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Narradora

- O prazo seria de dez meses?- Any perguntou, encarando o senhor à sua frente.

O homem careca e de barba branca assentiu, ajeitando a gravata azul. - É um prazo relativamente pequeno para o tamanho da obra.

- Mas, infelizmente, esse é o tempo que eu tenho, senhorita Soares. Já é de seu conhecimento que eu e seu pai éramos muito próximos. A Soares é a empresa responsável por todas as minhas obras já há 25 anos, desde quando o Carlos era ainda o responsável pela presidência, e eu confio muito em vocês. É por isso que eu sei que, com o meu investimento e o
trabalho da sua empresa, eu terei meu condomínio pronto em dez meses.

-Fico feliz de que o senhor tenha nos procurado, Sr. Franco. O prazo é de fato apertado para uma obra tão grande, mas eu vou colocar meus melhores profissionais nisso e eu mesma estarei fazendo a fiscalização.

-É ótimo fazer negócio com você, senhorita Soares. Espero que nos encontremos logo. - Ele disse, levantando-se e estendendo a mão
para ela.

Any repetiu o gesto, apertando a mão dele e o homem saiu de seu escritório.

Não demorou para que Sina entrasse na sala.

Any estava olhando para a porta, com os olhos cerrados e um olhar de pura irritação.

- Nossa, eu estou sentindo o ódio saindo do seus olhos e tentando me atravessar.-Sina disse e Any suspirou.

-Eu odeio esse cara. Ele acha que só porque tem dinheiro manda no mundo inteiro.-Reclamou, encarando a amiga e Sina riu.

- Você fala isso sempre que ele vem aqui.

-Falo. Mas dessa vez ele extrapolou. Ele quer que eu construa um condomínio em dez meses. Dez meses, Sina-Ela enfatizou, bufando de raiva.

Sina atravessou a sala, pegando um copo e servindo de água. Voltou para a mesa da amiga e se sentou de frente para ela, entregando-a a bebida.

- Se acalma, ok? - Pediu e a amiga assentiu, bebendo a água.-Você é uma profissional muito boa e você vai dar conta disso.

- Você pode pedir ao Noah para ele marcar uma reunião? - Perguntou e Sina assentiu. - Eu quero os melhores e mais competentes funcionários nisso.

- Ok. Pode ser amanhã? - Any assentiu, enquanto Sina digitava algo em seu tablet. - Pronto, avisei ele.

- Obrigada. Agora, eu tenho outro assunto para tratar com você. -Sina arqueou as sobrancelhas, colocando o tablet sobre a mesa da amiga e Any a encarou, séria.

-Não gosto quando me olha assim. -Falou e Any deu um pequeno sorriso.

- Não é nada de mais, se acalma.-A morena abriu a gaveta e tirou de lá uma pasta verde, estendendo-o para a amiga. Sina franziu o cenho ao ler o nome da faculdade na capa. - Eu tomei a liberdade de ligar para a sua faculdade. Esse seria seu horário esse período. Você estudaria pela manhã e estagiaria a tarde, aqui na empresa mesmo.

-Any, nós já conversamos sobre isso.

- Conversamos mesmo, há cinco anos atrás quando o Enzo ainda era uma criança muito dependente de você. Seu filho é um garotinho lindo de oito ans agora e você pode seguir sua vida, Sina. - Sina suspirou, encarando o papel em suas mãos.

Ela e Any haviam se conhecido na faculdade. Ela cursava arquitetura e estava um período a frente da amiga.

Ela engravidara no terceiro ano de curso. O pai de Enzo nunca ajudara com o menino e a família dela não dera nenhuma assistência.

Sina trancara a faculdade, arrumara um emprego na Soares, com a ajuda de Any, e vivera os anos que se seguiram em prol de seu menino.

-Você sabe que eu amo te ter como minha assistente. Você me conhece como ninguém e sabe exatamente a forma como eu gosto das coisas por aqui. Mas eu adoraria abrir mão da minha assistente se isso significasse que ela se tornaria parte do meu time de arquitetura.

- Eu não sei não, Any. Eu iria amar ser arquiteta, mas as coisas são muito mais complicadas desde que eu tive Enzo.

- E você tem ajuda. Eu estou aqui para te ajudar, e não é me gabando não, mas seu filho me ama. Noah está aqui também e nós nunca vamos te deixar sozinha. - Sina suspirou e sorriu grande.

- Tudo bem, eu prometo que vou tentar.

- Essa é a minha melhor amiga. - Any disse, brincando com o chaveiro que ficava junto a chave de seu carro. - Eu não estou dizendo que
eu acho errado que você tenha largado tudo para cuidar do seu menino. Acho muito nobre, na verdade. É um amor gigante, que eu ainda espero experimentar. Mas o que eu quero dizer é que você não está sozinha nessa caminhada. Eu estou aqui para te ajudar e Enzo vai morrer de orgulho da mãe dele daqui uns anos.

- Eu tenho muita sorte de ter você. -Sina falou, sorrindo.

Any sorriu também, rodando o chaveiro em seus dedos.-Será que dá para parar de rodar essa coisa na sua mão? -Perguntou, irritada, ao ver a amiga rodando o chaveiro.

Any riu, achando graça de como a amiga ficava irritada com movimentos repetitivos.

- Está te incomodando? - Ela falou, ainda rodando o chaveiro,dessa vez por implicância.

-Para com isso, Any. -Sina reclamou, pegando o chaveiro da mão da amiga, que riu.

Ela olhou por alguns segundos o pequeno coração de feltro em suas mãos. Ele estava surrado, cheio de bolinhas. - Não entendo o que você tem com esse chaveiro.

- Nem eu entendo.-Confessou e Sina franziu o cenho.

-Como assim? Eu achava que existia toda uma história por trás desse chaveiro.

- Deve existir, mas eu não lembro. -Sina levantou as sobrancelhas, curiosa.

Any nunca havia falado sobre aquele chaveiro que ela carregava para cima e para baixo.

-No dia que meu pai morreu eu fui para um bar. Eu bebi um pouco, e você sabe como minha memória fica comprometida quando eu bebo. Eu sei que eu acordei no outro dia, me sentindo completamente em paz e com esse chaveiro no meu criado-mudo.

- Você não se lembra de nada?

-Lembro que tinha alguém comigo e que nós conversamos um pouco, mas não consigo me lembrar do rosto e nem o nome dele.

- Era um homem?! - Perguntou, rindo e Any revirou os olhos, assentindo. -Disso você se lembra, né, sua safada?

-Larga de ser ridícula, Sina. - Sina riu da cara de irritação da amiga e negou, entregando o chaveiro para a amiga.

- Eu não sei quem ele é, mas eu sei que, naquela noite, ele foi um anjo na minha vida e eu só queria poder me lembrar dele para agradecer por, de certa forma, ele ter mudado um pouquinho a minha vida.

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Amável Megera!! ❤️ Where stories live. Discover now