TRAIÇÃO

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Sírius

Como previ, Hámmon partiu pra cima de mim e não havia muito o que fazer quanto a isso.
Sequer revidei. A única possibilidade dele me ouvir era deixá-lo descarregar sua ira antes.
Então, recebi cada sôco com resignação, afinal, eu merecia cada um deles.
Eu merecia a morte.

Senti os ossos da minha face se partirem e a consciência me deixar. Para minha sorte, a imperatriz intercedeu e não permitiu que ele me matasse.
Pelo que entendi, ela acabou de ameaçá-lo de ir embora e revelou estar grávida.
Se isso não pará-lo, nada mais vai.

— Leve esse pária para o centro de cura e depois traga-o de volta.

Ouço no meu último fio de consciência.
Graças aos deuses essa fêmea é mais benevolente do que seu companheiro.

— Até imagino o tamanho da festa que mamãe vai fazer quando descobrir que a imperatriz está grávida!

A voz é longínqua parece muito entusiasmada. Sinto que estão mexendo em meu rosto e a cada minuto que passa, minha mente se torna menos turva.

— Não foi a toa que o imperador se deteve e soltou esse traidor. — Outra pessoa diz e pela voz, só pode ser o general Khalil.

— Então, devo agradecer à imperatriz! — Digo virando o rosto para eles.

Os dois me olham com semblantes acusadores e não posso julgá-los por isso. Eu não agi com honra e não mereço menos do que seu desdém.
Depois que o curandeiro me libera, sou levado de volta à sala do trono e fico desconcertado ao ver Hámmon com sua fêmea no colo.
Ela está com as faces vermelhas, claramente envergonhada pelo que ele está fazendo.

— Diga a que veio. — A voz dele reverbera no espaço e com certeza seu instinto assassino só está controlado graças a fêmea em seu colo.

De todo modo, não há razão para esconder nada dele.

— Fui interceptado por tropas do rei Kany quando estava indo entregar a arma à confederação. Meus homens morreram e fui perseguido até o planeta Terra. Uma fêmea humana atravessou meu caminho e acabou absorvendo a arma em seu corpo. Eu a estava trazendo para fazer a extração, mas fomos perseguidos por arturianos e as tropas do rei. Eles a têm em seu poder e eu preciso salvá-la, tanto deles quanto da Iocto.

— Mais uma fêmea em ruína por sua causa!

Confesso que essas palavras alvejaram minha alma. Hámmon sabia, exatamente, onde estava minha ferida.

— Sim! Por isso vim implorar por sua ajuda! — Concordo e me ponho de joelhos diante dele — Disponha da minha vida como quiser, mas me ajude a salvar essa fêmea! Ela é só uma inocente que teve a infelicidade de me conhecer, assim como Zynah.

Estou sendo sincero em cada palavra. Fazia séculos que minha companheira havia sido morta diante dos meus olhos, só porque teimei em reter a maldita arma sob meu poder. Era para eu estar morto, mas ela deu sua vida para me salvar.
Essas lembranças ainda doem como se ferro em brasa estivesse sendo atiçado sobre a minha pele.
Por outro lado, Hámmon me encara por algum tempo e posso imaginar que tipo de ideias está articulando.

— Eu ajudarei, mas tenho condições! — Ele fala de súbito, como se chegasse a um consenso interior.

— O que seja!

— À princípio minha exigência é que você e a fêmea se apresentem diante de mim.

Ele fala e se cala.
Céus, ele está tentando me pôr numa armadilha. Só que pior não pode ficar.

— E o que mais?!

— Deixe isso para depois, agora apresse-se! Tome o que precisa e salve a fêmea. Quanto aos arturianos, deixo-os comigo. Faz muito tempo que quero impor sanções àqueles ratos e finalmente eles cometeram um erro.

Sem Deixar Vestígios: Contos AlienígenasWhere stories live. Discover now