cap 2

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- Então você me acorda no meio da noite para te salvar de passar a madrugada algemado em um contêiner, e Scott a tiracolo como se eu fosse um empregado seu... - Xiao olhou pelo retrovisor Scott logo atrás deles, com sua moto. - E quer que eu me contente com essa merda de silêncio?

Xiao lançou um olhar para o seu amigo e parceiro de trabalho, ao lado. De fato ele merecia um pouco de consideração. Se não bastassem as enormes olheiras e o cabelo em desordem completa, Daniel ainda usava um pijama com galinhas pintadas nas calças. A peça irrisória foi dada por sua irmã, fato insistentemente explicado por ele.

- Só mais um pouco de paciência, Daniel.

Xiao sabia que deveria contar o que acontecera ao amigo, mas no momento sua cabeça estava ocupada com coisas mais interessantes. Seu agressor. A pele branca, o corpo torneado, os cabelos negros que emolduravam perfeitamente o rosto delicado e frio. Como se já não fosse suficiente, o maldito cheiro dele martelava em sua memória. Ele já havia sentindo esse cheiro antes, só não lembrava como.

Necessitava descobrir quem era aquele homem e, sobretudo, necessitava desesperadamente vê-lo novamente.

Levou cerca de meia hora para que Xiao, já em seu apartamento, conseguisse explicar aos seus amigos o que se sucedera no término daquela tarde. Tinha chamado justamente aqueles dois, porque eles eram as figuras que ele mais confiava em todo o FBI e, possivelmente, fora dele. Ele queria manter os detalhes da operação fracassada fora dos arquivos.

Não sabia muito bem por que não queria deixar a sede a par da existência do homem. Nas palavras de Scott, ele estava ficando maluco, mas Xiao tinha essa sensação de que necessitava descobrir mais sobre ele antes de citá-lo. Algo lhe dizia que o que aconteceu no porto era apenas a ponta de um imenso iceberg.

- Novidades. Tenho o proprietário do Porshe vermelho! Meu amigo, te apresento seu garoto: Vitor Wang.

Xiao correu para trás do computador de Daniel Delafield, esperando ver seu agressor novamente nem que fosse pela foto da licença de motorista. Assim que cravou os olhos no jovem, soltou um suspiro longo e desanimado.

- Não é ele, Daniel.

O Delafield visivelmente murchou enquanto Scott parecia mais interessado em passar os dedos pelo rótulo da garrafa de cerveja.

- Se o carro for roubado estamos perdidos... Quer dizer: você está! Mais alguma coisa que eu deveria saber? Estatura média, branco, olhos castanhos...

O Zhan lembrou-se da figura do homem.

- E ele cheira... - Ele franziu as narinas, tentando se decidir. Muito mais que grato pela memória olfativa trazer aquela sensação de volta. - Ele cheira... a Sândalo.

Scott engasgou com a cerveja e Daniel olhou para o amigo incredulamente. No entanto, o espanto dos dois era oriundo de fontes diferentes.

- Ele cheira... - Scott balançou a cabeça, olhando fixamente para o Xiao, não se permitindo repetir as palavras do amigo. - Você sabe a porra do cheiro dele?

- Sândalo! Obrigado, Xiao, informação de grande valia - Daniel disse baixinho, como se estivesse invocando uma praga ou coisa parecida, mas de repente, o seu olhar meio grogue, efeito da cafeína para a inibição do seu sono, se iluminou. - Como eu não pensei nisso antes?

Xiao e Scott agora detinham a atenção em Daniel, que acabava de se vangloriar em pensamento. Ele inclinou a cabeça para frente, arqueando ambas as sobrancelhas, retirando os óculos ao mesmo tempo em que semicerrava os olhos. Um sorriso vitorioso no rosto. Parecia compartilhar o segredo do século.

- Wang! - ele sussurrou como se a menção do sobrenome pudesse explicar tudo. - Wang é o nome de uma família que está constantemente vinculada à máfia. Vocês dois não pensam que isso é uma simples coincidência, não é?

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