08 | Desaparecida em ação

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23 de dezembro

Hermione estava sentada em seu lugar habitual, no parapeito almofadado da janela de seu quarto, com os joelhos encostados no peito e os braços em volta das panturrilhas; seu próprio poleiro na gaiola de pássaros.

Uma tempestade de neve havia caído sobre a mansão durante a noite. A grama outrora verde e as roseiras perfeitamente podadas foram transformadas à luz da lua. Os jardins estavam intocados, sem uma única pegada distorcendo a neve branca e crocante. Se possível, eles pareciam ainda mais atraentes agora, quase encantadores.

Hermione passou a gostar muito de neve desde o início da guerra. Antes, ela a odiava. Achava que a maldita coisa não passava de um inconveniente que deixava tudo ao seu redor frio e miserável.

Agora ela adorava a neve, porque ela escondia as evidências da guerra. Cobria os prédios destruídos e ocultava os prados queimados onde as batalhas haviam sido travadas. Cobria o sangue nas ruas e tornava tudo... novo novamente. Fresco.

Hermione nunca conseguia ficar de mau humor quando havia neve lá fora, pois as crianças que viviam nas bases da Ordem não permitiam isso. Os pequeninos ficavam positivamente ferozes de alegria ao ver o fenômeno. Suas risadas e gritos de alegria quando se amontoavam em seus casacos impermeáveis e cachecóis térmicos encantados, tudo para que pudessem se aventurar lá fora e construir bonecos de neve, eram contagiantes, sempre foram.

Era maravilhoso ver as crianças da guerra sendo realmente crianças, para variar. Era apenas um pequeno alívio dos assassinatos e bombardeios que aconteciam lá fora; coisas horríveis que suas mentes inocentes desconheciam completamente, mas era um alívio mesmo assim, e elas mereciam isso mais do que ninguém.

Enquanto Hermione olhava para o terreno, ela se perguntou se as crianças já estavam acordadas e brincando lá fora. Ela se perguntou se os filhos de Harry e Ginny, Rose, Fred e Severus, já teriam arrastado os pais para fora pelas mangas e exigido que eles fizessem anjos de neve com eles. Seus pensamentos tomaram um rumo sombrio quando o rosto alegre de Harry passou por trás de seus olhos. Seus pensamentos - cheios de risadas de crianças e bonecos de neve tortos há um momento atrás - de repente estavam voltando para a guerra. Ela não conseguia evitar. Sua mente sempre voltava para aquela direção mais rápido do que a neve derretia.

Ela começou a se perguntar se os outros ainda estariam procurando por ela, mesmo depois de todas essas semanas. Será que eles estavam procurando por ela agora? Será que estavam andando pelas ruas na neve até a altura do joelho para encontrá-la, em vez de passar tempo com suas famílias? Suas famílias de verdade?

Provavelmente não. Provavelmente presumiam que ela havia morrido no campo naquele dia com Tonks. Agora ela seria apenas mais um nome na longa e interminável lista de mortos.

"Hermione Jean Granger", diria Harry em seu discurso fúnebre. "Soldado caído, desaparecido em ação. Presumivelmente morta".

Ela percebeu, com uma dor lancinante no peito, que era só isso que ela era agora: um soldado.

Ela não era a amante de alguém. Nem mesmo era mais filha de alguém. Ela dava ordens, formulava planos de batalha e resgatava escravos das garras do Lorde das Trevas, mas era apenas um soldado. Uma assassina letal. Uma exterminadora. Uma pessoa que havia matado centenas de Comensais da Morte a mais do que qualquer outro membro da Ordem.

Será que ela era realmente melhor do que Malfoy?

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— O que deixa a senhorita feliz? — Romy perguntou quando ele apareceu em seu quarto naquela tarde, colocando uma bandeja de prata ao pé de sua cama, o mesmo lugar onde os elfos sempre deixavam suas refeições.

Secrets and Masks | DramioneWhere stories live. Discover now