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MAYA

Abro a porta e me deparo com o corredor completamente vazio. Reviro os olhos por saber que muito provavelmente foram os pestinhas do meu andar querendo me desconcentrar e assim fazendo a inspiração evaporar aos poucos.

   Volto ao meu quadro, esse quase terminado. Vendo o que fiz, chego a sentir orgulho. Capturei perfeitamente a beleza dele, cada mínimo detalhe que vi nesse sonho inspirador. É tão real que me faz ter a mesma sensação de quando seu hálito quente batia em meu rosto por estarmos próximo um do outro.

   Ao invés de acabar de pintar, fito a parte vazia do lugar, cogitando a ideia de tentar dormir só para assim, quem sabe, reencontra-ló. O pensamento é interrompido pelo ronco monstruoso que vem da minha barriga, fazendo perceber que nem ao menos tinha comido. Claro, sem contar pelo lámen do Sr. Nishimura, que sem duvidas é o melhor de Seul. Se não for o da Coreia inteirinha. Meu dia só fica completo quando como um desses na saída do trabalho. O estrondo aumenta com a lembrança do sabor único de uma das minhas comidas prediletas.

   Levanto e caminho em direção a minha pequena cozinha, no momento em que a fome finalmente vence a preguiça de 2x1. Abrindo a geladeira, a atenção é voltada para o restante do tteokbokki que não consegui comer. Pego a bandeja mesmo sabendo que a quantidade não irá acalmar o meu estômago, que está mais para buraco negro.

   Depois de devorar tudo, ligo imediatamente para uma pizzaria. Tomo um banho demorado e visto a primeira coisa que vejo. Uma blusa larga para usar como vestido parece perfeita. Na espera da massa tamanho grande, observo a vista da minha varanda. As luzes dos prédios próximos trazem uma sensação melancólica. O céu está estrelado com a lua mais linda da semana, ganhando todo o holofote.

   Um sorriso surge junto da lágrima chata que cismou em cair, mas que de imediato é afastada pelos meus dedos gelados. Tenho saudades dela. De seu auto astral que, junto da minha seriedade, se completava. Estar sozinha não me incomoda, mas... Deus, como dói a falta que minha mãe faz.

   Desperto do momento nostálgico e vou atender a porta. Vejo a comida, sinto que a fome de antes não está mais presente. Abocanho apenas um pedaço da pizza de frango teriyaki e a deixo de lado. Deito no sofá, o desânimo junto de coisas que me fazem refletir como minha vida é sem graça, tomaram conta do cômodo como uma nuvem carregada de chuva, abeirando-se prestes a cair.

MINGYU

Os olhos perdidos na parede branca estão vazios, mas ainda assim tão cheios de dor. Continuo surpreso com os últimos acontecimentos, porém confesso que a feição que Maya possui quase me faz esquecer as perguntas sobre a pintura, para ser substituída pela dúvida de "por que parece que se eu tivesse um coração ele estaria em pedaços?".

Quero que ela saiba que tem a mim. Que estou aqui e faria qualquer coisa para nunca mais ver a força que faz, enquanto luta bruscamente para não deixar lágrimas tão pesadas caírem.

Guarda tanto dentro de si, como se houvesse um baú trancado cheio de tristezas e a chave estivesse perdida. Eu quero ser o que a encontra. Saber mais sobre suas fraquezas. Proteger é pouco. Sei que posso fazer mais. Só não tenho ideia de como.

As pálpebras estão fechadas há algum tempo. Ela se mexe um pouco desconfortável no sofá pequeno. Surpreendentemente, levanta tão desperta que penso na ideia de ter estado acordada apenas com os olhos fechados, talvez por já ter observado cada mísero detalhe do local.

Um novo quadro passa a ser preenchido rapidamente. Fico de pé ao seu lado. Sigo cada movimento do pincel levemente sujo de tinta. E um rosto começa a ser formado. Os cabelos molhados da chuva que ela faz questão de destacar ao fundo. Tenho a impressão de que lágrimas escorrem, mas são disfarçadas pelos respingos de chuva.

Não sei o que é, mas o mesmo "sentimento" daquela noite volta no meu corpo gélido. A culpada da reação que tenho, sorri para a tela sem dizer sequer uma palavra. Meu rosto estampado na pintura faz um sorriso ainda maior que o dela surgir em meus lábios. Provavelmente a imagem que acabou de ter em mais um sonho.

Está bem, e de alguma forma, com minha ajuda. Mas por que ainda estou inquieto? Insatisfeito e perdido, pensando se o formigamento apareceria caso a abraçasse agora. Querendo com todas as forças que ainda me restam, sentir sua pele e o toque retribuindo meu ato impulsivo.

Sky. {Mingyu} EM MUDANÇAOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz