14 | Jacinto Amarelo

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2 de agosto de 1987

Mesmo antes de Hermione abrir os olhos, tudo estava claro demais. Alguém precisava desligar o sol. Gemendo com o latejar em seu crânio, ela semicerrou os olhos para aquela luz horrível... e quase gritou. Uma mulher com olhos inchados de lágrimas e cabelos lisos e grisalhos estava de pé sobre ela.

— Bom dia — a mulher disse, sorrindo de uma forma que Hermione reconheceu instantaneamente. Esta tinha que ser a mãe de Snape.

Em algum momento depois de ela ter cochilado na noite anterior, Hermione aparentemente foi transferida para o sofá de Snape e enrolada em um cobertor de crochê gasto. Ele deve tê-la levitado ali. Ofegante enquanto as memórias embaçadas pela vodca se aguçavam e se tornavam mais claras, ela procurou sua varinha para lançar um Obliviate em sua companheira. Apenas o peso do colar contra o peito a deteve. Oh. Glamour de volta ao lugar. Snape deve ter cuidado disso também.

Depois que eles se beijaram. Ela beijou Snape. E viveu, ao que parece.

— Err, bom dia — Hermione disse com uma voz rouca. — Sra. Snape?

O sorriso tremeu e desmoronou.

— Me chame de Eileen. E você é?

— Heather Hughes. Eu moro na casa ao lado. É... prazer em conhecê-la.

— Mm. Vamos lá, então. Parece que você está precisando desesperadamente de um café.

O café não extinguiria o sol, mas provavelmente ajudaria a exorcizar o demônio que martelava o cérebro de Hermione. Ela seguiu Eileen até a cozinha de Snape. Era a imagem espelhada do mesmo cômodo da casa de Charity, com tudo trocado para o outro lado. Abrindo um armário torto, Eileen tirou duas canecas – as únicas duas canecas. Snape tinha dois de tudo: talheres, pratos, copos. Hermione supôs que ele não era do tipo que gosta de jantar.

Na única ocasião em que Snape preparou uma bebida quente para Hermione, ele o fez usando magia para aquecer a água. Eileen fazia tudo do jeito trouxa, brigando com um fogão que parecia não ser usado desde que Snape era criança. Eventualmente, ela colocou uma caneca cheia de café preto na frente de Hermione.

— Severus parece não ter leite — Eileen disse enquanto se abaixava para procurá-lo. A geladeira fez um barulho doentio quando ela fechou a porta. — Ou qualquer coisa, exceto um pote de mostarda vencido. Ele come , não é?

— Ele come. Eu o vi fazer isso. — Hermione experimentou a bebida amarga e com gosto de queimado. — Compras, por outro lado, nem tanto.—l

Enfiando a mão no bolso de seu vestido trouxa, Eileen tirou um frasco amassado. Ela derramou um gole do que cheirava a uísque na caneca de Hermione, seguido de uma dose mais generosa na sua.

— Para revigorar — disse Eileen. — A melhor coisa para isso.

— Ah. Hum, obrigado.

Eileen foi até a janela e olhou para o jardim. As mudanças devem tê-la surpreendido, mas ela não disse nada sobre elas. Apenas seus goles ocasionais quebravam o silêncio, até que o estrondo de uma voz masculina se intrometeu: um mecânico na oficina, gritando com um colega de trabalho. Eileen se encolheu.

— Você está gostando da sua visita até agora? — Hermione perguntou, por falta de algo melhor para dizer.

Eileen piscou para ela.

— Severus não lhe contou a razão pela qual estou aqui? Meu marido morreu. Então, não, devo dizer que a visita não foi particularmente agradável.

— Oh. — Desejando poder afundar no chão e desaparecer, Hermione apertou ainda mais a caneca com as mãos. — Eu sinto muito.

— Não sinta — disse uma voz familiar.

The Poison Garden| SevmioneWhere stories live. Discover now