Capítulo 6

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|Mariah|

Ainda encaro a foto que ele me enviou, acho que ele não tinha a mínima noção de como era bonito e com uma criança sobre o peito, só piorava a situação. Suspiro e resolvo deixar o telefone de lado, não dava mais para continuar olhando aquela foto. Era tortura.

Continuo olhando os anúncios de casas. Eu precisava de uma grande para poder migrar meu laboratório para lá. Eu já vinha pensando a muito tempo em ter meu espaço, mas era difícil pra mim cortar o cordão umbilical com meus pais e meus irmãos, mas agora que Gabe já fez o caminho dele, eu precisava fazer o meu.

Anúncios existem aos montes, mas nada me agrada de imediato. Meu pai escolhe aquele momento para entrar no quarto.

— Trouxe para você — Recebo uma caneca de café quentinho e sorrio para ele.

— Obrigada — Ele se senta na cama e olha para a tela do computador.

— Você não está pensando em se mudar, não é? — Giro a cadeira ficando de frente pra ele. Só de ver seus olhos já percebo que ele está triste.

— Sim — Escolho a sinceridade de uma vez.

— Filha as coisas com sua mãe vão se resolver, você sabe — Ele acaricia minha bochecha.

— Eu não estou com raiva da mamãe, talvez magoada, mas com raiva, não. Eu juro. Eu sei que não sou fácil, mas ainda é complicado pra mim. — Ele ainda não parece convencido. — Eu sinto que preciso seguir minha vida, todos seguiram. Laura formou sua família, assim como Pedro, Isabella e meu irmão com a Manu. Todos conseguiram seguir seus caminhos, mas eu me prendi por anos nessa bolha e eu to tão cansada, papai — Ele me olha com compaixão e me abraça.

— Eu sei filha, mas não precisa ir embora para isso — Sei que como advogado ele já tem um arsenal de fatos para me convencer a ficar.

— Eu já me decidi, pai. Eu quero ter meu canto, seguir minha vida, viajar. Eu não aguento mais sofrer pelo que não conquistei, entende? — Ele assente.

— Por que não viaja por um tempo? Você nunca mais viajou — Aquilo era verdade, perdi o prazer até nisso.

— Está nos meus planos futuros, mas não agora. Eu tenho um contrato de um ano com a Betamedic e ainda falta alguns meses para acabar — Explico a ele.

— Eu tenho um amigo corretor, se quiser o contato — Só ele sabe como deve estar sendo difícil dizer aquilo pra mim.

— Eu gostaria muito — Sorrio e ele se levanta para dar um beijo na minha testa.

— Vou te enviar o contato, esses anúncios são muito cansativos, ele vai filtrar melhor pra você. Só peço que não escolha um lugar longe e abandone a gente como a Laura fez com os pais dela — Laura tinha saído do Rio com a promessa de voltar logo e nunca mais voltou, hoje vive em minas com o marido e as filhas.

— Jamais faria isso — Ele sorri um pouco mais conformado e sai do quarto.

Desligo o notebook e vou pra cama. Releio a conversa que tive a pouco com o Enzo e sinto toda a raiva de novo. Não era a primeira vez que aquela criança era maltratada pela própria mãe. No casamento da Isabella e Laura, eu mesma vi as assaduras terríveis que aquela criança tinha, sem contar no leite estragado que ela deixou para o Enzo dar a ele. Suspiro tentando controlar a raiva. Agora que ela foi internada me pergunto se ela estava bem mentalmente falando. Acho que a resposta é não. 

***

Acordei bem cedo e estava adiantando alguns relatórios que precisavam ser enviados até o fim da semana quando meu celular apitou uma notificação.

Hoje e Para SempreWhere stories live. Discover now