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Noah Urrea 
Los Angeles, 17 de novembro de 2021

Assim que chegámos a casa, Any arrastou-me até ao meu quarto. Mesmo eu insistindo que já estava melhor, ela obrigou-me a tomar um banho gelado e em seguida tentar dormir.

(...)

Horas depois a minha dor de cabeça já não era mais a mesma, eu estava melhor, mas não vou dizer que estou bem. Consegui finalmente sair do quarto e descer as escadas que davam vista para a sala de minha casa.

- Não sabia que ainda estavas aqui – disse para Any que estava sentada no sofá enquanto assistia alguma série que passava na televisão.

- O Josh ainda não chegou, parece que houve um problema no andar da publicidade e queriam a tua presença lá – a morena disse colocando a série em pausa, ao mesmo tempo que eu me sentava no sofá.

- Sina tinha dito algo sobre isso. Sabes de que se trata?

- Parece que uma das nossas funcionárias andava a partilhar assuntos da empresa e da revista com jornalistas. Não te preocupes, Josh despediu-a e depois falou com Lamar que aconselhou a avançarmos com um processo para tribunal – Any disse-me.

- Parece-me uma boa ideia, pode ser que assim mais ninguém tente fazer o que ela fez – suspirei e passei a mão pelos cabelos – Onde está a Chelsea?

- A dormir, ela acabou de lanchar e disse que estava cansada. Como está a tua dor de cabeça? – Any sentou-se mais corretamente no sofá e colocou os olhos em mim, como se tivesse a tentar ler-me.

- Ainda não está totalmente curada, mas nada que se compare ao que estava antes – Any pareceu acreditar em mim, mas não foi por isso que me livrei de um sermão.

- Sabes que podias estar melhor se não fosses teimoso e tivesses vindo para casa quando eu mandei – a morena disse com voz autoritária.

- Eu sei, mas ninguém pode fazer o meu trabalho por mim. Estamos com muitas papeladas atrasadas devido à minha ausência durante o tempo que a Chelsea se recuperou.

- Eu sei disso, mas tu tens que aprender que não podes carregar o mundo sozinho. Eu e o Josh estamos contigo para tudo o que tu precisares – sorri em confirmação. Any levantou-se do sofá no intuito de andar até à sua mala que estava em cima da mesa de centro, mas parou a meio do caminho e as suas pernas pareceram falhar. Em um movimento rápido, segurei-a nos braços, antes que ela caísse no chão, e levei de volta ao sofá – Eu já estou bem, foi apenas uma tontura.

- Tu ias desmaiando – adverti-a – Tu já comeste alguma coisa desde o almoço? Pode ser fraqueza.

- É normal – olhei para ela sem entender, uma tontura não era normal – Eu e o Josh fomos a uma consulta na semana passada e vamos tentar novamente. Tonturas e sensação de fraqueza são alguns dos sintomas dos medicamentos que estou a tomar.

- Fico feliz por vocês estarem a tentar outra vez. Não tarda nada, a Chelsea vai ter um melhor amigo ou uma melhor amiga para brincar.

- Espero que desta vez dê certo. Não sei se aguento mais uma resposta negativa – Any lamentou-se.

- Claro que vai dar certo, mas não tenhas esse tipo de pensamentos nem coloques demasiada pressão sobre ti – agarrei na sua mão – Agora eu vou pedir para prepararem o jantar para todos e depois vou acordar a Chelsea.

- Ok, o Josh também deve estar a chegar – concordei com a cabeça e caminhei até à cozinha. Pedi à empregada para fazer o jantar para mais duas pessoas e depois subi as escadas até ao quarto da minha filha.

A divisão estava escura e apenas se ouvia a sua respiração baixinha. Em passos lentos caminhei até ao berço, Chelsea estava toda aninhada no meio de uma manta, enquanto segurava nas suas mãos um pequeno elefante azul. Aquele era um dos seus bonecos preferidos para dormir.

