05| 38 DIAS ANTES DA QUEDA (reescrito)

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Jimin sentia-se vigiado.

Desde o ocorrido daquela tarde na pequena igreja, do qual fugira e escondera-se até a noite no casebre do florista, ele sentia como se o mundo o estivesse o observando e o julgando com seus olhares, como se também o culpassem por tudo aquilo que ele também se culpava, por tudo aquilo que a confusão na sua cabeça apontava.

Sentado, ao lado do Sumo Pontífice e rodeado de Cardeais, sentia ser observado com desdém pelos outros ao redor, como se pudessem ver todos os seus pecados, principalmente pelo olhar do enfermo homem à sua frente, que parecia querer fazê-lo explodir e o encarava daquela forma tão carrancuda há quatro dias.

Desconfortável com a sensação de ser encarado, o rapaz afundou as unhas nas palmas das mãos com extrema força, lembrando-se das palavras ditas a ele pelo florista, quatro dias atrás, naquele fim de tarde, quando despediu-se dele e o convidou para visitá-lo outra vez: "A educação e a gentileza são belas virtudes. Contudo, nenhuma delas te servirá tão bem de defesa quanto a ira.".

E, no fundo, Jimin sabia que ele estava certo.

Lembrava-se muito bem de todas as vezes em que, mesmo que a sua educação e a sua gentileza, sua bondade, foram usadas como razão para humilharem-no e fazerem-no sentir-se tolo. Sabia bem o quanto elas o faziam parecer ingênuo e o tornavam um alvo fácil.

Respirando fundo, forçou seus olhos a encararem as grandes paredes que o cercavam, que o abrigaram por todos aqueles anos e ele costumava chamar de casa até tão pouco tempo atrás, mas agora faziam-no sentir-se um estranho, deslocado e indesejado.

Levantou-se da maneira mais calma e indiferente que pôde e fez uma reverência ao Sumo Pontífice, que encarou com certo estranhamento a sua postura de ombros caídos e olhar vago e o ofereceu sua benção, e se fez percorrer os corredores da Santíssima Casa, correndo em direção ao lugar ao qual havia habituado-se a ir todas as manhãs durante as últimas semanas: O subúrbio romano.

De maneira oposta a todos aqueles dias, no entanto, sua mente não estava atada à igrejinha, e sim ao homem de cabelos e olhos escuros e brilhantes e suas palavras, toda e cada uma delas. Deixando com que seus pés o levassem além da igreja, sem sequer sentir-se inclinado a encará-la, o rapaz permaneceu com aquelas palavras ecoando dentro da sua cabeça enquanto se perguntava como um alguém tão descrente parecia mais honesto do que todos os homens de fé que conhecia e porquê pensar aquilo fazia com que se sentisse mais culpado ainda.

Encarou o casebre ao longe, parado perto da carroça velha abandonada no meio da rua de terra, e viu quando seu dono abriu a porta, segurando um cesto com grandes folhas secas dentro.

Seus cabelos estavam desgrenhados e seu rosto abarrotado, bem como seus olhos felinos estavam mais miúdos do que de costume. Mesmo daquela forma, Jimin se pegou preso ao quão bonito ele era, novamente, mas não importava quantas vezes ficasse, involuntariamente, atado àquele achismo tão natural, sempre repreenderia a si mesmo, se culparia e se sentiria mal por estar, cada vez mais, deixando-se atrair daquela forma por outro homem, o que apenas encheu seu peito com mais intensidade quando ele o notou e ofereceu-lhe o sorriso de costume.

A sensação de culpa, contudo e naquele momento, passou a dividir o espaço apertado dentro dele com o estranho sentimento de conforto que aquele homem, a sua companhia e o seu sorriso o traziam.

Ainda o encarando, Jimin devolveu-lhe o gesto, completa e indubitavelmente confuso sobre qual das sensações o levou a sorrir largo, daquela forma, para o florista, mas certo de que, pela primeira vez naquele mais de um mês em que sua vida começara a sair dos eixos, ele não se importava tanto com ela.

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