Cap1

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Yibo tomou o primeiro gole do seu capuccino, recostando a cabeça no assento do motorista. Soltou um longo suspiro tentando relaxar todos os músculos de seu corpo. Ele estava entediado, e isso se enquadrava a todas as suas últimas missões. Era difícil lembrar-se da última vez que algo realmente o desafiara.

Reconhecia, entretanto, que não se tratava exclusivamente do seu trabalho. A maior parte das pessoas já teria sofrido um ataque do coração, ou dado um fim à própria vida. Era sua culpa. Sempre preparado para o pior, o inimaginável, o imprevisível. Era mais do que provável que nenhuma missão o satisfizesse.

Houve alguns pontos altos em toda sua vida de espião/agente/criminoso... Ele não estava muito certo a qual grupo pertencia. A única certeza que possuía era a de que nunca havia visto alguém tão bom quanto ele no que faz, e essa constatação o deixava, de fato, orgulhoso.

O verdadeiro alvo de sua perseguição deixou o café, firmemente preso entre os dedos do homem que o carregava: a maleta preta; o motivo de Yibo estar ali. Durante sua caminhada até o carro, ele permitiu-se pensar em como um cientista e professor de renome como aquele dava-se ao luxo de caminhar livremente pelas ruas de Boston, em posse de uma maleta com conteúdo tão valioso.

Aquele movimento de vai e vem feito pelos passos mancos do homem ― a cirurgia no joelho esquerdo, após um pequeno acidente doméstico, deixou essa sequela ― fazia com que a maleta dançasse aos olhos do Yibo. O que haveria ali dentro? Ele mordeu a lateral do dedo indicador e estreitou os olhos, deixando o pensamento permanecer por mais alguns segundos em sua mente. Giancarlo não ficaria feliz em saber que ele estava fazendo esse tipo de questionamento. Aquilo tampouco lhe interessava realmente. Yibo não era do tipo que fazia perguntas.

O homem finalmente abriu a porta de seu carro e, enquanto dava partida, ele olhou mais uma vez para o arquivo que continha as informações de que necessitava. A foto de duas crianças loirinhas correndo do pai se destacava em meio às outras. Não precisar matá-lo naquela noite era algo muito bom. Deixar garotinhas órfãs, talvez, fosse a única coisa da qual Yibo se ressentiria.

♤♤♤

Xiao Zhan amava estar em serviço. Cada parte... a pesquisa, o estudo, o plano e a prática. A prática era, com toda certeza, o que ele mais gostava. Apesar de que aquele fim de tarde não oferecia muita adrenalina.

Ele estava sentado em sua moto há quase quinze minutos, em plena sexta-feira, esperando por um alvo que sequer ofereceria resistência. Olhou mais uma vez para dentro da cafeteria e revirou os olhos, afinal, quem perderia tanto tempo escolhendo um simples café?

O cientista finalmente saiu, e Xiao preparou-se para dar partida na moto, quando notou algo estranho. O carro que estava estacionado atrás do veículo do alvo começava a se movimentar pela rua. Não, aquilo não seria possível... Quem além do F.B.I estaria interessado naquela maleta? Ele teria sido informado de qualquer organização que, por mais remotamente que pudesse ser, desejasse aquele conteúdo, e estaria bem preparado para quem quer que fosse.

No entanto, ninguém havia demonstrado interesse. Xiao possuía Daniel para lhe assegurar aquilo. Mas se tinha alguma coisa que ele aprendera com seu pai, o falecido Matthew, é que não se deve ignorar uma intuição em serviço. Se naquele carro estivesse alguém interessado na maleta, era primordial que não soubesse que existia alguém na jogada. Ele.

♤♤♤

Yibo olhou pelo retrovisor em tempo de ver a moto virar a esquina. Aparentemente ele estava paranoico, esperando um plus para essa missão. Alguém atrás do mesmo objetivo que ele seria algo agradável de lidar, uma surpresa...

Mas o seu perseguidor imaginário tinha ido embora, seguido o seu caminho, seja lá qual fosse. Yibo se acomodou melhor no assento, afundando um pouco mais o pé no acelerador. Não havia perseguidor algum e, mesmo assim, ele continuava com aquela sensação conhecida na espinha.

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