- Hey princesa, vamos acordar – sussurrei perto dos seus cabelos e passei a mão pela extensão das suas costas. Chelsea abriu os seus olhinhos e encarou-me ensonada – Anda bebé, vamos ver a madrinha – peguei na pequena ao colo que logo encostou a sua cabeça no meu ombro e suspirou. Desci as escadas com ela e assim que cheguei à sala, Josh já ali estava sentado no sofá, ao lado da esposa.

Mas não foi isso que me deixou intrigado, para além de Josh e Any, havia outra presença feminina na sala. Os meus olhos focaram no seu belo corpo, ao mesmo tempo que colocava Chelsea no chão. Sina estava sentada numa das poltronas, ela já não tinha aquele ar de secretária, mas mesmo assim não parecia estar muito à vontade por estar aqui.

- Boa noite – disse enquanto me dirigia ao sofá. Rapidamente Sina colocou-se em pé, ajeitou as suas roupas e pareceu um pouco sem jeito por ter invadido o meu "espaço pessoal".

- Como te sentes? – Josh perguntou antes de encher a afilhada de cócegas.

- Melhor do que estava – respondi – O jantar já deve estar pronto, vão indo para a mesa que eu tenho um assunto para tratar com Sina – disse para o casal que rapidamente se levantou e dirigiu-se para a sala de jantar – Não esperava pela sua visita.

- Desculpe, eu não queria incomodar – Sina abaixou a cabeça, mas rapidamente a ergue parecendo ter-se recordado de algo – Eu apenas queria saber se o senhor estava melhor, mas já estava de saída.

- Não precisa de ir já, pode ficar e jantar connosco – sugeri. Não sei onde tinha a cabeça, mas sabia que precisava de fazer alguma coisa para agradecer toda a sua paciência comigo e precisava de me desculpar pela maneira como tinha falado com ela.

- Não quero incomodar. Eu vou andado, já fiz tudo o que tinha para fazer aqui e vocês querem jantar em família – Sina começou a caminhar em direção à porta. Em alguns passos consegui segurar o seu braço e impedir que ela saísse nesta noite fria.

- Fique, é a minha forma de pedir perdão pela forma como a tratei nestes últimos tempos – Sina olhou para mim, parecia relutante em aceitar o meu pedido – Não espero que entenda ou perdoe as minhas atitudes, e na verdade também não sei bem o porquê de a estar a convidar para jantar, mas sei que quero que fiquei.

- Nesse caso posso ficar, mas não quero de todo ser um incómodo, senhor Urrea – a loira sorriu e abanou a cabeça, fazendo os seus cabelos balançarem e emoldurarem ainda mais o seu rosto.

- Vamos deixar as formalidades para a empresa, aqui eu sou o Noah e podes tratar-me por tu.

- Combinado, Noah – não sei explicar porquê, mas a forma como aquelas quatro letras foram pronunciadas, fizeram uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo.

- Acho que não precisa disto – tirei-lhe o casaco das mãos – Nem disto – peguei também na sua carteira e coloquei-as num cabide que havia perto da porta – Vamos? – Sina apenas concordou com a cabeça e então eu conduzi-a pela casa até estarmos na mesa de jantar – Sina vai jantar connosco hoje – informei e Any e Josh trocaram olhares cúmplices.

Fui até uma cadeira que estava colocada ao lado de Chelsea e puxei a mesma para a loira se sentar. Assim que ela estava acomodada, fui até ao meu lugar e sentei-me.

- Que eta menina munita? – a vozinha de Chelsea soou enquanto me olhava com atenção.

- Essa é a Sina, uma amiga do papa e dos padrinhos – expliquei-lhe. A minha filha afirmou com a cabeça e entrou numa conversa com a loira, que para além disso a ajudou a jantar.

Nunca tinha visto a minha filha ficar sem vergonha em frente a estranhos tão depressa.




Sinto saudades dos vossos comentários :(


Até breve
XOXO ❤

The Secretary - NOARTWhere stories live. Discover now