12| 1 DIA ANTES DA QUEDA

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Yoongi já deveria saber: Ao fim, tudo o que resta é a névoa densa e escura.

Ainda sendo capaz de sentir o peso do corpo molenga e frio de Jimin sobre seus braços, ele fechou os olhos e aceitou, de bom grado, o estalar do chicote que atingiu as suas costas mais uma vez, empurrando-o num forte solavanco para frente.

Aquilo era pouco tratando-se do que ele realmente era merecedor de receber.

Abrindo os olhos ao receber outro golpe, o florista encarou o chão de pedra ao seu redor, o observando coberto pelo tom carmesim do sangue escorria, abundante, pela pele machucada e maltratada das suas costas.

As lembranças da sua vida, e de todo o mal que havia causado durante ela, repetiam-se infinitamente na sua mente, obrigando-o a reviver cada momento em que o egoísmo foi a sua única característica humana, em que alimentou o mal com agrado, apenas porque pensava que era mais merecedor da vida do que qualquer uma daquelas pessoas, principalmente aquela da qual havia roubado a vitalidade, a casa, as flores, o nome e a vida.

Aquele que era o verdadeiro vendedor de plantas e frutas. Ou melhor, aquele que oferecia às pessoas moribundas do subúrbio romano comida podre em troca de sexo sujo.

Yoongi lembrava-se bem de quando o conheceu. Recordava-se bem de quando era apenas um vagabundo moribundo que vagava pelo subúrbio e vasculhava o lixo das bodegas e bordéis à procura de algo que pudesse alimentar o seu eu humano enquanto o mal se alimentava de todos aqueles que se ofereciam a ele durante as madrugadas.

A vida agradável de um viúvo invisível dentro daquela sociedade, a filha jovem e atraente, as moedas de ouro escondidas nos vasos de flores e a enorme promiscuidade encoberta debaixo do rosto de amarelo e amistoso sorriso. Por um momento, Yoongi pensou que Vecchio era apenas mais um suburbano que lutava, assim como todos os outros, para sobreviver enquanto a Igreja arrancava-lhe tudo o que era capaz de arrancar.

Um grande engano.

O cheiro podre dentro do casebre era insuportável, as plantas estavam mortas e a garota vivia amarrada ao pé da mesa. E pela primeira vez Yoongi havia chegado à conclusão de que a sua maldição tinha algum propósito.

Ganhou a confiança dele devagar, com dedicado e desumano trabalho, carregando sementes e vasos sobre as costas e subindo nas árvores para colher as mais diversas frutas no quintal para ajudar o homem enfermo e sem forças que mal conseguia sair de casa. Conquistou pouco a pouco a simpatia da moça gentil que era encarregado de vigiar, desamarrando seus pés e mãos quando Vecchio não estava por perto enquanto os olhos dela, azuis como o céu de um dia ensolarado e sem nuvens, o encaravam com assombro, temerosos de que ela fosse a recompensa dele por algum serviço prestado ao homem que chamava de pai, tal como foi tantas vezes ao longo dos anos que conseguia lembrar-se de ter vivido naquele lugar do qual nunca havia sido capaz de sair.

Yoongi a permitia banhar-se sozinha, deixava que ela comesse e bebesse do que quisesse no casebre, cuidava dos hematomas das amarras nos seus pulsos e tornozelos, e a fazia companhia enquanto cuidava e misturava espécies distintas de flores nos mais variados tipos de vasos ao passo que o presenteava com todas as moedas de ouro escondidas sob a terra.

Até que, finalmente, toda aquela confiança transformou-se na arma que usaria contra o verdadeiro Vecchio.

Naquela noite, o jovem e moribundo Yoongi havia se deixado capturar pela manipulação do velho Vecchio e pela promessa de que ele poderia oferecê-lo uma vida melhor do que aquela que possuía vagando pelas ruas, bastava-o apenas guardar um singelo segredo a respeito dos dois.

Durante a madrugada, Yoongi levantou-se da manta frente à lareira e despertou em silêncio a garota amarrada ao pé da mesa. Entregou-a o saco de moedas de ouro, encarando a barriga pouco crescida dela como um pedido mudo para que ela fugisse e jamais voltasse.

DESCONSTRUINDO O ÉDEN | yoonmin Where stories live. Discover now