01| 65 DIAS ANTES DA QUEDA (reescrito)

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#CaiuNoGolpe🍎


Jimin conseguia ouvir a multidão furiosa e tamanha ira o deixava apavorado.

Sentado sobre os lençóis macios da cama estreita, o garoto remexia o seu rosário entre os dedos, enrolando e desenrolando a correntinha dourada nos vãos entre eles conforme o seu coração palpitava, cheio de dúvidas, dentro do peito. Os cabelos castanhos, perfeitamente penteados no seu infantil formato de cuia, caídos sobre a sua testa se agitavam, incomodados pelo ar quente que saía pela boca do garoto que tentava, quase que de maneira inútil, acalmar os seus pensamentos agitados e barulhentos.

Se soubesse o quanto a sua vida mudaria em apenas uma semana, jamais teria se deixado sonhar tanto com aquela liberdade egoísta e ilusória que desejou experimentar.

Conhecer o mundo da forma que ele realmente era havia, acima de qualquer coisa, decepcionado o rapaz, pois nem mesmo em cem anos de vida ele estaria preparado para perceber que as pessoas eram, de fato, más e que nada que ele fizesse, nem mesmo quantas preces viesse a entoar, faria com que elas mudassem.

Porque elas não desejavam mudar e aquilo, de certa forma, estava começando a confundir os seus pensamentos. Afinal, se amar o próximo era tão importante quanto havia aprendido, por que as pessoas pareciam ser mais felizes maltratando umas às outras?

Era capaz de ver, pela janela que mostrava o céu cinzento daquele melancólico dia, a massa colérica de pessoas aglomerando-se aos poucos, pronta para apreciar o espetáculo do dia.

Seus pés se contorciam dentro das sandálias de couro, se tornando esgorregadiços conforme o suor frio ensopava o couro debaixo deles; seus joelhos tremulavam de forma discreta, mascarados pelo movimento involuntário e compulsivo das suas pernas se dedicava a fazê-lo perder o fôlego ainda sentado ao atá-lo a tamanha inquietação, e seus olhos encaravam o pequeno altar ao canto da parede, observando a vela sobre o castiçal miúdo queimar sem pressa.

Os passos avançavam pelo corredor atrás das paredes com rapidez, soando cada vez mais estridentes aos ouvidos do garoto à espera. O sorriso vitorioso e satisfeito no rosto amarelo-pálido era nauseante, principalmente por enfeitar a face daquele que era considerado o porta-voz de Deus na Terra, mas a verdade era que a única voz transmitida por aquele homem de coração petrificado e espírito esfomeado era a dele mesmo. E a de mais ninguém.

Com o coração batendo cada vez mais rápido, a atenção do noviço se voltou ao baixo ruído expresso pela porta de madeira ao ser aberta. Encarando-o da cabeça aos pés, a figura avançou pelo quarto de impecável organização antes de colocar-se frente ao garoto e observar a inquietação do seu pomo-de-adão debaixo do grosso tecido da bata branca que cobria o corpo cansado até os tornozelos.

Isto jamais deve deixar o teu pescoço, garotinho. — lhe tomou o rosário dourado das mãos e o fez vesti-lo, voltando a sorrir ao encarar a cruz cravejada de pequenas gemas esverdeadas repousar, pesada, sobre Jimin. — Não tire-a daqui. — avisou-o. — Lá fora, todos devem saber qual é a tua missão e quem és, Jimin. — continuou, segurando o rosto do rapaz entre as mãos por um instante. — Entendeste?

Segurando aquilo que pesava sobre o seu peito, o noviço concordou com um fraco acenar de cabeça e se colocou de pé.

Sim, senhor Santíssimo.

— Ótimo. — murmurou ele, satisfeito, ao tomar o caminho que levava de volta ao corredor. — Venha.

Caminhando de cabeça baixa ao lado do Santíssimo Cardeal e do seu tão apreciado braço-direito, o bispo Giuseppe, Jimin viu seus pés deixarem lentamente para trás o chão de pedra até se verem tomados pela poeira da terra vermelha das ruas esburacadas do subúrbio romano, se vendo sufocado pela massiva quantidade de pessoas ao seu redor.

DESCONSTRUINDO O ÉDEN | yoonmin Where stories live. Discover now