02| 58 DIAS ANTES DA QUEDA (reescrito)

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#CaiuNoGolpe 🍎


Jimin sentia seu estômago vazio se contorcer.

Ajoelhado, e ainda vestido na bata que usara para dormir, o rapaz encarava com certa apatia a imagem de Jesus Cristo preso à cruz sobre o pequeno altar, iluminada pela vela acesa, segurando o rosário pendurado ao seu pescoço ao passo que caminhava para se deixar ser vencido pelo desânimo de enfrentar, por um outro dia, o turbilhão incessante e cada vez menos incoerente dos seus pensamentos duvidosos, questionadores e culpados a respeito de tudo aquilo que o rodeava e o fazia existir.

E ouvir a voz daquele estranho ecoando na sua cabeça aumentava o peso daquela desgastante culpa.

Fechou os olhos, por um momento, e esfregou-os com as palmas das mãos, sentindo a dormência e o ardor do cansaço suavizando-se de maneira preguiçosa ao que se colocou a fazer uma breve prece. Gostaria que Deus pudesse ouvi-lo, ouvir o seu coração confuso, e o trouxesse a certeza de algo, de qualquer coisa, e mitigasse o desalinho daquela ansiedade que o assolava tanto.

Se colocou de pé devagar, buscando driblar o cansaço e a fome que o tomavam cada músculo. Aquele já era o sétimo dia consecutivo, e o último, do seu jejum e embora Jimin não sentisse que, de alguma forma, esforçar-se para ignorar a voz das suas dúvidas estivesse surtindo efeitos, era o que ele faria até o fim, pois aceitar a frustração de que aquele mundo que tanto havia ansiado conhecer e aquela fé que tanto amava não eram o que ele sempre pensou doeria muito mais do que a culposa fadiga de qualquer empenho que viesse a ter. Seu corpo, no entanto, estava sentindo o efeito da falta de comida há cinco dias, pois suas longas caminhadas debaixo de sol forte, dedicadas a alcançar os romanos e convencê-los do amor de Deus e seu trabalho comunitário na pequena igreja do subúrbio tiravam toda a sua energia.

Estava faminto.

De pés firmes no chão, e enquanto seu estômago e corpo gritavam por ao menos um pouco de água, Jimin vestiu-se numa das várias batas brancas e compridas, e calçou suas sandálias antes de pegar um lenço, beijar o rosário que carregava no pescoço e sair.

Andando pelos corredores da Santíssima Casa, ele repassava mentalmente todas as suas atividades do dia, se fazendo focar em especial na que consistia em organizar o altar da igrejinha do subúrbio para a missa que seria realizada na aurora do dia seguinte, domingo.

Seu principal pensamento, contudo, era o de reservar um pouco do seu tempo, antes do anoitecer, para ir até aquele homem outra vez, pois sua teimosa vontade de criar um vínculo com ele era maior que o medo que tomava conta do seu corpo ao andar pelas ruas e vielas daquela parte do subúrbio, pois mesmo que tivesse a ingênua ideia de que não deveria ter medo das pessoas, pois elas nasciam bondosas como Deus queria que fossem durante toda a vida, ele já sabia que elas tornavam-se maldosas com o tempo, talvez intencionalmente, talvez sem perceber, e aquela maldade o amedrontava, mesmo que Deus e sua fé nele o protegessem de tudo e a todo tempo.

Com os joelhos grudados ao chão da pequena igreja, ele terminava de limpar o piso com o auxílio de um pedaço de tecido velho e uma pequena caçarola cheia de água. Suas pernas estavam doloridas, seus cabelos grudavam na sua testa úmida e o suor escorria pelo seu pescoço e pelas laterais do seu rosto corado, aculunando-se até que as densas gotículas alcançassem a rocha que voltava a ser branca gradativamente, sentindo a sua garganta seca pedir por atenção enquanto seu estômago reclamava da fome.

Podendo enfim ver o piso brilhando debaixo dos seus joelhos, Jimin sentou-se sobre ele e suspirou, soltando o ar pela boca quando uma agradável brisa entrou pela porta aberta e se permitiu aproveitar o silêncio daquele momento, dentro e fora da sua cabeça. Não sabia quando teria a oportunidade de aproveitá-lo outra vez.

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