Ao seu lado

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Com o céu ainda claro, Jungkook respirou fundo, sentindo uma brisa desagradável contra seu rosto. Tentava descontar sua tensão nas longas passadas, mas, seu estômago insistia em embrulhar mesmo sem ter ingerido nada além de uma xícara de café amargo.

Seu lobo continuava arisco ao caminhar por aqueles corredores esbranquiçados, o lugar com cheiro de medicação e álcool, era um odor forte demais que irritava seu olfato e fazia sua cabeça latejar.

A bloco reservado para transtornos psiquiátricos foi reformada a pouco tempo, mas os antigos azulejos desbotados ainda estavam preservados nas paredes, e a enorme placa indicava onde ficavam os quartos dos pacientes internados.

Depois de tudo o que aconteceu, o atual líder da aldeia mostrava a cada dia toda a sua imensa generosidade, até mesmo com aqueles que não mereciam. Talvez o próprio Jungkook não tivesse tamanha bondade em permitir que aquele homem fosse trancafiado ali, mesmo não sendo acomodações confortáveis, ainda assim parecia muita benevolência por alguém que cometeu tantas atrocidades.


Junhoe tocou no ombro do mais novo com um sorriso amarelo, quando chegaram de frente à última porta do lugar. Os irmãos se entreolharam com amargura, para começo de conversa, nenhum deles gostaria de voltar ali mais uma vez.

A porta foi aberta pelo mais velho, ambos cumprimentaram a matriarca que tricotava algo para passar o tempo. Junhoe foi o primeiro a sentar-se ao lado da mulher de cabelos grisalhos ignorando a presença do homem.

Não sabiam se o velho Jinyoung poderia ouvi-los de fato, seus olhos pareciam sempre fixos em um único ponto do quarto e seu braço estava sempre ligado a uma bolsa de soro.

Seu rosto a cada dia que passava aparentava ficar mais abatido. Com o pouco que conseguia mover-se para se alimentar, ele ingeria apenas líquidos e refeições pastosas, o que não estava sendo mais suficiente para manter o corpo na sua melhor forma.

O filho mais velho tentava mostrar-se animado, sempre fazendo a senhora sorrir com suas histórias sobre a pequena filhote, sua nova casa e como era bom estar de volta, enquanto Jungkook passava boa parte do tempo calado.

A presença do velhote ainda o incomodava mesmo inválido, sentia como se o olhar inexpressivo no rosto do outro pudesse o queimar.

— Mamãe, por que não saí conosco? Não precisa ficar todo o dia enfurnada nesse quarto, a senhora não cometeu nenhum crime — reclamou impaciente.

— A senhora é jovem — Junhoe disse com um sorriso arteiro nos lábios. — Não desperdice seus dias, está cheio de médicos solteiros lá fora.

— Não diga besteiras, garoto — a mais velha protestou sorridente, batendo no ombro do filho. — Quando casamos prometemos estar ao lado um do outro na saúde e na doença.

— Mas, ele não está doente — Jungkook disse rapidamente sem pensar. A tensão no rosto dos três era notável, o ar desconfortável de antes pareceu pesar novamente sobre seus ombros. Embora fosse a verdade.

O velho Jinyoung não estava ali por causa de uma enfermidade, seu atual estado era fruto de suas escolhas desonradas.

Jeon ainda era um filhote quando o patriarca tramou contra a família do amigo, por mais que tentasse, suas únicas recordações eram com um homem cruel que nunca o parabenizou por ser o melhor da turma. Nunca o abraçou quando acordava chorando depois de um pesadelo.

Não, Jinyoung era apenas um homem que o batia e dizia Jungkook ser como seu irmão mais velho, obediente e forte.

— Eu deveria ter ficado — Junhoe se lamentou. — Era meu dever proteger a senhora e o Jungkook, fui um covarde.

A Marca de um AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora