotos antes de conseguir um contrato com a National Geographic. Ele se tornou amigo de um influente repórter da região, e pela primeira vez percebeu que poderia ser pago para fazer algo que amava.

Afastando o olhar das fotografias, contemplou a mulher deitada em seus braços, observando a pele perolada e o modo como os lábios rosados e macios formavam um “o” enquanto ela dormia.

Parecia tranquila, despreocupada e muito mais relaxada do que quando se encontraram naquela noite. Eles concordaram em não conversar ou pensar sobre o que acontecera no restaurante, afinal não havia nada que pudessem fazer a respeito. Em vez disso, fecharam a porta e as cortinas, bloqueando o mundo até serem apenas os dois enquanto ele a levava para o quarto.

Ele a abraçou quando deslizou para dentro dela, mantendo os olhos abertos, apesar do modo como sua umidade quente o dominava. E ela o encarou de volta, os olhos arregalados, os gemidos baixos, as pernas envolvendo seus quadris quando o puxou para mais perto até ele não conseguir descobrir onde ela terminava e ele começava.

O sexo com ela o fazia se sentir primitivo, quase dolorido em sua vulnerabilidade, e isso o abalou de uma forma que não acontecia havia muito tempo.

O acontecimento mais próximo a que ele podia comparar era o momento em que Matthew viera ao mundo, todo vermelho, chorando e gritando, anunciando sua chegada da maneira mais estridente possível.

Parecia um começo, mas também um final.

Se ele fosse romântico, diria que parecia amor.

A luz do luar se moveu, deslizando lentamente através das tábuas do assoalho de madeira. Em menos de uma hora, provavelmente, bateria na cama, acordando-a. Com calma, ele tirou o braço de baixo dela, deitando sua cabeça no travesseiro enquanto ela continuava a dormir, então apoiou os pés no chão, se levantando para pegar o short que havia tirado mais cedo naquela noite.

Puxando a cortina para cobrir a abertura, ele se virou e a viu ali deitada na escuridão. Seu corpo nu estava enrolado nos lençóis brancos. Comparada à cama enorme, ela parecia pequena. E ainda assim tinha força. Uma força que ela desconhecia. Um núcleo de aço sob aquela pele macia, que lutaria até a morte para proteger a filha.

Uma luz no Outono - Adaptation NoartWhere stories live. Discover now