Capitulo 27

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Sina ajeitou os joelhos embaixo do queixo, abraçando as pernas enquanto se sentava na cadeira perto da janela do quarto, olhando para o outro lado do pátio e para a construção de estuque branco do lado oposto. Ele estava lá em algum lugar, arrumando a mala ou imprimindo a passagem. Talvez estivesse acomodando o equipamento fotográfico nas caixas, embalando a câmera e as lentes para transportá-las com cuidado sabe-se lá para onde.

A pressão no peito não aliviou em momento algum desde que ele dissera que ia viajar. Na verdade, havia ficado ainda mais forte enquanto ela olhava para o celular, imaginando se ele ligaria de volta e prometeria logo estar em casa. Será que ia mandar uma mensagem para dizer que sentia tanto a falta dela quanto ela a dele?

Só precisava fechar os olhos para se lembrar do jeito dele na última vez que estiveram juntos. Quando ele lentamente deslizara para dentro dela, os olhos capturando os seus com intensidade, a respiração suave, os beijos gentis. Ela se sentira segura nos braços dele. Houve um momento — logo depois de atingirem o clímax — em que não conseguiam tirar os olhos um do outro. Foi como se ela tivesse encontrado tudo o que sempre havia procurado bem ali, acima dela.

Agora estava terminado e doía demais.

Sammy se deitou na cama sem reclamar, caindo direto no sono, apesar de ter cochilado mais cedo. A casa estava quieta e escura. O silêncio ricocheteava nas paredes, lembrando-a de como estava sozinha. Que não valia a pena lutar por ela.

Sina seguiu sua rotina da hora de dormir no piloto automático.

Lavou o rosto, escovou os dentes e vestiu o pijama felpudo. Embora tivesse aumentado o aquecedor, ainda sentia frio. Ela se deitou na cama, puxando a colcha com firmeza, mas seu corpo ainda tremia embaixo dos cobertores. Alguns momentos depois, ouviu o barulho de pés descalços nas tábuas do piso do lado de fora do quarto.

Sammy abriu a porta e cruzou a curta distância até a cama sem dizer nada, se aconchegando e abraçando Sina.

Quando foi a última vez que a filha havia dormido em sua cama?

Sina não conseguia nem se lembrar. Talvez quando era bem pequena, com medo do escuro e procurando conforto onde quer que pudesse encontrá-lo.

Sina a abraçou, acariciando o cabelo da menina enquanto Sammy se aconchegava nela, fechando os olhos com força. Talvez outro dia ela a tivesse levado de volta para a cama e ficado lá até Sammy adormecer. Mas não nesta noite.

Porque esta noite ela precisava de conforto tanto quanto a filha.

Na manhã seguinte, Sammy acordou antes de Sina. A primeira coisa que Sina ouviu foi o piso do banheiro rangendo quando a menina foi até lá. Um minuto depois, o som da descarga seguida de água corrente deixou claro para Sina que seu dia havia começado. Olhou na porta espelhada do armário, vendo as marcas vermelhas reveladoras ao redor dos olhos. Sua pele estava pálida, as bochechas, finas, e seu cabelo loiro — geralmente tão ondulado — caía sem jeito sobre os ombros.

Estava péssima.

De alguma forma, conseguiu preparar Sammy para a escola. O cabelo foi penteado, o almoço embalado e, como de costume, teve que lembrá-la três vezes de escovar os dentes antes que ela finalmente cedesse, indo até o banheiro enquanto revirava os olhos.

A carência da noite anterior havia desaparecido, substituída por sua força característica. Mesmo que isso significasse mais trabalho para Sina, ela estava feliz em ver que o espírito de luta da filha havia voltado.

Estavam apenas alguns minutos atrasadas quando chegaram à escola. Sina parou em uma pequena vaga nos fundos do estacionamento, estremecendo com os modelos caros estacionados ao lado do seu veículo.

Uma luz no Outono - Adaptation NoartWhere stories live. Discover now