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Toquei a campainha e corei.
Queria te ver. Não deu para disfarçar. Estive pensando alto a noite inteira.
Enviando da forma mais doce possível, a solicitação para que apoiasse sua cabeça em meu coração palpitante.
Ele parecia querer falar diretamente entre batidas descompensadas.
Eu sonhei com você
Com seus lábios em formato de coração abertos sobre os meus, logo se fechando devagar.
Como se fossem feitos para estar juntos.
Você me decifrou de maneira tão real.
Tua boca, linda lua sobre o mar.

- Aish! Faz esse barulho parar, por favor!- Levo um empurrão de Shizuki e caio do pequeno espaço que eu havia conquistado.

Depois de muito esforço, consigo deixá-la desperta. Como se por um curto período estivesse com amnésia, lembro que ele está na sala, e com a memória de sua presença vindo, logo a do sonho me atinge.

- Ele já foi?- Sussurro desapontada, porém aliviada.

A roupa de cama dobrada perfeitamente e nem preciso me aproximar muito para sentir o cheiro de macadâmias e amêndoas. Me perco na forma como senti tão profundamente seus lábios neste exato lugar, mas em outra realidade.

   A calma playlist da cafeteria quase me faz cochilar sobre o balcão. Tento manter o foco todo para a ansiedade de ir para a galeria e entrar naquele lugar como eu almejei desde o primeiro dia de trabalho. Como uma artista.

- Alguém perdeu isso- Shizuki pega o livro que foi deixado sobre a cadeira logo quando estamos fechando o lugar.- Nesse dia entediante, nada como uma leitura.- Vejo seu olhar longe e tenho a mais plena certeza que isso não faz parte da ressaca por conta da noite anterior.- Quem sabe, assim eu crie vergonha na cara e vou ler um livro ao invés de me encantar com o primeiro garoto fofo com cara de nerd que me oferecer um suco de melancia.- Faz careta encarando o objeto em mãos, ignorando totalmente a reação que suas palavras causam em mim.

- Ryeoun?- Minha boca fica escancarada juntando as peças do garoto comprando um suco para Shizuki na noite passada.

   Se eu estivesse com a cabeça sem ser em outro lugar, talvez prestasse atenção em como Shizuki ficou com o ato repentino ou no silêncio incomum da minha amiga que havia se instalado.

   Ela dá de ombros e por incrível que pareça, está sem graça. Por fim, vejo entusiasmo em seu olhar atrás de mim.

- Acho que essa conversa vai ficar para outra hora, senhorita Maya.- Franzo o cenho e me viro. Um sorriso bobo por vê-lo.

   As mãos afundadas nos bolsos do casaco, e a expressão de calma enquanto espera por algo, por alguém, faz com que no meu ver, o calor que ele emana se espalhasse e acabasse com o frio da tarde.

   Shizuki me entrega minha bolsa e sussurra que eu deveria ir na frente para me adiantar no caminho para a galeria e pisca desajeitadamente. Respiro fundo e saio do lugar com o olhos focados em meus passos. Ele me nota e acena enquanto caminho em sua direção.

- Oii!- Seu timbre me arrepia. Respiro profundamente em frente a ele. Os cabelos escuros caindo sobre a testa.- Queria me desculpar por ter saído tão cedo e sem ao menos lhe agradecer pela noite...- Parece querer dizer algo mais, porém, se limita.- Então, desculpa e muito obrigado!- Não pude conter o esboço de sorriso que se formou em meu rosto.

   Ele me acompanha durante o caminho pela praça. Vez ou outra fito seu rosto descaradamente, uma dessas vezes, me faz perceber a mudança em seu semblante e procuro o que despertou o olhar e o sorriso mais espontâneo que já presenciei.

- Olá!- Mingyu se abaixa perto de um Golden Retriever e sorri para o dono do bichinho.

   Me sinto apreciando um quadro no museu. Aquele que todo mundo nota de cara e se destaca com suas cores quentes e aconchegantes. O cachorrinho lambe seus dedos e vejo ele jogar a cabeça levemente para trás enquanto ri feito uma criancinha, você não sabe o quão fofo é isso, mas eu sei. Faz uma voz diferente ao se comunicar com o bichinho peludo. Não consigo conter o riso. Sua atenção é voltada para mim e ele captura a imagem que nem sempre é tão constante.

- Seu sorriso é único.- Comenta quando estamos sozinhos e estou ficando mais tímida que o comum.

   Me conta sobre os cachorros que tem na Coreia e me faz imaginar cenas como as de agora acontecendo frequentemente.

- Como assim você não gosta de cachorros?- Sua indignação me dá vontade de rir novamente.

- Eu não disse que não gosto, é só que em relação a animais, não acho que me identifico com cães ao ponto de ter.- Ele interrompe meu caminho e me fita por alguns segundos. Perto demais. Perco controle da respiração e a prendo.

- Uhmm... E gatos? Você se parece muito com um.- Ele sorri fazendo os olhos virarem linhas e minhas bochechas se colorirem.- Não é muito comunicativa, não parece que é porque não gosta, só parece mais acostumada a escutar. Como se fosse acostumada a falar silenciosamente. Se expressar de maneiras diferentes.- Me silencio e o observo falar de mim de forma tão íntima.

   Livre das grades da perfeição. Tem tanto que quero lhe dizer e você não sabe.  Eu não acredito na beleza que vejo.

   Logo que chegamos ao ponto de ônibus, o meu se aproxima. Ele sorri em forma de despedida e eu faço o mesmo, mas antes de me deixar ir, sinto algo em volta dos meus ombros.

- Para não sentir frio.- Me aconchego com o casaco ligeiramente quente.- Está aquecida?

- O cheiro é bom.- Olho para baixo timidamente e quando volto a atenção para seu rosto, vejo seu sorriso inocente com os olhos brilhando.

Sky. {Mingyu} EM MUDANÇAWhere stories live. Discover now