Cap 9

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Yibo examinou minuciosamente sua figura no espelho. Nada poderia estar fora do lugar. Se não soubesse lidar com a sua própria aparência, não poderia lidar com nada, ou talvez fosse assim que seu tio pensava. Ele não poderia se descuidar. Levou a mão com as unhas impecáveis, até ao seus cabelos.

Desistiu por fim de procurar um defeito inexistente e pensou em como Vitor o olharia com deboche se houvesse presenciado a última cena. Deu de ombros e encarou pela centésima vez o relógio em seu pulso. Faltava menos de um minuto para as dez horas da noite, de modo que Yibo decidiu que já era hora de esperar por ele na calçada.

Fechou a porta da sua casa, colocando a chave dentro do bolso no sobretudo, e andou até o meio fio. Passaram-se alguns poucos segundos até que viu o vulto preto do BMW se aproximando. Olhou para o relógio mais uma vez, ao mesmo tempo que o ponteiro dos segundos alinhava-se ao ponteiro das horas e minutos.

Ele arqueou as sobrancelhas, entretido com alguma piada particular. Seu Tio era conhecido, entre outras coisas, por sua extrema pontualidade.

O BMW parou bem ao seu lado e antes que o motorista pudesse descer para abrir a porta para ele, Yibo já tinha suas mãos na maçaneta, rapidamente entrando no carro aquecido.

Sentando-se no banco de trás, Wang mais novo abaixou ligeiramente a cabeça, fato costumeiro quando via o tio depois de um longo período de tempo. O homem, no entanto, falava ao telefone e não lhe deu a devida atenção. Ao contrário, estendeu a palma da mão como se pedisse que ele esperasse.

Yibo revirou os olhos internamente. Como se depois desse tempo todo ele não soubesse quando deveria manter a boca fechada.

- Eu não me interesso se o corpo de Felipe dói, Lorenza... Giancarlo continuou a conversa despertando o interesse de Yibo assim que pronunciou o nome do garoto - Eu quero que ele volte até o galpão e termine o teste vencedor. Até porque não há outra maneira de termina-lo.

A risada encheu o carro, e Yibo sentou-se confortavelmente no banco, cruzando as pernas cobertas pela calça jeans e a bota preta.

- Ele está sangrando? Algum osso fraturado? Torção? - Giancarlo despejou ironicamente - Não? Então digo que ele está apto e atrasado para voltar ao treinamento. Eu não quero desculpas. Carlos sairá desse galpão com a missão concluída, ou em uma maca de hospital.

A última frase despertou uma antiga ira em Yibo. Alguns anos atrás se ele saísse de um treinamento queixando-se de dores seria o próprio Tio quem se asseguraria que ele acabasse em uma maca de hospital. Sem segundas chances. Desfez a cara fechada rapidamente quando sentiu os olhos do tio pairando sobre si.

- Yibo, meu Filho. - Ele saudou-o, seu timbre quase feliz.

- Tio - ele trouxe a mão forte dele, aquela com o anel em ouro branco, entre as suas - Vejo que meu primo deu alguns problemas... Por acaso esse treinamento é o do labirinto? - Yibo comentou, tentando parecer displicente. Giancarlo meneou a cabeça. Os olhos de águia o estudando. - O senhor deveria dar um desconto, Filipe está com dezesseis anos. Se bem me lembro, aquele teste, em particular, bem complicado...

- Eu decido se quero dar um desconto ou não ao meu filho. Não preciso dos seus conselhos quanto a isso. - Giancarlo retrucou audaz - E se bem me lembro, você tinha quatorze quando realizou e foi bem sucedido.... De primeira.

Yibo tentou conter um sorriso. Primeiro porque o último tom empregado pelo tio era quase de orgulho. Segundo, porque, por vezes desconfiara que Giancarlo comparasse os dois. Ele e o filho. E com aquele último comentário tinha certeza. Seu sorriso presunçoso se abriu um pouco mais. Em comparação com Felipe, ele sempre sairia vitorioso.

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