Capítulo 23 {BÔNUS ISIS}

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|Isis| 

O jantar hoje foi silencioso. Meus pais estavam tristes com a mudança da Mariah. Já tínhamos vivido isso com a saída do Gabe e agora com ela. Eu sabia que todas atenções iriam recair sobre mim e isso era péssimo. Sempre foi fácil esconder de todos minha vida particular. Gabe vivia para o trabalho e minha irmã na dor da perda dela. Ninguém prestava muita atenção em mim e isso era ótimo. Eles viam o que queriam ver. Agora sinto que isso está prestes a mudar.

— Vai sair hoje filha? — Minha mãe me desperta dos meus pensamentos.

— Sim, vou em uma festa na casa da Pan — Minha mãe olha para mim com um olhar diferente.

— Aonde mora essa Pan, mesmo? — Questiona.

— No arpoador, mãe. — Explico, torcendo para ela não fazer mais perguntas.

— Quer uma carona? — Nego com a cabeça já levantando.

— Não precisa, pego um Uber — Ela me olha de novo. Será que ela desconfia de algo?

— Eu levo você, filha. Não é bom ficar confiando nesses motoristas de aplicativo — Meu pai insiste com um sorriso nos lábios.

— Ok. Vou me arrumar — Decido não contrariar. Fingir naturalidade era sempre a melhor forma.

Desligo chuveiro e me enrolo na toalha. Encaro meu reflexo no espelho. Já faz tempo que me sinto escondida sobre minha própria casca. Queria ser sincera com todos, mas não posso. Não sei como reagiriam, minha mãe que vem de um berço evangélico. Eu sei que ela não aceitaria. Meu pai ficaria arrasado.

Visto a saia de couro preta que minha mãe trouxe da sua ultima viagem, um cropped branco e minhas botas de salto médio. Os cabelos loiros bagunçados são apenas jogados para o lado. Passo um batom vermelho, porque sei que ela gosta. Hanna gosta assim. É tão ruim ter que esconder ela de todos, quando eu queria estar com ela em todas as festas de família, mas Hanna também não acha conveniente pela nossa diferença de idade. Quinze longos anos. Diz que meus pais vão ser totalmente contra.

Meus amigos dizem que Hanna não gosta de mim de verdade, mas eles não sabem o que dizem. É claro que ela gosta. Eles dizem que ela me trai. Mentiras e mentiras. Eu sei que ela jamais seria capaz de fazer algo assim comigo. Já pronta, vou até a sala e meu pai se levanta.

— Já volto, amor. Vou levar a Isis na festa — Meu pai beija a testa da minha mãe e ela continua me olhando esquisito.

— Até amanhã, mãe — Beijo seu rosto como sempre.

— Qualquer coisa me ligue, ok? — Assinto e saio andando para fora com meu pai.

O caminho até a festa é feito com conversas banais sobre meu sobrinho e a mudança de Mariah, meu pai está triste, mas sei que logo ele supera.

— Prontinho, entregue — Ele olha a fachada da casa e escuta a musica.

— Obrigada, papai — Beijo seu rosto e saio do carro.

É uma festa pequena na casa de uma das meninas da escola. Seus pais estão sempre viajando e ela acaba fazendo essas recepções para aplacar o tédio. Não posso reclamar, afinal foi em uma dessas festas que conheci a Hanna. Eu estava mais uma vez tentando sentir atração por um menino que já tinha bebido demais e não me deixava sair do corredor. Ele tentava me beijar a todo custo quando ela chegou. Hanna é tia de uma das minhas amigas da escola. Eu nunca acreditei em amor a primeira vista, mas eu juro que senti isso quando olhei pra ela. Hanna era segura. Usava cabelo curto, bem pretinho e várias tatuagens pelo corpo. Não usava roupas femininas. Ela era absurdamente linda e eu senti meu corpo reagir na hora. Hanna deve ter percebido, pois sorriu para mim e me ofereceu uma bebida. Conversamos por horas e ela me chamou para seu quarto. Eu nunca tinha tido contato com uma mulher antes. Beijei alguns meninos por pura pressão das minhas amigas, mas nunca me senti empolgada ou tentada por eles, mas com Hanna era diferente. Ela me fazia vibrar a cada toque, a cada beijo. Seu corpo coberto por tatuagens me fazia queimar, eu nunca havia sentido aquilo. Passamos uma noite inteira juntas e quando acordei na manhã seguinte só queria voltar no tempo e viver tudo aquilo de novo. Me surpreendeu ela querer manter contato, pela nossa diferença de idade. Ela já era uma mulher dona do próprio nariz. Independente. Nunca pensei que ela quisesse uma menina como eu.

Hoje e Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora